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Quando pensamento e ação se ligam

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Sócrates tinha um domínio de si à toda prova. Certo dia, um contraditor, sem argumentos, dá uma bofetada em Sócrates, que responde: “É aborrecido não saber quando pôr um capacete antes de sair”.

O processo de Sócrates não é apenas acontecimento histórico, é o processo movido ao pensamento que investiga os problemas verdadeiros. Sócrates proíbe-nos de pensar sobre hábitos adquiridos. Longe de ser aquele que corrompe a juventude, o incomparável pensador é aquele que a educa, aquele que procura fazer-lhe compreender que não é o homem, e sim Deus, a medida de todas as coisas.

Se a existência de Sócrates escapa à História, afirma Kierkegaard, é porque foi um homem existente, e não um professor que especulava sobre conceitos abstratos. Assim como Sócrates não pode ser integrado em nenhum esquema analítico, não se pode senão representá-lo, para logo torná-lo concreto.

Para Sócrates, o conhecimento de si mesmo pode afastar de uma ilusão sobre aptidões individuais. O conhecimento de si só tem significação e valor se desembocar sobre um conhecimento da pessoa que ultrapassa a individualidade, na medida em que leva a meditar sobre a alma, portanto sobre o bem.

Percebo as pessoas, as situações e as coisas chegando perto delas. A aproximação do respeito é um movimento que guarda distância. Não me aproximo para descobrir uma utilidade nem um benefício. Uma vez que me aproximei de algum outro – pessoa ou coisa – de fato é mais este que atua em mim.

O ser humano é duplo – por um lado, ser biológico impelido por desejos, paixões e necessidades; por outro, ser social que só pode esperar alcançar uma satisfação pessoal se moderar suas pulsões e respeitar os valores que nele ressoam, dos quais sente não ser o autor, mas que constituem sua individualidade.

A oportunidade que os indivíduos têm hoje de ir em busca da realização de anseios pessoais, predominantemente com base em suas próprias decisões, envolve um tipo especial de risco. De fato, na sociedade contemporânea, a maior liberdade de escolha e os riscos maiores andam de mãos dadas.

Cada fase posterior do processo de desenvolvimento atravessada por um indivíduo pressupõe uma sequência contínua dos estágios precedentes. A continuidade do processo de desenvolvimento é uma das precondições para a identidade de uma pessoa no correr de um processo que se estende por anos.

Quando pensamento e ação se ligam, lembra Sócrates, somos perfeitamente capazes de estabelecer elevado grau de correspondência entre nossas ideias e expectativas sobre os fatos. Pode uma pessoa chegar a uma concepção das relações, especialmente das relações regulares e necessárias com outras.

As pessoas só podem conviver harmoniosamente em sociedade quando suas necessidades e metas socialmente formadas, na condição de indivíduos, conseguem chegar a um alto nível de realização; e o alto nível de realização individual só pode ser atingido quando a estrutura social formada e mantida pelas ações dos próprios indivíduos não levar constantemente a tensões destrutivas nos grupos.

Hoje, a adaptação dos indivíduos às crescentes exigências de uma sociedade organizada em rede fica basicamente entregue ao acaso, ou a procedimentos padronizados tidos como certos. É pequena a capacidade de modelar necessidades e objetivos individuais, pela educação, com a divisão social de funções.

* Engenheiro