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O Museu Nacional vive

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O Museu Nacional foi criado em 1818 como sinal da disposição da Coroa Portuguesa em se comprometer com o desenvolvimento científico, promotor do progresso da nação. É, assim, a mais antiga instituição nacional dedicada à ciência geral. Em 1892 passou a ocupar o antigo Paço Imperial de São Cristóvão – também sede da primeira Assembleia Constituinte republicana –, representando a união de valiosos bens e de importantes referências da história ao abrigar, num mesmo espaço, história política, artística e científica.

Conforme crescia o interesse pelos elementos da história natural do Brasil e se abriam as fronteiras da nação, as grandes expedições de exploração começaram a cobrir nosso território. Parte do material coletado destinava-se à instituição, que se firmou paulatinamente no cenário científico mundial como importante centro de pesquisas, estabelecendo-se como parceiro dos grandes museus de história natural do mundo. Nas últimas décadas do século 19 firmou-se como um viveiro de iniciativas culturais e científicas, centro dos debates veementes que se travavam, por exemplo, a respeito da teoria da evolução. Passou a contar com cursos públicos regulares e a dispor, a partir de 1876, de um veículo próprio de divulgação, os “Archivos do Museu Nacional”, a mais antiga publicação científica periódica do país.

Essa pujança só fez crescer no período republicano. Ali se desenvolveram pesquisas e se desencadearam debates essenciais para a história nacional, como o da revisão do determinismo racista e o da urgência da extensão da educação nacional, pelas mãos dedicadas do ex-diretor Roquette Pinto. Não por acaso, nesse período, manteve-se o museu como um foco necessário para as visitas de personalidades ilustres da ciência universal, como Albert Einstein, Santos Dumont e Marie Curie.

Em 1946, o museu foi integrado à então Universidade do Brasil, passando a dispor de uma estrutura organizacional de molde universitário, sobretudo a partir da Reforma Universitária que marcou a transformação da Universidade do Brasil (UB) em UFRJ. As atividades acadêmicas são hoje desenvolvidas no âmbito de seis departamentos (Antropologia, Botânica, Entomologia, Geologia e Paleontologia, Invertebrados e Vertebrados), onde se encontram as coleções científicas constituídas desde o início do século 19, além de laboratórios e gabinetes de pesquisa e cursos de pós-graduação.

Dois meses depois de ser comemorado o bicentenário do museu e poucos dias antes da comemoração do 196º aniversário da Independência do Brasil, na noite de 2 de setembro de 2018, um dos mais significativos monumentos históricos brasileiros e boa parte de seu inestimável patrimônio arderam em chamas. O efeito devastador do fogo transcendeu as fronteiras nacionais. Não apenas o Brasil perdeu parte de sua história, representada pelo acervo riquíssimo em arte e ciência, outras nações e outros povos também foram afetados com a perda de tesouros relacionados à sua identidade e desenvolvimento.

Diante do caos e da dor que se abateram sobre a instituição e seus funcionários, inúmeras foram as manifestações de pesar e solidariedade. Dentre os apoios recebidos, destaca-se a rápida resposta do MEC, com a disponibilização de R$ 10 milhões para ações emergenciais, visando à estabilização do prédio. A bancada dos deputados federais do Rio de Janeiro também se comprometeu com emendas pessoais e de bancada, objetivando a reestruturação da instituição.

No Museu Nacional se produz conhecimento e educação nos mais diferentes níveis. As atividades acadêmicas e de extensão são intensas. Seus pesquisadores atuam fortemente nos programas de pós-graduação, formando capital humano para o futuro do país em várias áreas do conhecimento, da biodiversidade às ciências sociais – o que é a garantia de uma recuperação de parte do acervo da instituição com o contínuo desenvolvimento de novos estudos. Seus alunos nucleiam diversos centros de pesquisa e realizam parcerias internacionais, procurando contribuir para o desenvolvimento do país. Além disso, há programas específicos voltados para o ensino básico, envolvendo, ressalte-se, o mais antigo Setor de Assistência ao Ensino em museus existente no país, possibilitando aos jovens alunos que expandam seus horizontes e tenham despertado em si o apreço pela Ciência.

Sinto a imensa dor, que é a de todos, pelo desastre do Palácio de São Cristóvão. Mas tenho muito orgulho de ser o diretor do Museu Nacional; de uma instituição que vai começando a ser reconstruída, para a grandeza do terceiro século de existência que se inicia. O Museu Nacional vive!

* Diretor do Museu Nacional

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