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Um Brasil para todos

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O Brasil sempre foi conhecido por ser o país mais desigual do continente mais desigual do mundo. Título que deixou de ostentar nos primeiros anos deste século.

Há alguns anos, uma campanha do PP – o partido da direita daquele país, neofranquista – na Catalunha, tinha como lema “Não há para todos”. Hipócrita e sincera. Apontava, antes de tudo, para os imigrantes, dizendo que não haveria lugar para eles. A Europa se fechava, como fortaleza, se sentindo de novo atacada pelos bárbaros. Esta vez não os louros da Escandinávia, mas os negros da África, explorada e escravizada pela própria Europa.

Estamos de novo sob a ameaça concreta de termos governo que, já formalmente, governaria para sua elite. Os discursos de discriminação de mulheres, negros, LGBTs, índios, quilombolas, jovens, são claros de que, se governar, governará para uma elite. A forma de se referir ao Nordeste também supõe que governaria o Centro-Sul contra o Nordeste e os nordestinos.

Seria cancelar os avanços de inclusão social realizados neste século, assim formalizando um Brasil para poucos: para os brancos, os adultos, os de alto nível de renda, os do Centro-Sul. Seria retomar nossa triste fama de país mais desigual do continente mais desigual, seria voltar ao Mapa da Fome, do qual saímos com grande esforço.

O mecanismo que impulsiona esse possível retorno ao pior elemento do nosso passado está no fundamentalismo evangélico, impulsionado por estúpido mecanismo de fake news, propagada por máquina gigantesca de robôs. Mas há muita outra gente que também entra na onda dessa candidatura, por hostilidade ao PT, como se este não tivesse protagonizado o governo mais virtuoso da história do Brasil, em que todos ganharam, em que o país viveu um clima pleno de democracia, em que não houve restrição da liberdade de expressão, em que o prestígio do país no exterior nunca foi tão grande, em que o Estado brasileiro recuperou sua legitimidade e seu prestígio. Basta dizer que Lula saiu do seu segundo mandato com 87% de apoio. Isso mesmo, tendo a mídia contra, com 87% de apoio.

Foi um tempo de consenso nacional de que o principal problema do país é a desigualdade social, que a distribuição de renda impulsiona o crescimento da economia e a inclusão social. Um tempo em que se discutia sem violência, sem excluir a ninguém dos debates. Um tempo em que os bancos públicos promoviam as políticas sociais e cresciam como nunca, com juros mais baixos que os bancos comerciais. Um tempo em que a economia brasileira passou a ser a quinta do mundo.

Se pinta, a posteriori, uma visão totalmente falsa do que foi o governo do PT. Gastos excessivos? Nunca houve tanto equilíbrio nas contas públicas. Inflação? A economica cresceu sem inflação. Desemprego? No fim do governo de Dilma havia, pela primeira vez, desemprego zero.

O antipetismo é um sentimento cego diante do que foi realmente o Brasil neste século. Um sentimento de raiva da ascensão social daqueles anos, quando deveria haver alegria por ter deixado de existirem famílias morando nas ruas, crianças vendendo balas nas esquinas. Em que pobres podiam viajar de avião para visitar seus parentes ou para passear.

Essa melhoria das condições de vida da massa mais pobre da população tem a ver com a reação extremada de setores da população, de uma espécie de revanche contra os pobres. Ninguém ganha nada ao tirar Bolsa Família de milhões de famílias. Mas para essas famílias pode significar o leite diário para as crianças.

O egoísmo de setores raivosos da população pode levar o Brasil a um tempo obscuro, de violência organizada contra quem pensa diferente, de prisões, torturas, governos que pregam a discriminação das mulheres, dos negros, dos LGBTs, dos idosos, dos índios, dos quilombolas. Pode significar governos para os ricos e abandono para a massa da população.

* Sociólogo

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