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Olhos arregalados com o resultado das urnas

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De tempos em tempos, a população brasileira sai do sério e prega uma peça nas autoridades, nos observadores e, sobretudo, nos institutos de pesquisa. Só para efeito de comparação, antes das eleições promovidas pelo governo militar do presidente Ernesto Geisel, em 1974, todas as informações coincidiam na previsão de vitória fácil do governo. Tão fácil que o partido de oposição, chamado MDB, chegou a cogitar, a sério, de se autodissolver. Abertas as urnas, os olhos ficaram arregalados. A oposição elegera 16 dos 22 senadores. E fez um enorme estrago na Câmara Federal.

A eleição de domingo passado teve a mesma característica. Deixou os observadores de queixo caído e olhos arregalados. Jornalistas que na véspera garantiram com a tradicional soberba que a renovação no Congresso seria mínima tiveram que enfrentar dolorosa autocrítica. Os institutos de opinião pública se esconderam debaixo de argumentos ridículos. Não conseguem explicar como candidatos que não frequentavam a lista dos melhores apareceram nos primeiros lugares. E os campeões de véspera foram os derrotados no dia da eleição. Na verdade, as pesquisas estiveram no mesmo nível das previsões de cartomantes.

Na sessão que decidiu o impeachment, o ministro Ricardo Lewandowski modificou o texto da Constituição. Permitiu que Dilma Rousseff não perdesse seus direitos políticos, embora seu mandato tenha sido cassado. Decisão esquisita, que permitiu à ex-presidente se candidatar ao Senado em Minas Gerais. Passou toda a campanha em primeiro lugar nas pesquisas. Depois da eleição descobriu-se em quarto lugar. Fiasco geral. O povo mineiro corrigiu a liberalidade jurídica do ministro. E acabou com a narrativa do golpe.

Aquela foi apenas uma de muitas surpresas. Ocorreu o fim do clã dos Sarney, no Maranhão. Em Brasília, o outrora poderoso Cristovam Buarque, no alto de sua sapiência, jogou parado, esperou que os eleitores o carregassem no altar das preferências locais. Foi esquecido. No Rio de Janeiro surgiu um candidato que ninguém conhece, ex-juiz federal, que despontou em primeiro lugar e ultrapassou Eduardo Paes com facilidade. O mesmo fenômeno ocorreu em Minas Gerais. Surgiu um nome novo, empresário de Araxá, que tirou Fernando Pimentel do segundo lugar e contornou Antonio Anastasia.

Jair Bolsonaro agiu sozinho, sem marqueteiro, nem grande assessoria. Gastou pouco e utilizou à farta as redes sociais. Por causa da facada não compareceu, por recomendação médica, aos debates nas emissoras de televisão. Quem teve tempo de TV não o utilizou bem, mesmo porque esta foi a eleição das redes sociais. E o ex-presidente Lula, com sua intransigência, ajudou a criar o maior partido político do Brasil: o antipetismo.

Fernando Haddad terá dificuldades para fazer composições em torno de sua candidatura. Lula, afinal, deve se recolher à condição de condenado. As novas pesquisas vão balançar o cenário político e econômico. Acredite nos institutos de opinião quem quiser. Embora na eleição de um contra outro seja mais fácil pesquisar a opinião do eleitor, mesmo depois de conhecido o tremendo mal humor professado contra partidos e os políticos em geral. Indicações políticas têm pouco poder de conduzir o eleitorado.

Agora o momento é outro. Difícil opção. Escolha de Sofia. Nenhum dos dois candidatos quer alardear projetos. Só há promessas genéricas. E especulação no mercado financeiro. O jogo, aparentemente, está jogado. A maioria não quer o Partido dos Trabalhadores no poder. Mas terá que reafirmar sua decisão por intermédio do voto em Bolsonaro no segundo turno. Este, por sua vez, só precisa continuar a tocar sua campanha sem banda de música nem marqueteiro. Se não falar bobagens, chegará com facilidade à maioria absoluta. Olhos arregalados e queixos caídos. Outro tempo.

* Jornalista