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Empoderar para conquistar

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No último fim de semana, as manifestações de milhares de mulheres por diversas cidades do Brasil e do exterior transmitiram, em uníssono, um recado impactante: o empoderamento delas é um caminho sem volta.

A voz das brasileiras também ecoa no campo, em diversas frentes.

De 1º a 15 de outubro, a FAO, em conjunto com a ONU-Mulheres e outras entidades governamentais, se engaja na campanha “pela autonomia total das mulheres rurais”, que pretende reconhecer o papel delas como agentes essenciais no desenvolvimento da sociedade.

As mulheres rurais, além de vulneráveis à violência de gênero, têm dificuldades de acesso à terra para gerar sua própria renda e poucas oportunidades de participar na tomada de decisões que afetam suas vidas, suas famílias e suas comunidades.

Para se ter ideia do comprometimento e dedicação da mulher rural, cerca de 90% do que elas lucram no campo é reinvestido na educação e no bem-estar da família. Além da justiça social, o empoderamento feminino pode representar um aumento de 30% na produção agrícola e garantir a segurança alimentar do planeta.

Sabe-se que as mulheres rurais são responsáveis por importante parte da produção de alimentos no Brasil, assim como na maioria dos países em desenvolvimento. E o trabalho delas continua do campo para uma segunda árdua jornada dentro das suas casas. Enquanto elas trabalham cerca de 12 horas semanais a mais do que os homens, somente 20% delas são proprietárias das terras onde atuam.

As evidências mostram que quando as mulheres têm a mesma autonomia que os homens, os recursos naturais são melhor administrados, as fazendas são mais produtivas e a nutrição da família melhora.

Na semana passada, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, a FAO lançou, juntamente com a União Africana, um relatório que alertou para a necessidade de se desenvolver melhores políticas de planejamento e programas mais adequados de monitoramento para reduzirmos as diferenças de gênero no setor agrícola africano.

Em alguns países do continente africano, as mulheres representam 60% da força de trabalho. Elas são as principais responsáveis pelas atividades agrícolas, como cultivo de hortaliças, criação de pequenos ruminantes, como ovelhas e cabras. As mulheres também são responsáveis por alimentar a família e preparar as refeições.

Segundo as estimativas da FAO, eliminar as disparidades de gênero aumentaria a produção e o consumo de alimentos em quase 10% e reduziria a pobreza em cerca de 13%.

O empoderamento das mulheres na agricultura, nas cadeias de valor e no comércio, também contribuirá para combater a fome, a desnutrição e a pobreza.

Nesta semana, o Conselho de Direitos Humanos aprovou, em Genebra, declaração em favor dos direitos dos camponeses e camponesas. Essa resolução, ainda a ser referendada pela Assembleia Geral da ONU, terá uma grande e positiva dimensão no empoderamento feminino, que à luz do texto aprovado põe em plena igualdade “o direito à vida e padrões de vida adequados, o direito à terra, às sementes, à informação e à justiça” de mulheres e homens no campo.

Em sua governança, a FAO reconhece a importância da igualdade de gênero e o empoderamento feminino. Seguimos lutando também por uma melhor representação nos processos de tomada de decisão.

Nesse contexto, é com orgulho que agradeço o reconhecimento da ONU Mulheres sobre o trabalho da FAO no estreitamento das lacunas de gênero. Em 2017, a FAO superou 93% dos indicadores de desempenho estabelecidos pelo Plano de Ação das Nações Unidas sobre Igualdade de Gênero e Empoderamento das Mulheres. Atualmente, no cômputo total de nossos funcionários (entre postos profissionais e consultores), 55% já são mulheres.

Quando elas têm também o poder de decidir – no campo, na vida e nos rumos políticos de uma democracia – toda a sociedade se beneficia.

* Diretor-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura)

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