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Eleições gerais

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Estamos a horas do início das eleições gerais no Brasil. Pelo que as pesquisas indicam, esgota-se nestas eleições o confronto nacional PT x PSDB, que vem ocorrendo há 24 anos desde 1994. Desta vez tudo indica que o PT vai para o 2º turno, enfrentando agora não mais a centro–direita, mas uma extrema-direita profundamente reacionária e anacrônica.
É hora de se escolher, portanto, entre uma proposta progressista, que valoriza a democracia e a liberdade, e outra plena de preconceitos, autoritarismo e de um liberalismo inconsistente. O establishment e a grande mídia perderam o controle do processo eleitoral, pois, ansiosos por emplacar um projeto neoliberal a qualquer custo, acabaram dando um tiro no pé. Correm agora atrás de uma improvável terceira via com o Ciro que, mesmo não sendo o candidato ideal para eles, seria a alternativa possível.
Há possibilidade de a esquerda chegar novamente ao poder, pois o PT, num provável 2º turno, poderá ampliar apoios ao centro e à centro-esquerda. Será uma disputa dura, impossível hoje de se definir o resultado final. Esperemos que sua eventual vitória nas urnas no 2º turno seja assimilada pela direção do PT com humildade, de modo que não se aprofunde ainda mais a divisão e o esgarçamento da sociedade brasileira.
Mais do que nunca será essencial ouvir e respeitar os movimentos sociais, as outras correntes políticas, principalmente as do mesmo campo, evitando a hegemonização que esteriliza o debate crítico. E, principalmente, recuperar a superioridade moral doutrinária da esquerda sobre a direita, edificada histórica e filosoficamente na eliminação da opressão, da exploração e da injustiça.
A diferença fundamental que separa essas duas formas de interpretar o mundo é que a esquerda tem por orientação a relação humanista e solidária entre os povos e os cidadãos, enquanto a direita prioriza a ordem, a autoridade e a livre competição, sem garantir, na largada, oportunidades iguais para todos - mãe de todas as desigualdades sociais.
Hoje, questões essenciais unem todos os segmentos sociais, independentemente de suas preferências eleitorais: emprego para todos pela retomada do desenvolvimento; um sistema de saúde eficiente que atenda a população; escolas de qualidade que garantam o futuro para os jovens; políticas de segurança pública com base em serviços de inteligência que resolvam efetivamente a violência urbana, são pleitos de todos os eleitores a qualquer postulante aos cargos de presidente ou governador.
É importante também que os candidatos se posicionem sobre a degradação das cidades brasileiras em sua relação com seus habitantes, meio ambiente, patrimônio natural e edificado, que exigem novos métodos de governança na implementação de políticas públicas oriundas de um planejamento urbano, habitacional e ambiental socialmente inclusivo. Para um país continental e urbano como nosso, neste campo as prioridades são: implantação urgente de um grande programa integrado de saneamento básico para todos os municípios brasileiros; eficiente política habitacional que envolva crédito subsidiado para melhoria das moradias; criação de cooperativas populares; urbanização de favelas e loteamentos irregulares, com titulação de propriedade; assistência técnica profissional para as áreas de baixa renda.
Por fim, é importante a recuperação do Ministério das Cidades como o grande formulador das políticas integradas de desenvolvimento urbano e socioeconômico dos complexos territoriais regionais do Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste, nos moldes da velha Sudene, como desejava o saudoso Celso Furtado.
As eleições que começam amanhã não resolverão os problemas do pais, pois, qualquer que seja o resultado, ainda viveremos por algum tempo um quadro de grande tensões, mas o fundamental é que não haja retrocesso nos avanços democráticos que o povo brasileiro vem construindo com resiliência.

* Arquiteto e urbanista