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Coronavírus: número de garimpeiros em terra Yanomami quase alcança o de índios, alerta antropóloga

Invasão de garimpeiros, precarização da saúde e falta de controle da covid-19 provocaram expansão alarmante do coronavírus em Terra Yanomami, diz a antropóloga Majoi Gongora

Reuters / Adriano Machado -
Indígenas do povo Yanomami em Alto Alegre, Roraima
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Segundo relatório produzido por rede de pesquisadores e líderes Yanomami e Ye’kwana, a pandemia do coronavírus avançou 250% em três meses dentro da Terra Indígena Yanomami.

O documento, chamado "Xawara: rastros da covid-19 na Terra Indígena Yanomami e a omissão do Estado", indica que o número de casos confirmados no território pulou de 355 para 1.202 entre agosto e outubro.

Majoi Gongora, em entrevista à agência de notícias Sputnik Brasil, explica que vivem na maior reserva indígena do Brasil, localizada entre os estados de Roraima e Amazonas e parte da fronteira com a Venezuela, cerca de 26 mil Yanomami e 700 Ye’kwana. Essa população, que inclui grupos isolados, divide-se em cerca de 360 aldeias.

Um dos motivos da rápida expansão da covid-19 entre os indígenas é o grande número de garimpeiros que atuam na região, estimulados pela permissividade do atual governo com a atividade, denuncia a antropóloga.

"Estima-se em mais de 20 mil garimpeiros ilegais nas terras indígenas. Há muito tempo essa terra vem sofrendo com essa invasão. No entanto, nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro a gente vê uma flexibilização total das formas de prevenir e impedir a entrada dos garimpeiros. Esse número foi crescendo enormemente a partir do início de 2019", disse a pesquisadora da ONG Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana.

'Isso é assustador'
A antropóloga afirma que os invasores ajudam a espalhar a covid-19 entre os índios. Ela lembra que, no passado, a região também foi ocupada por não indígenas, que trouxeram um "ciclo de epidemias e doenças que está viva na memória" dos povos locais.

"A gente se preocupa enormemente com essa situação. A Terra Yanomami tem cerca de 27 mil pessoas. Hoje o número de garimpeiros está quase alcançando o número da população local. Isso é assustador", lamentou a especialista.

De acordo com levantamento da Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana, 23 indígenas morreram por COVID-19 ou suspeita da doença.

'Diminuição dos profissionais de saúde'
Gongora diz ainda que a "pandemia evidenciou problemas antigos" no território, com "precarização" do "atendimento de saúde".

"Um dos aspectos que tem sido mencionado é a diminuição do número de profissionais de saúde na terra indígena. Isso faz com que o quadro de funcionários que atuam nas comunidades, que compõem as chamadas equipes multidisciplinares de saúde indígena, seja insuficiente e afete a cobertura do atendimento, especialmente nas comunidades distantes dos polos base", explicou.

Segundo a antropóloga, os povos indígenas locais já viviam "aumento da mortalidade infantil, da malária e de doenças respiratórias". Com a chegada da pandemia no território, "um dos mais vulneráveis", um quadro que já era "frágil" mostrou "toda a sua ferida". (com agência Sputnik Brasil)