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Após 17 anos, Bolsonaro rompe tradição e enviará ministro para posse na Argentina

Osmar Terra, ministro da Cidadania, representará presidente

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Irritado com o resultado das urnas na Argentina, Jair Bolsonaro enviará o ministro da Cidadania, Osmar Terra, para representá-lo na posse do presidente eleito, Alberto Fernández, marcada para 10 de dezembro. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.

Com a ausência do mandatário brasileiro, essa será a primeira vez em 17 anos que um presidente brasileiro não participará da cerimônia no país vizinho, principal parceiro comercial do Brasil na América do Sul.

Em 2002, o então presidente Fernando Henrique Cardoso não compareceu à posse de Eduardo Duhalde, nomeado pelo Congresso Nacional após a renúncia de Adolfo Rodríguez Saá.

Nos anos anteriores, no entanto, o tucano marcou presença nas cerimônias de Fernando de la Rúa, em 1999, e de Carlos Menem, em 1995.

Duhalde assumiu na esteira da renúncia de la Rúa, sucedido durante oito dias por Saá, após uma das maiores crises econômicas e sociais da Argentina.

Ele deixou a Casa Rosada, na época, de helicóptero, em meio a um aumento da dívida externa argentina e pressionado por um movimento social que causou 39 mortes e deixou mais de 400 feridos.

O jornal argentino Clarín havia publicado que o vice-presidente Hamilton Mourão representaria Bolsonaro na Argentina, mas, em conversa com a Folha, nesta quarta-feira (6), ele negou que estaria na posse e afirmou que o ministro será enviado.

“Fake news. Não sei de onde saiu isso aí. O presidente vai escalar o ministro Osmar Terra quando chegar o convite”, disse.

De acordo com relatos feitos à Folha, além de Mourão, o chanceler Ernesto Araújo também foi cogitado para representar Bolsonaro, mas o presidente desistiu porque o chanceler comparou, em entrevista à mídia local, Fernández a uma matrioska, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dentro.

O Palácio do Planalto, então, optou por Terra. Gaúcho, o ministro construiu a sua carreira na fronteira entre os dois países, militou na esquerda na juventude e morou em Buenos Aires durante o período da ditadura militar brasileira. Em junho, viajou à Argentina para participar de reunião no âmbito do Mercosul.

Após a vitória do argentino, Bolsonaro afirmou que não iria a Buenos Aires para a cerimônia nem cumprimentou Fernández, diferentemente dos presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e do Chile, Sebastián Piñera, aliados do brasileiro e identificados com a direita.

Nesta quarta, a Comissão de Relações Exteriores da Câmara, comandada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), aprovou uma moção de repúdio contra Fernández.

A proposta argumenta que o argentino, ao defender a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que seria um “preso político”, questiona a Justiça brasileira e a lisura do sistema judicial do país.

Fernández é aliado de Lula e, ainda candidato, o visitou na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. No dia em que foi eleito, voltou a pedir a libertação do brasileiro e publicou foto nas redes sociais fazendo um “L” com a mão, símbolo do movimento Lula Livre.

Para se converter numa censura formal da Câmara dos Deputados, o requerimento ainda precisa ser analisado pelo plenário da Casa.