“Lula livre!”, gritou alguém na plateia do cinema quando as luzes se apagaram antes do começo do documentário do MBL sobre o impeachment de Dilma Rousseff, nesta segunda-feira (2) num shopping do bairro do Morumbi, zona sul de São Paulo. Era uma piada, obviamente, e muita gente riu alto.
Ao fim da sessão, já madrugada de terça (3), outro berrou “Fora, Bolsonaro!”, ao que um terceiro complementou: “Mais um! [impeachment]”. Também era uma piada, mas desta vez menos escancarada.
Assim, nesse clima meio de diretório acadêmico, o movimento que se mobilizou pelo apoio ao afastamento da presidente petista entre 2014 e 2016 lançou seu documentário sobre o evento. “Não Vai Ter Golpe” começa com as ironias desde o nome, pegando emprestado da esquerda seu grito de guerra fracassado. Na visão do MBL, não houve golpe porque o processo seguiu os trâmites constitucionais.
A première reuniu a direção do movimento, os mesmos moleques que causaram impacto ao surgir no cenário nacional quando as manifestações de camisas amarelas começaram, agora apenas um pouco menos imberbes. Estavam lá os parlamentares do MBL –Kim Kataguiri, Fernando Holiday, Arthur "Mamãe Falei" do Val– e os irmãos Alexandre e Renan Santos, entre outros.
Alexandre dirige o filme, feito com a estrutura própria do movimento, e a um custo estimado em R$ 300 mil. É uma colagem de imagens captadas no auge das manifestações, entremeadas por depoimentos, que dão ao documentário um caráter semiestudantil, o que não é de todo ruim, dadas as raízes do MBL.
Prestigiaram o lançamento do filme, entre outros, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, ex-deputado que deu o voto crucial para o afastamento de Dilma, e o emedebista Darcísio Perondi (RS), além do ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM) e do secretário de Cultura do Estado de São Paulo, Sérgio Sá Leitão.
Fiel a sua raiz liberal, o MBL aproveitou a chance para tentar faturar. Armou uma banquinha para vender canecas e camisetas a R$ 50, algumas com a inscrição “Esse Impeachment é Meu”. Mas não se furtou a pedir respeito aos direitos autorais da obra, o que, para alguns liberais, é um contrassenso.
“Deus está vendo você filmando com o celular para piratear!”, provocou Kataguiri antes de a sessão começar. “Livre mercado!”, devolveu alguém na plateia.
Com cinco anos de idade, o MBL está numa fase de transição, hoje praticamente um inimigo do bolsonarismo e num processo de autocrítica sobre seu papel na polarização no país.
Alexandre, ao final da projeção, alfinetou grupos que querem enfraquecer as instituições, num rápido discurso. “Existe uma parte da direita, talvez pequena, que quer fazer as coisas direito”, disse.
O documentário agora começa a ser exibido em plataformas de video on demand.(Fábio Zanini/FolhaPress SNG)