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Em feira agro, ruralistas celebram autoestima renovada com Bolsonaro

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"Ser agro é bom", diz um adesivo que circulou nesta semana na Agrishow, feira de máquinas em Ribeirão Preto (SP) que é um dos grandes eventos do calendário rural do ano.
Em meio à exposição de colheitadeiras que parecem naves espaciais, helicópteros decolando a todo momento com milionários do setor e multidões de homens e mulheres de chapéu e bota, o setor rural parece estar recuperando sua autoestima agora que tem um aliado inconteste na Presidência da República.
"O Brasil passou por uma fase complicada, onde nos desindustrializamos. O que manteve o país foi o agronegócio. Foi o que salvou o Brasil", diz o usineiro Maurílio Biagi Filho, 77, presidente de honra da feira.
Decano dos usineiros da região, Biagi diz que os ruralistas ficaram para trás na batalha de comunicação. "O setor perdeu essa guerra. Tem muita entidade, tantas que você não consegue nem citar ao iniciar um evento. Mas faltam lideranças", diz.
Ele, que já foi bastante próximo do PT e do governo Lula, hoje enxerga um novo ciclo positivo se iniciando com Jair Bolsonaro (PSL). "O presidente Lula dava importância grande ao setor, mas não tinha segurança jurídica. O discurso era diferente da prática", afirma.
Apesar de algumas rusgas neste início de governo, o campo segue firme no apoio a Bolsonaro. O presidente esteve na abertura da feira, na última segunda (29), e foi aplaudido de forma efusiva. Do lado de fora, manifestantes o tietavam debaixo de sol forte.
Eram ligados ao Movimento Brasil Limpo (não confundir com MBL), um grupo regional que inflou um bonecão de Bolsonaro de 17 metros de altura na beira da estrada que leva ao parque de exposições.
"Para o setor rural a presença dele aqui é muito importante, mostra que temos um aliado", disse Edilene Oliveira, uma das integrantes do movimento. Para ela, o que mais reverberou na fala do presidente na abertura da exposição foi a defesa de que produtores rurais possam reagir a invasores sem risco de serem processados.
"A principal questão para nós é a segurança no campo. Não adianta ter equipamento, semente, plantio, sem segurança", diz Oliveira, cuja madrinha de 70 anos teve o sítio invadido em Santa Rita do Passa Quatro (SP) há alguns anos por bandidos armados, que a amarraram e agrediram.
A feira, que se encerra nesta sexta (3), tem previsão de negócios em torno de R$ 3 bilhões, crescimento de 7% sobre o ano passado. Mas apesar dos números positivos, os ruralistas se queixam de que por muito tempo foram caracterizados como vilões, especialmente nas questões ambientais e trabalhistas.
Isso pode estar mudando. "O otimismo do setor está alto. É um governo pró-empresas, pró-mercado, pró-trabalho", diz Marcos Fava Neves, professor especializado em agronegócio da USP e da FGV.
O carro-chefe da feira são imensas máquinas agrícolas que ficam expostas em estandes igualmente gigantescos, alguns do tamanho de supermercados, com salas, espaço para café e mezanino.
Plantadoras, colheitadeiras, fumigadoras e tratores fazem a alegria de visitantes. Casais fazem selfies, e crianças transformam as geringonças, algumas com custo perto de R$ 1 milhão, em brinquedos de playground.
Rodrigo Bonato, diretor vendas no Brasil da John Deere, empresa americana de máquinas fundada em 1837, projeta 20% de aumento de vendas neste ano sobre 2018.
"As bases do nosso segmento estão muito sólidas, e o governo vem demonstrando que está preocupado com o setor", diz ele. Falta apenas, na visão de Bonato, maior previsibilidade para o campo. O Plano Safra, por exemplo, tem regras diferentes todo ano. "Há uma ansiedade do produtor rural. É preciso criar uma ponte para daqui a dois, três, cinco anos", defende.
Mas foi-se o tempo, segundo ele, em que o discurso do agronegócio era o de pedir proteção do governo contra a concorrência. "O segmento do agro evoluiu muito nos últimos anos, sabe que tem que competir num ambiente global. O setor hoje tem uma visão de gestão empresarial, investe muito em novas ferramentas".
Outro pedaço do agronegócio que vê o cenário com otimismo é o dos agrotóxicos (ou, no termo preferido do campo, defensivos agrícolas). A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, é, afinal, defensora de novas regras que facilitam o uso desses produtos, o que lhe valeu a alcunha de "musa do veneno" de ambientalistas.
Márcio Santos, diretor-comercial da Bayer, uma das principais empresas do setor de defensivos no Brasil, afirma que o lema hoje é ser "amigo do meio ambiente, mas amigo do produtor também".
"A agenda do agro é positiva. O agricultor que trabalha com nossos produtos é jovem, tem 45 anos em média, ensino superior completo. Quer uma sociedade mais sustentável, que produza mais com menos recursos", diz.
Ele diz que a imagem do setor agrário sofre os efeitos de um distanciamento muito repentino do Brasil com o campo. "O Brasil tornou-se urbano num espaço de 50 anos, é muito pouco tempo. Nós perdemos muito rápido a conexão com o setor rural", diz. Mas o agro, afirma ele, é resiliente. "Entorta, mas não quebra".