O procurador-geral da República, Henrique Fonseca de Araújo, pai do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo - escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro - dificultou, em 1978, a extradição de um nazista responsabilizado por 250 mil mortes entre 1942 e 1943. A revelação divulgada pelo jornal 'Folha de S. Paulo' ontem diz ainda que o procurador foi escolhido para o cargo pelo então presidente Ernesto Geisel, e deu pareceres negativos à extradição de Gustav Franz Wagner.
Morto em 1996, o pai de Ernesto Araújo analisou quatro pedidos de extradição do nazista: da Polônia, onde estava o campo de Sobibor; da Áustria, país natal de Wagner; da Alemanha, berço do nazismo; e de Israel, Estado do povo judeu, as principais vítimas do Holocausto.
Wagner era o subcomandante do campo de concentração de Sobibor. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o nazista fugiu para evitar ser capturado, mas foi descoberto no Brasil em 1978 pelo famoso caçador de nazistas Simon Wiesenthal, que contou com a ajuda do jornalista Mario Chimanovitch.
Mario publicou uma reportagem no Jornal do Brasil afirmando que Wiesenthal havia reconhecido Wagner em uma fotografia onde comemora o aniversário de Adolf Hitler no Hotel Tyll, em Itatiaia (RJ). A reportagem, entretanto, tratava-se de uma estratégia para que o nazista fosse capturado, porque ele não aparecia na foto. Wagner acabou se apresentando à polícia, temendo ser capturado pelo serviço secreto de Israel.
Com a demora do julgamento, Geisel deixou o poder, sendo substituído por João Figueiredo, assim como Henrique Araújo foi por Firmino Ferreira da Paz como procurador-geral, que deferiu o pedido, com a ressalva de que Wagner não poderia, na Alemanha, ser condenado à prisão perpétua ou à pena de morte. No máximo, ele seria condenado a 30 anos, de acordo com a legislação brasileira.
Em junho de 1979, entretanto, o STF indeferiu por maioria os pedidos de extradição, entendendo que os crimes de Wagner haviam prescrito. O ministro Carlos Thompson Flores, avô do atual presidente do Tribunal Regional da 4ª Região (TRF-4), Carlos Eduardo Thompson, esteve entre os votos contrários à extradição.
Desde que foi descoberto, Wagner tentou se suicidar várias vezes. Morreu em Atibaia, em 1980, com uma facada no coração - não se sabe se em decorrência de suicídio ou homicídio.
A 'Folha' revela ainda que o pai do general Ernesto Araújo também foi responsável por pareceres que indicavam a censura de livros, jornais e peças de teatro, como a montagem de Chico Buarque, "Calabar, o Elogio da Traição", vetada em 1974. Em outro caso, em 1977, já como procurador-geral, Henrique Araújo sugeriu a apreensão de um livro do escritor gaúcho Josué Guimarães.
Diferentemente do pai, Araújo filho agiu para viabilizar a recente extradição do italiano Cesare Battisti, condenado pela morte de quatro pessoas na Itália, nos anos 1970.