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Reação do Planalto ao Sínodo surpreende a Igreja

Ex-ministro do PT diz que monitorar bispos expõe Brasil ao ridículo

Antonio Cruz/ Agência Brasil -
O ministro do GSI, general Heleno, critica influência da Igreja e Ongs na floresta
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A Igreja Católica reagiu com surpresa à informação de que o Palácio do Planalto a vê como potencial opositora ao governo Jair Bolsonaro. Segundo reportagem do jornal "O Estado de S.Paulo", o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) estaria preocupado com a repercussão internacional de eventuais críticas a serem feitas pelo episcopado à política do governo para o meio ambiente. O foco de preocupação seria o Sínodo da Amazônia, previsto para outubro, em Roma.

Os organizadores do evento recordam o seu lançamento foi feito em outubro de 2017 pelo Papa Francisco, quando Bolsonaro não imaginava que seria presidente da República. "Não há a menor conotação político-partidária no Sínodo. Qualquer consideração que seja feita pelos bispos durante o evento terá como base as escutas territoriais dos povos. Esse é o apelo do Papa Francisco, que ouçamos o clamor dos povos e prestemos atenção às necessidades da amazonia", comenta a irmã Irene Lopes, assessora da Comissão Episcopal para Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), uma das organizadoras do Sínodo no Brasil.

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O ministro do GSI, general Heleno, critica influência da Igreja e Ongs na floresta (Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil)

Ela lembra inclusive, que as discussões extrapolam o Brasil já que contarão com a participação das conferências episcopais de nove países que integram a Rede Eclesial Pan-amazônica (Repam).

A irmã lembra ainda que o posicionamento da Igreja a respeito das questões ambientais e indígenas já estão colocadas no documento preparatório ao evento e na Encíclica Laudato Si, de Francisco, que trata do meio ambiente. "O Sínodo pretende verificar, a partir das escutas territoriais, como será possível preparar um futuro tranquilo para as novas gerações que vivem na Amazônia".

Liderança do PT com maior ligação com a Igreja Católica, o ex-ministro Gilberto Carvalho disse que a decisão do governo Bolsonaro de monitorar os bispos que vão participar do Sínodo da Amazônia expõe o Brasil ao "ridículo internacional". Segundo ele, é errado supor que a Igreja é um "braço do PT", como pretendem setores do governo. Para Carvalho, ao mirar nos bispos, o governo, que tem forte influência evangélica, estimula a divisão religiosa no Brasil e tenta encobrir os problemas ocorridos no início da administração Bolsonaro.

"Como brasileiro, fico envergonhado", disse Carvalho. "O Sínodo é uma iniciativa da Santa Sé que articula bispos de toda a Amazônia que vai muito além do Brasil. Tem o Peru, Colômbia, Venezuela, Equador", concluiu o ex-ministro. Dizendo esperar que os militares "com bom senso" revejam o que ele chama de "tentativa de criar um Estado policialesco", Carvalho considera perigosa a ofensiva do governo amparado por evangélicos contra a Igreja Católica.

"Uma notícia dessas ridiculariza o Brasil, além de mostrar a pretensão de criar um Estado policialesco. Ao mesmo tempo põe lenha na fogueira dessa guerra religiosa que eles tentam criar no Brasil. É perigoso separar católicos de evangélicos. Este governo tem um setor evangélico com muito peso e isso é ruim para a laicidade do Estado, para a liberdade religiosa", afirmou

O alerta ao governo veio de informes da ABIN e dos comandos militares.O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno Ribeiro, confirmou a "preocupação" do Planalto com as reuniões e os encontros preparatórios do Sínodo sobre a Amazônia, que ocorrem nos Estados."Há muito tempo existe influência da Igreja e ONGs na floresta", disse. "A questão vai ser objeto de estudo cuidadoso pelo GSI. Vamos entrar a fundo nisso."

Como parte de uma estratégia para combater a ação do que chama de "clero progressista", o Planalto recorrerá à relação diplomática com a Itália, que vive um bom momento desde a prisão de Cesare Battisti. A equipe de auxiliares de Bolsonaro tentará convencer o governo italiano a interceder junto à Santa Sé para evitar ataques diretos à política ambiental e social do governo brasileiro durante o Sínodo.

A ação diplomática terá várias frentes. Numa delas, o governo brasileiro quer procurar os representantes da Itália e do Vaticano no Brasil - Antonio Bernardini e d. Giovanni D'Aniello, respectivamente - para pedir a ajuda deles na divulgação dos trabalhos brasileiros nas áreas social, de meio ambiente e de atuação indígena. Serviria como contraponto aos ataques que o governo está certo que sofrerá no Sínodo, por ver influência de partidos de esquerda nesses setores.

Os embaixadores do Brasil na Itália e no Vaticano também terão a missão de pressionar a cúpula da Igreja para minimizar os estragos que um evento como esse poderia trazer, dada a cobertura da mídia internacional.

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