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Pressionado pelas acusações do Coaf, Bolsonaro prefere falar à Nação só por redes sociais

FABIO MOTTA /ESTADAO -
Jair Bolsonaro
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Sem respostas sobre as acusações do Coaf que atingem assessores próximos seus e da família, o presidente eleito Jair Bolsonaro rompeu com a rotina de falar com a imprensa nos intervalos das agendas, em Brasília. A revelação de novos fatos envolvendo ex-assessores do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), e do próprio presidente, levou o futuro ocupante do Palácio do Planalto a retomar estratégia usada na campanha: falar apenas pelas redes sociais. A relação de Bolsonaro com a imprensa tem sido conturbada e ele chegou a ameaçar com o corte de verbas publicitárias os veículos que fazem reportagens negativas. O presidente, que tem o costume de dizer que a mídia faz fake news, afirmou que “o poder popular não precisa mais de intermediação”.

Há uma semana, Bolsonaro e seu filho Flávio, estão às voltas com suspeitas envolvendo Fabrício José Carlos de Queiroz, ex-motorista e amigo da família, pego em movimentação financeira atípica de R$ 1,2 milhão, sendo que uma das transações foi um cheque de R$ 24 mil à futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Novos fatos surgiram com mais dois ex-assessores: Nathalia Queiroz, filha de Fabrício Queiroz, trabalhava no gabinete do presidente eleito e combinava as 40 horas semanais com aulas de personal trainer; e Wellington Servulo, passou 248 dias em Portugal enquanto trabalhava para Flávio. Os dois aparecem como depositantes para Fabrício.

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Jair Bolsonaro (Foto: FABIO MOTTA /ESTADAO)

Na quinta-feira (12), Jair Bolsonaro anunciou em uma “live” no Facebook que fará toda semana um vídeo para “prestar contas do que está fazendo”, dar “diretamente a notícia como ela tem que ser dada” e disse: “não fujo da imprensa”. “Muitas vezes, a mídia exagera ou deturpa alguma coisa e aqui não tem deturpação. Aqui é diretamente a notícia como ela tem que ser dada. Não fujo da imprensa, apenas lamento em muitas oportunidade a imprensa divulga o que não acontece”, completou. O presidente admitiu ter um “problema pela frente” e disse esperar que Queiroz “dê os devidos esclarecimentos”. Afirmou ainda que “se algo estiver errado (...) que paguemos a conta”.

Pelo Twitter, ele voltou a dizer que irá rever os contratos de publicidade, reclamou de “setores” da mídia por “debocharem” da futura ministra Damares Alves e retuitou uma crítica à imprensa feita por seu filho Carlos Bolsonaro (PSL), vereador no Rio, que acusou “grande parte da mídia” de fechar “os olhos para tudo de errado que ‘os amigos’ fazem” e de fazer “pouco caso do aliado do PSOL que tentou matar” seu pai. O sumiço de Queiroz e a falta de explicações plausíveis sobre os fatos vem incomodando integrantes do novo governo, como reconheceu ontem o vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão.

Assessores sob suspeita

O deputado federal e senador eleito, Flávio Bolsonaro, está às voltas com as contratações polêmicas de assessores. Não são só por conta das movimentações financeiras duvidosas mostradas pelo Coaf. Flávio não consegue explicar como Wellington Sérvulo Romano da Silva, ex-funcionário da Assembleia do Rio que passou mais de 400 dias fora do Brasil em três anos, trabalhou em seu gabinete morando em Portugal. A informação foi veiculada pelo Jornal Nacional. O mais recente problema para os Bolsonaro é a filha do motorista Fabrício Queiroz. A ‘Folha de S.Paulo’ publicou que Nathalia Queiroz acumulava um cargo no gabinete de Jair Bolsonaro ao mesmo tempo que atuava como personal trainer de celebridades no Rio. Nomeada secretária parlamentar de Jair Bolsonaro em dezembro de 2016, foi exonerada em outubro de 2018, mesmo mês em que seu pai Fabrício deixou o gabinete de Flávio, na Alerj.

Nathalia também trabalhou como assessora de Flávio. Em 2007, aos 18 anos, atuou na vice-liderança do PP, de Flávio, onde ficou até fevereiro de 2011. De agosto do mesmo ano até dezembro de 2016, esteve lotada em seu gabinete. Residente no Rio, as redes sociais de Nathalia giravam em torno de sua atuação como professora de educação física. Havia registros, inclusive, de aulas com famosos, como os atores Bruno Gagliasso, Bruna Marquezine e Giovanna Lancellotti. As datas das fotos de sua atuação como personal coincidem com o período em que esteve lotada em ambos os gabinetes. Em setembro, recebeu uma remuneração bruta de cerca de R$ 10 mil, como secretária parlamentar de Jair Bolsonaro. Os secretários podem trabalhar em Brasília ou no estado de representação do deputado, contanto que cumpram a carga horária de 40 horas semanais.

As explicações de Flávio Bolsonaro para as viagens de Wellingtomn geraram mais dúvidas. O assessor passou metade do tempo em que foi contratado pelo gabinete de Flávio em viagens. Wellington ficou fora do país 248 dias. Pelos registros da Alerj, Wellington trabalhou para Flávio um ano e quatro meses até agosto de 2016. A nota de Flávio afirma que Wellington só foi exonerado em 23 de fevereiro de 2018. Em uma rede social, a mulher de Wellington afirma que moram atualmente em Aveiro, Portugal. A informação foi confirmada pela reportagem do JN que ouviu do porteiro do prédio onde o assessor tem um apartamento: ele e a família moravam no exterior.