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General Augusto Heleno será, no GSI, o militar de alta patente mais próximo de Bolsonaro

Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil -
Augusto Heleno
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Antes cotado para ser candidato a vice na chapa do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) e depois para assumir o Ministério da Defesa, o general Augusto Heleno Ribeiro Pereira terá um destino ainda mais importante e é apontado como um dos homens fortes do novo governo. Irá assumir a chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República e será responsável pela área de inteligência do governo, pela segurança pessoal do presidente e pela prevenção de crises. General de quatro estrelas da reserva do Exército, Heleno foi um dos primeiros militares a embarcar na campanha de Bolsonaro.

Com trânsito livre entre os oficiais da ativa e interlocução na caserna, Heleno é querido por Bolsonaro, que costumeiramente o chama de Augusto. O general chegou a ser confirmado como integrante do 1º escalão antes mesmo da vitória do capitão reformado para o Palácio do Planalto. No governo de transição, tem estado próximo ao presidente eleito, o ciceroneou nas visitas aos comandantes das Forças Armadas, ao ministro da Defesa, general Luna e Silva, e tem atuado com desenvoltura nas entrevistas sobre os temas relativos ao governo que tomará posse no dia 1º de janeiro.

Já na campanha, o general se mostrou afinado com a linha de pensamento de Bolsonaro, ao discursar no lançamento da candidatura afirmando que “parte da nossa imprensa, além de ser especialista em fakenews, se especializou em lixo news”. Na ocasião, aproveitou para criticar um de seus maiores desafetos, a ex-presidente Dilma Rousseff, ao dizer que ela “foi militante armada” e “realizou atos terroristas”. Aplaudido pela plateia presente ao evento, disse que “ser terrorista chegou no auge da bandidagem”. “E vivia se apregoando como defensora da democracia, isso é mais uma calhordice.(...) Que democracia, democracia cubana, venezuelana? Isso é debochar da inteligência do povo brasileiro”. Ao comentar o tempo da propaganda eleitoral gratuita do PT, disse: “Quanto mais eles aparecerem melhor, quanto mais a dona Rousseff falar mais ela perde voto, mais ela fala besteira, deixa falar”.

Defesa da ditadura militar

Heleno entrou para o Exército em 1966 e encerrou a carreira militar 45 anos depois, no Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército, destinado às atividades de pesquisa, inovação e fomento à indústria de defesa nacional. Em 2011, na cerimônia de despedida de sua carreira na ativa, defendeu a ditadura militar, numa clara afronta à ex-presidente, que foi presa e torturada pelo regime. No discurso, elogiou o golpe ao lembrar do pai: “Lutastes, em 1964, contra a comunização do país e me ensinastes a identificar e repudiar os que se valem das liberdades democráticas para tentar impor um regime totalitário, de qualquer matiz”.

Em outra oportunidade chamou a ditadura de “contrarrevolução” e criticou a Comissão Nacional da Verdade, criada por Dilma, ao afirmar que ela partia do pressuposto de que os grupos que travaram a luta armada contra o regime buscavam implantar uma democracia no Brasil. Para ele, o objetivo era impor o comunismo. “É como se pegasse a torcida do Fluminense e do Vasco e escolhesse aqueles das torcidas mais fanáticas e mandasse escrever a história do Flamengo”.

Considerado linha dura, Heleno se formou na Academia Militar das Agulhas Negras em primeiro lugar na turma de cavalaria em 1969, oito anos antes de Bolsonaro. Ganhou destaque nacional ao ser nomeado comandante da missão das Nações Unidas para a paz liderada pelo Brasil no Haiti, onde ficou em 2004 e 2005. Na missão, formada por um efetivo de 6250 capacetes azuis, como são chamadas as forças de paz das Nações Unidas, de 13 países, Heleno discordou da estratégia da comunidade internacional, que deixou centenas de mortos.

Ataque à reserva indígena

Em 2007, assumiu o Comando Militar da Amazônia (CMA), apontado como uma das melhores unidades de combate na selva do mundo, que tem como missão guarnecer mais de 9 mil km de fronteiras com sete países sul-americanos. O general da reserva acabou sendo desligado do cargo, que ocupou por menos de dois anos, depois que chamou a política indigenista do governo Lula de “caótica”, e que afirmou que a demarcação contínua da reserva Raposa-Serra do Sol era uma “ameaça à soberania nacional”.

Heleno também chefiou o Centro de Comunicação Social do Exército e foi consultor de segurança e assuntos militares da TV Bandeirantes, além de ter comandado o departamento de comunicação e educação do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Conselheiro do presidente eleito Bolsonaro na área de segurança, também defende que os policiais tenham a garantia do Estado, por meio do excludente de ilicitude, uma retaguarda jurídica para executar criminosos armados. “Eu vou ter morto, sim, mas vou ter morto do lado certo”, afirmou, em entrevista.

Aos 71 anos, no Planalto, Heleno estará mais próximo do presidente eleito e poderá atuar como estrategista à frente de um GSI com poderes ampliados, depois do Decreto 9.527, baixado pelo presidente Michel Temer, que cria uma “força-tarefa de inteligência para o enfrentamento ao crime organizado no Brasil”, que terá como função analisar e compartilhar dados para subsidiar ações. A força será formada pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a inteligência das Forças Armadas, e terá apoio do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Fazenda, da Receita e da Polícia Federal.