ASSINE
search button

A gravidade da briga pública entre o chefe do Ministério Público e o ministro do STF

As consequências da 'peleia' entre poderes da Justiça são inimagináveis para o povo

Compartilhar

As delações feitas por todos os criminosos delatores, a preocupação de uma parte do Brasil que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja preso, e de outra parte que ele não seja, as vaias dirigidas ao ex-ministro José Dirceu quando saiu da prisão, e os depoimentos alarmantes da família Odebrecht constroem um grave cenário no país. Remetem a episódios dramáticos, como os que aconteceram na Itália, quando o ex-primeiro-ministro Aldo Moro apareceu morto na mala de um carro, nos anos 1970, e a Operação Mãos Limpas estava em ação. 

Hoje, a discussão pública entre o chefe do Ministério Público Federal, poder que tem a obrigação de descobrir o crime, que acusa e aponta o crime, que liquida com a dignidade quando comprovados os crimes - seja de políticos, empresários ou qualquer cidadão - e a mais alta Corte do Brasil é estampada na grande mídia. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, coloca publicamente em dúvida, segundo ele, para o país inteiro saber, o comportamento do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. Segundo Janot, Gilmar Mendes não teria as formalidades necessárias da dignidade jurídica para processar ou não um determinado cidadão, afirmando haver ligações envolvendo o escritório de advocacia de sua mulher e este cidadão. Este mesmo escritório de advocacia, num passado bem recente, também inviabilizou a vida de um magistrado.

As consequências destas declarações públicas são inimagináveis para o povo brasileiro. O delinquente em tela é sócio dos responsáveis pelo fim do estado do Rio de Janeiro, que todos dizem não ter mais solução. É sócio da delinquência mais vergonhosa e mais aniquiladora da imagem do Brasil no exterior, o cartão-postal do Brasil no mundo virou outdoor da corrupção.

É de estarrecer essa discussão não apenas entre dois homens, mas uma peleia entre dois poderes. Não poderes antagônicos. Poderes afins para que haja "esperança" daqueles que ainda têm esperança de o país ser moralizado. 

Como pode a delinquência mais vil, a do tóxico, a dos furtos, de um segmento mais desprotegido de sorte, poder se sentir criminosa vendo e tomando conhecimento dessa guerra, que não é uma guerra suja, é uma guerra de extermínio da justiça brasileira?

Admitindo que o plenário do STF considere o ministro Gilmar Mendes suspeito, como ele poderia votar nos casos envolvendo Eike Batista e a corja da quadrilha de Sérgio Cabral? E se não o considerar suspeito, como fica o STF diante da opinião pública?

>> Janot quer impedimento de Gilmar e volta de Eike à prisão

No decorrer desta terça-feira (9), a notícia de que a filha de Janot, Leticia Ladeira Monteiro de Barros, atua como advogada da empreiteira OAS, investigada na Lava Jato, tornou ainda mais grave o complexo cenário. A PGR divulgou nota negando conflitos e afirmando que não firmou nenhum acordo de leniência com a empreiteira.

O Jornal do Brasil lamenta ter que incluir, na tarde desta terça-feira, mais observações nesta análise. O ministro Leitão de Abreu dizia uma frase que ficou muito conhecida no meio político e jurídico: "Quem se justifica não se explica, e quem se explica geralmente se atrapalha."

Voltamos a repetir: como fica o povo diante de fatos tão aterradores, diante da tentativa de destruição dos poderes? Como fica o povo quando assiste a este processo de desmoralização dos poderes? Primeiro, do Executivo; depois, do Legislativo; e agora a tentativa de desmoralização do Judiciário, pilar da democracia.