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Copa e Olimpíada: o Baile da Ilha Fiscal do século 21

Ajuda ao RJ não deve ir para escolas, hospitais ou segurança, mas para megaeventos

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No dia 9 de novembro de 1889, onde fica aquele castelinho esverdeado próximo à Praça XV, a corte realizava uma grande festa apenas para convidados, a um requinte incomum para os padrões e condições da época. Mais de um século depois, o Rio de Janeiro se viu palco de uma grande festa, desta vez esportiva, e fechada aos convidados de uma elite que pode pagar pelos ingressos -- a Copa do Mundo e a Olimpíada.

O Baile da Ilha Fiscal, como ficou conhecida a última festa da monarquia antes da Proclamação da República, foi realizada sob a desculpa formal de homenagear a oficialidade de navios chilenos ancorados duas semanas antes na baía, quando a Ilha Fiscal ainda se chamava Palacete Alfandegário da Ilha dos Ratos. Na verdade, contudo, usou dinheiro retirado do ministério da Viação e Obras Públicas para comemorar as bodas de prata da princesa Isabel e do conde d´Eu -- valor que correspondia a 10% do orçamento previsto da Província do Rio de Janeiro para o ano seguinte. O evento reuniu o Imperador D. Pedro II e a Imperatriz D. Teresa Cristina.

A festa de Sérgio Cabral e Eduardo Paes com a Copa do Mundo e a Olimpíada, que deixariam um grande legado para a população, deixa um rastro de buracos nas necessidades mais básicas da população, e um cenário de escolas precarizadas, professores sem salários e alunos sem aula, hospitais sem médico e material, e segurança pública recortada. 

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A Olimpíada e a Copa custaram bilhões, em um país de PIB de R$ 2,2 trilhões, que ainda luta para lidar com problemas históricos profundos. Em agosto de 2010, Sérgio Cabral já dizia: "Ganhamos as Olimpíadas, que parecia um sonho impossível. Estamos mudando o Rio". Ele já sabia que o Rio ia quebrar, mas na mão de outros. Mais tarde, em novembro do mesmo ano, Cabral declarou: "Ganhamos as Olimpíadas de 2016 não foi para termos 21 dias de alta cobertura de segurança dos convidados. Ganhamos para dar à população do Rio."

Copa e Olimpíada são o Baile da Ilha Fiscal contemporâneos. Apenas milhardários brasileiros e amigos que ganharam ingressos, quem sabe, do diretor da Fifa que foi preso e expulso dos meios esportivos por 10 anos, podem comparecer à festa. Enquanto ela segue, empregados não recebem salário e o governador em exercício é responsabilizado.

O dinheiro que o Rio de Janeiro deve receber como ajuda, como foi sugerido pelo governo federal após o decreto de estado de calamidade pública, para que possa honrar contratos, não é para pagar professores, remédio de hospitais nem para aumentar o salário do policial, vai tudo para a promoção do Baile da Ilha Fiscal do século 21.