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EUA buscam 'saquear os recursos minerais e estratégicos' da Venezuela, adverte especialista
Por JB INTERNACIONAL
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Publicado em 29/11/2025 às 06:06
Alterado em 29/11/2025 às 08:40
Manifestante venezuelano contra intromissão do Donald Trump em seu país Foto: AP Photo / Ariana Cubillos
María Elvira Salazar, congressista republicana da Flórida, afirmou em declaração nesta semana o objetivo econômico central por trás da hostilidade persistente e do desdobramento militar de Washington no Caribe: o petróleo venezuelano.
"Para as companhias petrolíferas norte-americanas, a Venezuela será um verdadeiro dia de festa. Porque serão mais de US$ 1 trilhão (R$ 5,3 trilhões) em atividade econômica", declarou a legisladora dos EUA.
Analistas consultados pela agência russa de notícias Sputnik abordam as implicações estratégicas por trás dessa postura, a coerência interna da política norte-americana e a viabilidade real desse pretendido "banquete" petrolífero.
A lei do mais forte?
Jesús David Rojas, especialista em direito internacional, diz que as declarações de Salazar não passam da confirmação de um padrão de conduta de "uma potência em decadência".
"Os interesses dos Estados Unidos como potência em decadência são os mesmos no Iraque, Síria, Líbia e na Venezuela: saquear os recursos minerais e estratégicos que já não estão em condições de obter pagando um preço justo conforme as regras lícitas do comércio internacional", assegura.
Ele afirma que as declarações da legisladora demonstram que "ninguém deve nem pode confiar nos Estados Unidos como negociador ou defensor de causas justas em nenhuma parte do mundo".
Amaranto Vargas, analista político venezuelano, concorda com essa análise e encontra semelhanças estratégicas entre os casos do Iraque e da Venezuela.
"Os Estados Unidos investiram muito na Venezuela durante muitos anos, até que o comandante Hugo Chávez chegou ao poder em 1998, assim como também fizeram no Iraque com Saddam Hussein", explica.
Para o especialista, o interesse sempre foi "impor ou, por fomentar, por promover e por consolidar nesses países governos que sejam leais à política dos Estados Unidos, que sejam, inclusive, mais do que leais, vassalos".
Narcotráfico ou petróleo
Ambos os especialistas concordam que a declaração da congressista coloca por terra a "luta contra as drogas' usada pelo governo dos EUA para justificar a pressão contra a Venezuela:
"O dinheiro lavado do narcotráfico é uma das principais atividades econômicas rentáveis para o estado da Flórida há bastante tempo e não interessa ao 'lobby' da Flórida interromper esse negócio; isso é apenas uma fachada", afirma Rojas.
Essa evidência, acrescenta, revela que "a condução das relações internacionais desse país está sendo gerida por um secretário de Estado que não administra a geopolítica mundial, mas sim os interesses próprios de sua camarilha da Flórida".
As tensões dentro do Partido Republicano
Para ambos os analistas, as declarações da congressista Salazar funcionam como um termômetro para avaliar a dinâmica interna dentro do Partido Republicano.
Jesús David Rojas afirma que "não há uma postura coesa no Partido Republicano, no Partido Democrata, nem na nação norte-americana".
Ele argumenta que os Estados Unidos "estão vivendo um processo de transformações revolucionárias subterrâneas" marcado por um "endividamento gigantesco" e pelo questionamento popular devido ao apoio a conflitos externos, entre outros fatores.
Amaranto Vargas, por sua vez, percebe uma maior unidade na hostilidade contra a Venezuela. "O Partido Republicano sempre teve uma postura muito dura contra a Venezuela e, particularmente, contra a Revolução Bolivariana", assegura.
Ele explica que a legisladora republicana "representa uma grande quantidade de latinos no congresso norte-americano, da comunidade cubana e venezuelana de Miami", que pressionam para "acabar com o comunismo na América Latina".
A resistência venezuelana
A viabilidade do cenário descrito por Salazar é o ponto em que ambos os especialistas convergem em um ceticismo fundamentado.
"Para governar a Venezuela hoje em dia não basta fazer 'lobby' nos Estados Unidos dizendo que vai vender o país. Também é necessário que o presidente tenha autoridade e que as instituições e, sobretudo, o povo o obedeçam", ressalta.
Ele garante que o povo venezuelano não aceita comandos impostos por tropas estrangeiras:
"Se invadirem, será gerado um caos de tal magnitude que afetará o comércio em todo o norte da América do Sul e poderá tornar inviável a produção petrolífera […] O caos pode se apoderar de todo o hemisfério e isso pode tornar os Estados Unidos muito vulneráveis como potência".
Amaranto Vargas complementa essa análise destacando os acordos comerciais existentes com, por exemplo, os países do BRICS, e com a própria companhia Chevron. O analista ressalta que, para que isso ocorra, "deve existir obrigatoriamente um cenário de caos na Venezuela, algo que considero extremamente difícil".
Ele enfatiza que "o povo venezuelano está coeso e bastante consciente sobre o que significaria uma invasão".