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União Europeia denuncia situação humanitária 'abominável' em Gaza
Por JB INTERNACIONAL
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Publicado em 28/06/2025 às 06:14
Alterado em 28/06/2025 às 06:14
Multidões de palestinos permanecem nas ruas à espera de ajuda humanitária Foto: Ansa
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, classificou a situação humanitária na Faixa de Gaza, palco de uma guerra entre Israel e Hamas desde outubro de 2023, como "abominável", e ressaltou que a ajuda deve chegar imediatamente no enclave palestino.
"Não podemos perder de vista a situação humanitária em Gaza, que continua abominável e insustentável", alertou em declaração no final de uma cúpula em Bruxelas.
Segundo a líder europeia, "a ajuda humanitária deve chegar a Gaza imediatamente, sem obstáculos, rapidamente e em quantidades adequadas".
Durante o discurso, Von der Leyen enfatizou que continuará "a apelar por um cessar-fogo sustentável e pela libertação dos reféns, para que se possa alcançar o fim definitivo das hostilidades".
Já o presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, denunciou "violações sistemáticas dos direitos humanos" na Faixa de Gaza, apesar de Israel ser um parceiro.
"Israel é um amigo, mas precisamos ser francos e claros com os amigos. O dossiê apresentado pela alta representante, Kaja Kallas, é claro: há violações sistemáticas dos direitos humanos", afirmou ele.
Por fim, Costa pediu a Kallas que apresente opções ao próximo Conselho de Relações Exteriores e, enquanto isso, apelou para Israel pôr fim ao bloqueio a Gaza e aos assentamentos ilegais na Cisjordânia".

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia Foto: Epa
Israel suspende entrega de ajuda humanitária
Decisão foi tomada após ministro de Netanyahu ameaçar renunciar
O governo israelense anunciou na quinta-feira (26) a suspensão das entregas de ajuda humanitária na Faixa de Gaza para evitar que os alimentos cheguem ao grupo fundamentalista islâmico Hamas.
A decisão foi divulgada após o ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, ameaçar renunciar ao cargo a menos que medidas fossem tomadas para "impedir que os suprimentos sejam levados ao Hamas".
O caso foi informado por uma fonte ao Canal 12, citado pelo jornal "Times of Israel", e logo após o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ter ordenado às Forças de Defesa de Israel (FDI) que elaborassem um plano em 48 horas para impedir o "roubo de ajuda humanitária".
Segundo o governo israelense, citado pela fonte, a suspensão das entregas de ajuda permanecerá em vigor até que o Exército apresente o projeto.
Mais cedo, o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, já havia defendido a "interrupção completa" das operações de ajuda humanitária no enclave palestino, alegando que o Hamas assumiu o controle dos bens e alimentos distribuídos.
Na rede social X, o ministro divulgou um vídeo no qual é possível ver homens armados sobre caminhões com suprimentos.
De acordo com ele, "a ajuda humanitária que atualmente entra em Gaza é uma vergonha absoluta".
"Quando eu, infelizmente, fui o único que votou há um mês e meio contra a autorização da ajuda, o que para mim era claro que daria fôlego ao Hamas, houve quem zombasse de mim e afirmasse que 'a ajuda que entra na Faixa de Gaza norte seria apenas por 10 dias'", acrescentou.
O ministro enfatizou ainda que o "Hamas está assumindo o controle das quantidades de alimentos e bens que contribuem para sua sobrevivência".
"Interromper a ajuda nos levará rapidamente à vitória. Exigirei do primeiro-ministro que, na próxima reunião de gabinete, a questão da autorização da entrada de ajuda na Faixa de Gaza seja novamente votada", informou Ben-Gvir.
Atualmente, a distribuição dos suprimentos é feita pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF), organização apoiada tanto pelos Estados Unidos quanto pelo governo de Israel. A estrutura, no entanto, tem sido denunciada como uma "armadilha mortal".
De acordo com o chefe do Escritório da ONU para Assuntos Humanitários nos Territórios Palestinos Ocupados, Jonathan Whittall, mais de 400 pessoas já foram assassinadas enquanto tentavam obter comida na Faixa de Gaza desde que Israel revogou o bloqueio à entrada de ajuda, há pouco mais de um mês.
"Há uma situação catastrófica de genocídio em Gaza. Apoiamos o pedido da ONU por acesso à ajuda, um cessar-fogo e o avanço rumo à solução de dois Estados", declarou o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, ao chegar ao Conselho Europeu. "Israel está violando o Artigo 2, sobre direitos humanos, do acordo entre a UE e Israel. Hoje, pedirei a suspensão imediata deste acordo", acrescentou.
Mais de 100 mortos em um dia
Os ataques israelenses na Faixa de Gaza entre quarta (25 e quinta (26) provocaram ao menos 103 mortos e 219 feridos, informaram fontes do enclave palestino.
Segundo a agência de notícias palestina Wafa, todas as vítimas e as pessoas com ferimentos foram transportadas para hospitais da região.
Desde o início da guerra, o número de mortos em Gaza chegou a 56.259, enquanto outras 132.458 pessoas ficaram feridas.
Fontes médicas confirmaram que, do total de vítimas, 5.936 civis foram mortos e 20.417 ficaram feridos desde 18 de março de 2025, quando as Forças de Defesa de Israel (IDF) retomaram seu ataque a Gaza.
Ataque contra mercado: 18 mortos
Ofensivas no sul do enclave também deixaram mais 10 vítimas
Um ataque com drone israelense contra membros do Hamas que tentavam tomar o controle de um mercado na cidade de Deir al-Balah, no centro da Faixa de Gaza, deixou ao menos 18 palestinos mortos nessa sexta-feira (27).
A ofensiva foi informada à BBC por um médico e testemunhas oculares. Drones israelenses dispararam contra membros da força policial do grupo fundamentalista islâmico, vestidos à paisana e usando máscaras, que estavam assediando vendedores.
Segundo os relatos, os comerciantes foram acusados pelo Hamas de praticar preços abusivos e vender produtos roubados de caminhões de ajuda humanitária. O Ministério do Interior liderado pelo Hamas condenou o ataque, acusando Israel de cometer "um novo crime contra uma unidade policial encarregada de manter a ordem pública".
Uma testemunha ocular contou à emissora britânica que os confrontos começaram ontem depois que a polícia entrou em conflito com vendedores, que então "sacaram suas armas", sendo que um dos homens "tinha uma Kalashnikov".
Na sequência, drones israelenses dispararam dois mísseis, acrescentaram os moradores locais.
Imagens de vídeo do incidente mostraram corpos espalhados pelo chão e compradores em pânico gritando, enquanto ambulâncias corriam para atender os feridos.
Um médico do Hospital Al-Aqsa, em Deir al-Balah, afirmou que 18 corpos foram levados para o necrotério. Não está claro se há algum policial entre as vítimas.
Paralelamente, outros 10 palestinos foram mortos e outros ficaram feridos na Cidade de Gaza e Khan Younis, segundo a agência Wafa. No primeiro, oito civis morreram e vários ficaram feridos quando uma aeronave militar israelense atingiu um grupo de pessoas perto da escola Shaaban Al-Rayyes, no bairro de Tuffah, a leste da Cidade de Gaza.
Em um incidente separado, fontes médicas confirmaram que mais dois palestinos foram mortos e vários ficaram feridos depois que forças israelenses abriram fogo contra uma multidão de civis reunidos perto de um ponto de distribuição de ajuda humanitária ao sul da Rua Al-Tina, em Khan Younis, no sul de Gaza. As vítimas foram transportadas para um hospital de campanha especializado no Kuwait. (com Ansa)