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Ataque da Ucrânia a bombardeiros nucleares russos ofusca negociações de paz na Turquia

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Por JB INTERNACIONAL com Reuters
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Publicado em 02/06/2025 às 11:45

Alterado em 02/06/2025 às 13:06

O chefe da delegação russa e conselheiro presidencial, Vladimir Medinsky, fala à imprensa, após uma reunião de negociação de paz com a Ucrânia, no Palácio Ciragan, na Turquia Foto: Reuters/Murad Sezer

As negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia em Istambul terminaram apenas uma hora depois de começar, nesta segunda-feira (2), um dia depois de um ataque maciço de drones ucranianos contra bombardeiros estratégicos russos com capacidade nuclear.

As negociações - os segundos contatos diretos entre os lados desde 2022 - já haviam começado quase duas horas depois do previsto, sem explicação do atraso.

Embora a atmosfera tenha sido moderada e o diálogo breve, as negociações renderam um acordo para realizar uma nova troca de prisioneiros e a Ucrânia disse que outra rodada de negociações está na agenda.

Na Rússia, antes do início das negociações, blogueiros de guerra furiosos pediram a Moscou que desferisse um temível golpe de retaliação contra Kiev depois que a Ucrânia lançou, nesse domingo (1), um de seus ataques mais ambiciosos da guerra, visando bombardeiros russos de longo alcance com capacidade nuclear, na Sibéria e em outros lugares.

A Ucrânia e a Rússia emitiram avaliações totalmente diferentes dos danos causados à frota de bombardeiros estratégicos da Rússia - um elemento-chave em seu arsenal nuclear -, mas ficou claro a partir de imagens de satélite disponíveis publicamente que Moscou sofreu algumas perdas graves de equipamentos.

"Os olhos do mundo inteiro estão focados nos contatos aqui", disse o ministro das Relações Exteriores turco, Hakan Fidan, às delegações russa e ucraniana no início das negociações, enquanto se enfrentavam em lados opostos da sala no suntuoso Palácio Ciragan, perto do Bósforo.

Ele disse que o objetivo da reunião era avaliar as condições para um cessar-fogo, discutir uma possível reunião entre os presidentes russo e ucraniano e analisar mais oportunidades de troca de prisioneiros.

O ministro da Defesa ucraniano, Rustem Umerov, que chefiou a delegação de Kiev, anunciou após as negociações que uma nova troca de prisioneiros havia sido acordada para acompanhar a maior troca de prisioneiros da guerra negociada na última rodada de negociações.

Ele disse que a nova troca se concentraria nos gravemente feridos na guerra e nos jovens.

Umerov também disse que Moscou entregou seu próprio projeto de acordo de paz à Ucrânia, e que Kiev - que elaborou sua própria versão - revisaria o documento russo.

A Ucrânia propôs a realização de mais negociações antes do final de junho, mas acredita que apenas uma reunião entre o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, e o presidente russo, Vladimir Putin, pode resolver as muitas questões de discórdia, disse Umerov.

O chefe de gabinete de Zelenskiy, Andriy Yermak, disse que a delegação de Kiev entregou uma lista de crianças que disse terem sido deportadas para a Rússia e que queria de volta. Moscou diz que essas crianças foram transferidas para protegê-las dos combates.

Os dois lados devem discutir na segunda-feira suas respectivas e totalmente diferentes ideias sobre como deve ser um cessar-fogo completo e um caminho de longo prazo para a paz em meio à pressão do presidente dos EUA, Donald Trump, que disse que os EUA podem abandonar seu papel de mediador se não houver progresso.

Mas Umerov disse que Kiev não conseguiu reagir às propostas de paz da Rússia porque só as viu na segunda-feira.

BAIXAS EXPECTATIVAS
Embora ambos os países, por razões diferentes, estejam ansiosos para manter Trump engajado no processo de paz, as expectativas de um avanço nesta segunda-feira eram baixas.

A Ucrânia considera a abordagem da Rússia até o momento como uma tentativa de forçá-la a capitular - algo que Kiev diz que nunca fará - enquanto Moscou, que avançou no campo de batalha em maio em seu ritmo mais rápido em seis meses, diz que Kiev deve se submeter à paz nos termos russos ou enfrentar a perda de mais território.

Putin estabeleceu seus termos iniciais para o fim imediato da guerra em junho passado: a Ucrânia deve abandonar suas ambições da OTAN e retirar todas as suas tropas de todo o território de quatro regiões ucranianas reivindicadas e controladas principalmente pela Rússia.

De acordo com um roteiro proposto pela Ucrânia, cuja cópia foi vista pela Reuters, Kiev não quer restrições à sua força militar após qualquer acordo de paz, nenhum reconhecimento internacional da soberania russa sobre partes da Ucrânia tomadas pelas forças de Moscou e quer reparações.

A Rússia atualmente controla pouco menos de um quinto da Ucrânia, ou cerca de 113.100 quilômetros quadrados, aproximadamente o mesmo tamanho do estado americano de Ohio.

Putin enviou dezenas de milhares de soldados para a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, após oito anos de combates no leste da Ucrânia entre separatistas apoiados pela Rússia e forças ucranianas.

Os Estados Unidos dizem que mais de 1,2 milhão de pessoas foram mortas e feridas na guerra desde 2022.

Trump chamou Putin de "louco" e repreendeu Zelenskiy em público no Salão Oval, mas o presidente dos EUA também disse que acha que a paz é alcançável e que, se Putin atrasar, poderá impor duras sanções à Rússia.

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