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Direitista argentino Milei assumirá presidência com crise econômica em foco

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Por JB INTERNACIONAL com Reuters
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Publicado em 10/12/2023 às 06:02

Alterado em 10/12/2023 às 11:24

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, conversa com políticos antes do início da sessão da Assembleia Legislativa no Congresso Nacional, em Buenos Aires, Argentina, 29 de novembro de 2023 Foto: Reuters/Agustin Marcarian

A Argentina vai empossar o economista libertário Javier Milei como presidente neste domingo (10), numa guinada brusca para o país sul-americano, que procura uma solução radical para a pior crise económica em décadas,com a inflação caminhando rapidamente para os 200%.

Milei, de 53 anos, um ex-comentarista de TV que ganhou fama com tiradas cheias de palavrões contra rivais, a China e o papa, assumirá a faixa presidencial já mostrando alguns sinais de uma mudança pragmática e moderada desde sua vitória eleitoral no mês passado.

O outsider de cabelos selvagens, no entanto, marca uma grande aposta para a Argentina: seu plano econômico de terapia de choque de cortes bruscos de gastos caiu bem entre os investidores e pode estabilizar a economia em dificuldades, mas corre o risco de empurrar mais pessoas para mais carestia, com além de dois quintos já na pobreza.

No entanto, os eleitores - que levaram Milei à vitória no segundo turno de novembro contra um candidato da coalizão governista peronista - disseram que estavam dispostos a lançar os dados sobre suas ideias, às vezes radicais, que incluem fechar o banco central e dolarizar.

"Ele é a última esperança que nos resta", disse o médico Marcelo Altamira, de 72 anos, que criticou governos "inúteis e ineptos" por anos de crises econômicas. O governo peronista cessante, disse, "destruiu o país".

Os desafios são enormes. As reservas líquidas em moeda estrangeira da Argentina são estimadas em US$ 10 bilhões no vermelho, a inflação anual é de 143% e está aumentando, uma recessão está ao virar da esquina e os controles de capital distorcem a taxa de câmbio.

A Argentina passou por ciclos de altos e baixos por décadas, com a impressão de dinheiro para financiar déficits regulares alimentando a inflação e enfraquecendo o peso. Isso piorou nos últimos anos, já que as reservas diminuíram com uma grande seca no início deste ano, atingindo as principais safras de soja e milho.

O país produtor de grãos precisa renovar um programa de empréstimos de US$ 44 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), enquanto Milei precisa navegar pelos laços com importantes parceiros comerciais, como China e Brasil, a quem criticou durante a campanha.

Milei assumirá o lugar do impopular presidente de centro-esquerda Alberto Fernández, mas precisará negociar com rivais, já que sua coalizão libertária tem apenas um pequeno bloco no Congresso. Ele se aliou ao principal grupo conservador.

Isso já teve impacto. Ele moderou seu tom nas últimas semanas, lotou seu primeiro gabinete com conservadores tradicionais em vez de aliados libertários ideológicos e colocou ideias mais radicais, como a dolarização, em segundo plano.

Isso ajudou a animar os mercados e tranquilizar os eleitores.

"Acho que ele vai se sair bem. Por razões legais e do Congresso, ele vai acabar tendo que se concentrar em coisas mais coerentes", disse Laura Soto, 35, funcionária de um restaurante em Buenos Aires.

Ela disse que algumas ideias sociais mais radicais sobre as quais ele falou durante a campanha também não devem acontecer, incluindo a flexibilização da regulamentação sobre armas e a reabertura do debate sobre o aborto, que foi legalizado na Argentina há três anos.

'MUDANÇA ERA NECESSÁRIA'
Para consertar a bagunça econômica, Milei escolheu o conservador Luis Caputo para comandar o Ministério da Economia, com um aliado próximo de Caputo, Santiago Bausili, como chefe do banco central.

Milei deve expor sua visão em um discurso neste domingo, com um plano econômico mais detalhado provavelmente na terça ou quarta-feira, disseram fontes de sua equipe à Reuters.

A cerimônia deve incluir o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, e o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán. O ex-presidente Jair Bolsonaro estará lá, assim como uma delegação dos EUA.

O presidente de esquerda do Chile, Gabriel Boric, e o líder conservador do Uruguai, Luis Lacalle Pou, estão na lista de convidados, mas presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o mexicano Andrés Manuel López Obrador serão algumas das principais ausências.

Atento ao apoio popular que impulsionou sua ascensão, Milei deve falar com seus apoiadores fora do Congresso, em vez de fazê-lo com parlamentares internos, como é de costume.

"Agora precisamos ver o que acontece", disse a aposentada Vilma Bonino, de 73 anos.

Em um sinal de desafios à frente, a empresa estatal de energia YPF aumentou os preços da bomba de gasolina esta semana em uma média de 25%, com analistas e mercados antecipando uma forte desvalorização da moeda sobrevalorizada do peso logo após Milei assumir o cargo.

"As coisas não estão em boa forma atualmente e me parece que uma mudança era necessária", disse a estudante Delfina Ortiz, de 22 anos, enquanto tirava uma foto em frente ao Congresso.

"Obviamente, como toda mudança, há muita esperança e expectativa para o que está por vir. Espero que seja bom."