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Vídeo: repórter da Al Jazeera se desespera ao encontrar família morta em Gaza

Ataque aéreo israelita mata filhos de 15 e sete anos, além de esposa e neto do editor-chefe Wael Dahdouh, uma das faces mais conhecidas da sucursal árabe Al Jazeera em Gaza

Wael Dahdouh lamenta o corpo de um de seus filhos morto junto com sua esposa em um ataque israelense ao campo de refugiados de Nuseirat
Foto: Majdi Fathi/AFP

A esposa, o filho, a filha e o neto do jornalista Wael Dahdouh, editor-chefe e uma das faces mais conhecidas da sucursal árabe Al Jazeera na Faixa de Gaza, foram mortos num ataque aéreo israelita. Imagens angustiantes transmitidas pela emissora financiada pelo Catar mostram Dahdouh entrando no Hospital dos Mártires Al-Aqsa, em Deir el-Balah, na quarta-feira (25), para ver toda sua família no necrotério.

O corresponde do Al Jazeera, única emissora que relata as atrocidades das Forças de Defesa de Israel (FDI) nos territórios palestinos, foi mostrado agachado, cercado por colegas de profissão, e tocando o rosto de seu filho de 15 anos, Mahmoud, dentro de uma mortalha branca, no piso do hospital. O jovem queria ser jornalista como seu pai.

Imagens posteriores mostraram-no segurando o corpo amortalhado de sua filha de sete anos, Sham, parecendo falar com ela enquanto olhava para seu rosto ensanguentado após o ataque ao campo de refugiados de Nuseirat.

Dahdouh se ajoelha e chora desesperadamente. Nos estúdios da Al Jazeera, em Doha, no Catar, o âncora Abdul Salam também não conteve as lágrimas e chorou transmitindo a notícia da morte de toda a família do parceiro de trabalho. Completamente abalado, Dahdouh falou à Al Jazeera ao sair do hospital:

“O que aconteceu está claro. Esta é uma série de ataques direcionados a crianças, mulheres e civis. Eu estava há pouco reportando de Yarmouk sobre tal ataque, e os ataques israelenses atingiram muitas áreas, incluindo Nuseirat. Tínhamos dúvidas de que a ocupação israelita não deixaria estas pessoas partirem sem as punir. E, infelizmente, foi isso que aconteceu. Esta é a área ‘segura’ de que falou o exército de ocupação", disparou.

Alguns membros da família de Dahdouh, incluindo uma neta pequena, sobreviveram ao ataque à casa onde estavam hospedados no campo de refugiados de Nuseirat, ao sul da Faixa de Gaza. De acordo com a Al Jazeera, outro filho de Dahdouh, Yehia, ficou ferido e os médicos tiveram que realizar um procedimento de emergência para estancar um ferimento grave em sua cabeça.

O procedimento teve que ser feito no corredor do hospital, e os médicos tiveram dificuldade para encontrar instrumentos adequados, tendo finalmente que usar fio não cirúrgico para costurar o ferimento.

“O ataque indiscriminado das forças de ocupação israelenses resultou na trágica perda da esposa, do filho e da filha [de Dahdouh], enquanto o resto de sua família está enterrada sob os escombros”, disse a Al Jazeera Media Network em um comunicado.

“A sua casa foi atacada no campo de Nuseirat, no centro de Gaza, onde procuraram refúgio depois de terem sido deslocados pelo bombardeamento inicial no seu bairro, na sequência do apelo do primeiro-ministro [israelita] [Benjamin] Netanyahu a todos os civis para se deslocarem para sul.”

Falando de Gaza, a repórter Youmna Elsayed prestou solidariedade ao colega: “É de partir o coração fazer reportagens sobre a família de Wael e ver como ele está destroçado. Ele acalma a todos. Ele fala conosco como um irmão mais velho, não apenas como um chefe de escritório”, declarou.

“Ele não saiu da cidade de Gaza. Ele permaneceu apesar de todas as ameaças e advertências e não parou por 19 dias seguidos. Ele disse: ‘Devo estar aqui na Cidade de Gaza para informar sobre essas pessoas que são bombardeadas todos os dias. Ele não desistiu deles. Ele não queria ir embora”, concluiu.

O porta-voz das IDF e o Ministério da Defesa de Israel, assim como o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, não se pronunciaram sobre o fato, tampouco assumiram o bombardeio que vitimou a família do repórter árabe em Gaza.

Reincidência

Dahdouh, um dia antes, já tinha sido surpreendido ao vivo numa transmissão pelo bombardeio de um hospital muito próximo ao local onde sua equipe da Al Jazeera estava. Há pouco mais de uma semana, um ataque israelense matou o cinegrafista Issam Abdallah, da agência Reuters, e deixou uma repórter da AFP sem os dois pés, numa região ao norte do Estado judeu, na fronteira com o Líbano, onde outra frente do conflito se desenrola.

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