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Argentina vai às urnas para eleger presidente em cenário incerto

Além de Milei, os principais postulantes são o ministro da Economia Sergio Massa, da aliança progressista União pela Pátria (UP), e a conservadora Patricia Bullrich, da coalizão Juntos pela Mudança (JxC). Todos têm chances de chegar ao segundo turno

Por JB INTERNACIONAL
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Publicado em 22/10/2023 às 05:31

Alterado em 22/10/2023 às 07:37

O atual ministro da Economia, Sergio Massa, concorre à Presidência Ansa

Mais de 35 milhões de eleitores serão chamados às urnas neste domingo (22) para escolher o novo presidente da Argentina, em uma disputa marcada pela ascensão do ultraliberal Javier Milei, da coalizão A Liberdade Avança (LLA), comparado por muitos com o brasileiro Jair Bolsonaro.

Ao mesmo tempo, os argentinos renovarão parcialmente o Congresso, com a eleição de 24 senadores em oito províncias e 130 deputados. Ao todo, cinco candidatos disputam a sucessão do peronista e impopular Alberto Fernández, que desistiu de disputar a reeleição, na Casa Rosada, mas somente três se apresentam com chances reais.

Além de Milei, os principais postulantes são o ministro da Economia Sergio Massa, da aliança progressista União pela Pátria (UP), e a conservadora Patricia Bullrich, da coalizão Juntos pela Mudança (JxC).

As últimas pesquisas, divulgadas há uma semana, mostram uma disputa acirrada e um cenário aberto, com a ampla fatia de indecisos podendo exercer papel determinante no resultado final.

Nas primárias de agosto, 69% do eleitorado participou, e Milei acabou na frente com 29,86% dos votos, seguido por Massa (21,43%) e Bullrich (16,81%), embora suas coalizões tenham chegado, respectivamente, a 27,28% e 28% dos votos na ocasião.

Para se eleger em primeiro turno, um candidato precisa obter pelo menos 45% da preferência, ou então 40% e uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo colocado, cenário que as pesquisas apontam como improvável.

Em caso de segundo turno, os dois postulantes mais votados se enfrentam novamente em 19 de novembro, e o vencedor tomará posse em 10 de dezembro, no aniversário de 40 anos da volta da democracia à Argentina.

Os eleitores também elegerão os governadores das províncias de Buenos Aires, Catamarca e Entre Ríos, bem como o próximo prefeito da capital.

Milei capitaliza o voto de protesto

O populista com a motosserra interpreta o desconforto das massas

Ele considera as mudanças climáticas "uma farsa de esquerda", promete fechar o Banco Central e basear a economia argentina exclusivamente no dólar americano. Javier Milei, o excêntrico inimigo da casta, o antissistema do topete rebelde que se reconhece no partido de extrema direita espanhol Vox, cavalga o protesto dos trabalhadores que não conseguem chegar ao fim do mês e almeja vencer no primeiro turno das eleições presidenciais, que amanhã convocarão mais de 35 milhões de cidadãos às urnas.

Um resultado que não é de forma alguma certo. As pesquisas apontam um cenário incerto, no qual o progressista peronista Sergio Massa, da coalizão União pela Pátria (UP), e a conservadora Patricia Bullrich, da aliança Juntos pela Mudança (JxC), perseguem o anarcocapitalista da coligação A Liberdade Avança (LLA) com margens percentuais estreitas. Com isso, os cerca de 10% a 12% de eleitores indecisos podem ser determinantes.

E mesmo que os observadores não excluam a hipótese de um cisne negro - como aconteceu nas primárias gerais, quando Milei saltou surpreendentemente para o topo da preferência, com 29,8% -, para conquistar a Casa Rosada é preciso obter 45% dos votos, ou 40% com uma vantagem de 10 pontos para o segundo colocado.

Caso contrário, a disputa será adiada por um mês, com segundo turno no dia 19 de novembro.

Ainda assim, o novo "Trump sul-americano" mostrou capacidade de interpretar a raiva acumulada ao longo de anos de declínio socioeconômico no país, com um descontentamento que em agosto chegou a resultar no saque a supermercados nas províncias mais pobres.

Embora o ultraliberal pregue que quer fechar as torneiras dos subsídios estatais, com a privatização de hospitais, escolas e transportes - indo contra os próprios interesses de muitos dos seus apoiadores -, o fenômeno da sua ascensão deve ser visto dentro do quadro de um país marcado por uma profunda crise econômica, inflação de 140% e pela grande vontade de redenção.

Mas também deve ser lido no âmbito de uma guerra contra a política corrupta, acusada de ter arrastado a Argentina para a beira do abismo: a "casta de ladrões" que Milei - "rei de um mundo perdido" - declara querer destruir em pedaços, como representado plasticamente durante comícios segurando uma serra elétrica. A mesma promessa eleitoral que, em 2018, levou Jair Bolsonaro à vitória no Brasil.

Aliás, não é por acaso que o deputado Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do ex-presidente brasileiro, acompanhará a apuração no Hotel Sheraton Libertador, em Buenos Aires, ao lado de Milei, bem como representantes do Vox. A bem-sucedida estratégia digital da campanha do ultraliberal se deve a Fernando Cerimedo, fundador do site La Derecha Diario e já envolvido nas campanhas do chileno José Antonio Kast e de Bolsonaro, em um fio que liga as Américas de norte a sul, passando por Steve Bannon, ex-assessor de Trump. (com Ansa)

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