MUNDO

Zelensky fica de pé para aplaudir veterano nazista, no Canadá

Casa Legislativa de Ottawa homenageou soldado do Waffen-SS, exército particular do Partido Nazista; organização foi condenada por crimes de guerra

Por Gabriel Mansur
[email protected]

Publicado em 25/09/2023 às 18:59

Alterado em 25/09/2023 às 19:13

Zelensky ao lado de primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau Foto: Blair Gable – 22.set.2023/Reuters

O presidente ucraniano Vladimir Zelensky, o primeiro-ministro do Canadá Justin Trudeau e centenas de parlamentares canadenses homenagearam e aplaudiram de pé Yaroslav Hunk, um combatente nazista da Segunda Guerra Mundial. O caso ocorreu durante a visita de Zelensky ao Parlamento do Canadá, onde ele saudou o veterano de guerra durante uma cerimônia.

Hunk fora integrante da 14ª Divisão de Granadeiros das Waffen-SS, exército particular do Partido Nazista. Sediada na região da Galícia, na Ucrânia, a 14.ª Divisão de Granadeiros foi formada exclusivamente para combater as forças soviéticas, o chamado Exército Vermelho.

A unidade era uma divisão de infantaria subordinada à Schutzstaffel (ou SS), a mais infame das organizações paramilitares da Alemanha nazista. A unidade era composta por voluntários ucranianos simpatizantes do nazismo e chefiada por oficiais alemães e austríacos.

A saudação a Hunk ocorreu por iniciativa de Anthony Rota, membro do Partido Liberal e atual presidente da Câmara dos Comuns do Canadá. Rota classificou o ex-combatente nazista como "um herói ucraniano e canadense" e o agradeceu "por todo o serviço prestado".

A homenagem gerou críticas imediatas de grupos judeus canadenses e da comunidade judaica internacional, que passaram a pressionar Anthony Rota por uma retratação. O parlamentar teve que reconhecer seu erro e divulgou um pedido de desculpas, alegando "não estar ciente do passado" de Hunk. Até o momento, o presidente da Ucrânia não se manifestou publicamente sobre o incidente.

Antes da reverência ao nazista, o ucraniano evitou aplaudir o discurso do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Assembleia-Geral da ONU, nos Estados Unidos, na última terça-feira (19). Sentado próximo à comitiva brasileira que viajou com Lula para o evento, Zelensky permaneceu imóvel durante todo o pronunciamento, que foi interrompido por palmas cinco vezes.

Divisão Galícia

A Divisão Galícia atuou em diversas ofensivas do Terceiro Reich e foi responsável por inúmeras atrocidades, massacres e crimes de guerra, sobretudo contra as comunidades polonesas e judaicas do oeste ucraniano. Tamanho era o entusiasmo da Divisão Galícia pelo ideário nazista que os combatentes da unidade seguiram lutando em prol da Alemanha mesmo após o suicídio de Adolf Hitler e a rendição do Terceiro Reich.

Após a rendição para as tropas aliadas, soldados da divisão imigraram para o Canadá e para o Reino Unido. A divisão de Hunka tinha cerca de 15 mil homens. A Waffen-SS foi declarada uma organização culpada por crimes de guerra no Tribunal de Nuremberg, que julgou as atrocidades nazistas.

O culto à imagem da Divisão Galícia sempre permeou o imaginário dos neonazistas do país. A insígnia do Leão Russiano utilizada pela divisão há muito tempo é um símbolo onipresente nas manifestações da extrema-direita.

Mas após o Euromaidan (onda de manifestações e agitação civil) e o subsequente golpe de estado em 2014, que terminou com a destituição do presidente eleito, Viktor Yanukovych, o governo ucraniano passou a incentivar e estimular tais celebrações, elevando a unidade nazista ao status de organização heroica.

Veteranos da divisão foram condecorados e celebrados em eventos prestigiados por autoridades do governo ucraniano. Ruas em diversas cidades da Ucrânia foram batizadas em homenagem à divisão nos últimos anos. No dia 28 de abril, autoridades ucranianas organizam paradas, marchas e festividades para celebrar o aniversário de fundação da Divisão Galícia.

Ja o Canadá participou da Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados. O país sofreu ataques diretos ao seu território perpetrados pelas forças do Eixo, incluindo bombardeios na Colúmbia Britânica. Mais de 42 mil soldados canadenses morreram enfrentando as tropas nazistas.

ONU se manifesta

Em meio à repercussão mundial da homenagem feita pelo Parlamento canadense, o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, disse que a organização se opõe "a qualquer homenagem a pessoas que participaram ativamente de atividades nazistas", mas que leva em consideração as desculpas emitidas pela Casa legislativa.

"Pelo que vi em reportagens, o presidente da Câmara em Ottawa pediu desculpas por convidar este indivíduo, apresentando as razões que deu. Nós, é claro, nos opomos a qualquer homenagem a pessoas que participaram ativamente de atividades nazistas durante a Segunda Guerra Mundial", disse Dujarric durante uma coletiva de imprensa nesta segunda-feira (25).

Tags:

Deixe seu comentário