MUNDO

Espanha retira medalha de Mérito Militar concedida a ditador Augusto Pinochet em 1975

Pedro Sanchéz afirmou que a retirada da condecoração representa um avanço do país em coerência com os compromissos democráticos

Por Gabriel Mansur
[email protected]

Publicado em 12/09/2023 às 13:26

Alterado em 12/09/2023 às 13:26

Augusto Pinochet Foto: Wikimedia Commons

Em meio à marca de 50 anos do golpe de Estado que derrubou o presidente eleito Salvador Allende no Chile, o Conselho de Ministros da Espanha aprovou, nesta terça-feira (11), a retirada da condecoração Grã-Cruz do Mérito Militar, concedida pelo país ao ditador chileno Augusto Pinochet em 1975.

"Com esta retirada da Grã-Cruz do Mérito Militar, que foi concedida na sua época pelo regime franquista, nosso país avança nessa coerência com os compromissos democráticos, (…) com os direitos e as liberdades”, anunciou a porta-voz do governo, Isabel Rodríguez, em entrevista coletiva, após o conselho de ministros durante o qual a decisão foi tomada.

A medida havia sido antecipada pelo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, nesta segunda-feira (12), ao destacar que era “hora de reparar uma injustiça histórica”.

“Há 50 anos, a democracia chilena foi vítima de um ataque brutal que abalou o mundo. Hoje, 11 de setembro, é o momento de reparar uma injustiça histórica. Amanhã o Conselho de Ministros retirará ao ditador Pinochet a Grã-Cruz do Mérito Militar, atribuída em 1975”, acrescentou Sánchez, referindo-se ao golpe de Estado que derrubou Allende em 11 de setembro de 1973 e estabeleceu a ditadura de Pinochet, regime que durou até 1990.

Pinochet recebeu a Grã-Cruz do Mérito Militar em 1975, quando a Espanha ainda estava sob a ditadura do general Francisco Franco (1939-1975).

O presidente chileno, Gabriel Boric, que na segunda-feira liderou um ato sob o lema “Democracia sempre” no Palácio La Moneda, bombardeado há 50 anos durante o golpe de Estado, agradeceu ao governo Sánchez pela decisão.

"Pela memória e pela justiça, mas sobretudo pelo futuro, para que nunca mais (vivencie um golpe de Estado)". Ele enviou, ainda, “um abraço fraterno” ao primeiro-ministro espanhol. Em agosto, Boric assinou um decreto que estabeleceu o Plano Nacional de Busca, instaurando uma força-tarefa para encontrar pessoas desaparecidas durante a ditadura chilena.

O golpe

Eleito democraticamente em 1970, o presidente socialista chileno Salvador Allende realizou uma série de nacionalizações e reformas radicais, desagradando a ruidosa oposição, parte da população e organizações internacionais. As decisões governamentais instauraram uma crise política no país. Três anos depois, pouco tempo depois de ter evitado uma tentativa de golpe no país, o general Pinochet destituiu Allende do cargo.

Em meio às disputas ideológicas da Guerra Fria (1947-1991), o presidente americano, Richard Nixon, desempenhou um papel central na queda da democracia no Chile. O republicano temia a possibilidade do governo socialista “consolidar-se e projetar ao mundo uma imagem de sucesso” com a eleição de Allende, como aponta um relato de Nixon ao Conselho de Segurança Nacional, em 1970.

Nos anos seguintes, a administração americana procurou enfraquecer a economia chilena e financiar a oposição. Uma vez realizado o golpe, os Estados Unidos estiveram entre os apoiadores de Pinochet nos primeiros anos de ditadura, embora as denúncias de infrações aos direitos humanos tivessem chegado aos ouvidos de funcionários de Washington.

Deixe seu comentário