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Pat Robertson, televangelista que culpou gays e abortistas pelo 11 de Setembro e furacões, morre nos EUA

Líder religoso fundou a 'religião de direita' e foi a figura política mais relevante da década de 90. Em 2019, orou por Bolsonaro em Washington

Por Gabriel Mansur
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Publicado em 08/06/2023 às 17:45

Alterado em 10/06/2023 às 17:03

Pat Robertson Reprodução/Redes Sociais

O pastor batista Pat Robertson, renomado líder religioso dos Estados Unidos, morreu nesta quinta-feira, aos 93 anos, em sua casa em Virginia Beach, no estado da Virgínia. Sua morte foi anunciada pela Christian Broadcasting Network (CBN), rede cristã de televisão fundada por ele em 1960.

"Apresentador de televisão, educador, humanitário e ex-candidato presidencial, faleceu em sua casa em Virginia Beach na madrugada de quinta-feira”, informou a CBN.

No canal que controlava, o religioso apresentou um programa diário muito conservador, “The 700 Club”, que, segundo ele, tinha uma audiência média de um milhão de pessoas.

Também fundou a Christian Coalition, uma organização conhecida por sua oposição ao aborto e por sua luta pela oração nas escolas. Essa organização se tornou um importante grupo de pressão política na década de 1990.

A organização tinha quase quatro milhões de membros em 1994, segundo o jornal The New York Times. Essa mobilização de conservadores cristãos se transformou em uma poderosa base eleitoral que ajudou os republicanos a conquistar ambas as casas do Congresso norte-americano - Senado e Câmara - em 94.

Depois, perdeu quase metade dos apoiadores nos anos 2000, e sua influência se reduziu significativamente. Ainda assim, Robertson foi extremante conhecido e influente político.

Império

Robertson construiu um império empresarial com base em sua fé cristã, que incluía uma universidade, uma faculdade de direito, um canal de televisão a cabo com amplo alcance e outros empreendimentos.

Dentro do meio político desde que nasceu, onde sua família sempre esteve, ele também travou uma campanha séria, embora sem sucesso, pela Presidência dos Estados Unidos em 1988. Na época, diante das críticas sobre a mistura entre igreja e Estado, ele chegou a renunciar ao título de ministro batista para iniciar a campanha.

A perda não diminuiu seu fervor político; ele fundou a Christian Coalition, que impulsionou o ressurgimento político conservador baseado na fé durante a década de 1990 e além.

Declarações extremistas

Seja no púlpito, na campanha política ou diante de uma câmera de televisão, Robertson podia exibir um jeito amigável de um ministro local, rindo suavemente e exibindo um brilho quase constante nos olhos. Mas também fazia declarações que seus críticos consideravam absurdamente equivocadas e perigosamente incendiárias.

Ele sugeriu, por exemplo, que o pecado dos americanos havia provocado os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos.

Em 2002, um ano após os atentados, disse que os muçulmanos eram piores que os nazistas. Em 2005, pediu o assassinato do então presidente venezuelano, Hugo Chávez, a quem acusou de ter financiado o líder da rede Al-Qaeda, Osama bin Laden.

Em 2003, foi criticado pelo Departamento de Estado por sugerir que “Talvez devêssemos lançar uma pequena bomba nuclear… para mudar as coisas” na frente diplomática.

As declarações foram se acumulando ao longo das décadas.

Robertson afirmou que o terremoto que devastou o Haiti em 2010 foi uma retribuição divina por uma promessa que os haitianos haviam feito de servir ao diabo em troca de sua ajuda na conquista da independência do país em relação à França em 1804.

Também declarou que os protestantes liberais personificavam "o espírito do Anticristo" e que o feminismo levava as mulheres à bruxaria. Ele chegou a dizer que suas orações tinham evitado furacões.

Em 2016, Robertson endossou a candidatura presidencial de Donald Trump, ajudando-o a conquistar os eleitores evangélicos. Distanciou-se, porém, quando o republicano negou sua derrota para o democrata Joe Biden na eleição de 2020.

Em meio aos esforços intensificados por Trump e seus apoiadores para reverter as eleições, Robertson disse aos telespectadores de seu programa de televisão, "The 700 Club", que um processo movido pelo procurador-geral do Texas questionando os resultados em quatro estados era um "milagre".

"Eles vão à Suprema Corte para dizer 'Essa eleição foi fraudada e vocês precisam anulá-la'", disse Robertson, citando alegações infundadas de fraude eleitoral. Ele afirmou que "Deus em pessoa" interviria.

Mas duas semanas depois, mudou de posição. "O presidente ainda vive em uma realidade alternativa", disse ele, acrescentando: "Acho que seria bom dizer: 'Você teve seu tempo e é hora de seguir em frente'.

Em 2019, ele se encontrou com o então presidente Jair Bolsonaro para uma oração em Washington. No encontro, Robertson pediu que Deus protegesse o ex-capitão e lhe concedesse “muitos anos de serviço”. Bolsonaro deixou o poder quatro anos depois.

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Pat Robertson (esq.) e Bolsonaro (Foto: Reprodução/CBN News)

'Figura mais importante'

Robertson tinha dois filhos, Timothy e Gordon; duas filhas, Elizabeth Robertson Robinson e Ann Robertson LeBlanc; 14 netos; e 24 bisnetos.

Em 2007, ele passou a gestão da CBN para seu filho Gordon.

Em outubro de 2021, aos 91 anos, ele anunciou que estava se afastando do cargo de apresentador "The 700 Club" após mais de 50 anos no comando. "Foi uma jornada maravilhosa", disse. Acrescentou que seu filho Gordon Robertson assumiria como apresentador.

No entanto, ele nunca deixou de falar sobre política, e seu rebanho nunca parou de ouvir. Em 2001, Michael Lind, um autor de temas políticos, escreveu no The New York Times que Robertson havia sido "a figura mais influente na política americana na última década".

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