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De amante odiada a rainha do Reino Unido: o final feliz de Camilla Parker

Caso extraconjugal é considerado um dos maiores escândalos da história da realeza

Por GABRIEL MANSUR
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Publicado em 06/05/2023 às 12:36

Alterado em 06/05/2023 às 14:50

Rei Charles III e rainha consorte Camilla Reuters

Quem um dia colocou chifre, hoje oficialmente coloca uma coroa. Esse é o final feliz dos ex-amantes - e atualmente marido e mulher - rei Charles III e rainha consorte Camilla Parker. Ambos foram adúlteros durante seus casamentos, mas foi Camilla quem arcou com as maiores consequências.

Portanto, vamos a história da nova rainha consorte do Reino Unido, Camilla Rosemary Shand - que ficou mundialmente conhecida como Camilla Parker-Bowles. Camilla foi coroada junto com o marido, neste sábado (6), na Abadia de Westminster, em Londres, aos 75 anos de idade. Para quem não lembra - ou não sabe - , a história de amor e traição começou há 53 anos.

Camilla sempre circulou no meio da nobreza, como bem-nascida inglesa que é. Em 1971, então com 24 anos, conhecera seu amado, dois anos mais novo, num jogo de pólo no Windsor Great Park, um parque real. À época, engataram um romance jovial, que durou cerca de dois anos, até que o então princípe - primeiro na linha de sucessão ao trono - deixou a Inglaterra para servir na Marinha Real por oito meses.

Quando Charles regressou da missão militar, Camilla já estava noiva de um antigo affair: o oficial da cavalaria do Exército e ex-namorado da princesa Anne, irmã de Charles, Andrew Parker Bowles, com quem se casou, em 1973, e teve os filhos Tom e Laura Parker Bowles. Embora o relacionamento entre Camilla e Charles tenha terminado, eles seguiram "vinculados" um ao outro, pois mantiveram amizade a ponto de Charles ser escolhido para apadrinhar o primogênito de Camilla, Tom.

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Rainha consorte foi coroada neste sábado (Foto: Reuters)

Nas décadas de 70 e 80, a chance do futuro rei da Inglaterra casar com uma mulher divorciada era zero. Camilla, então, continuou casada. Já Charles se concentrou no reino comandado por sua mãe, a rainha Elizabeth II, até que conheceu e começou a namorar Lady Diana Spencer, uma plebeia recém-chegada na maioridade e 13 anos mais nova, mudando os rumos da história.

Além de ter a aprovação da Família Real, a mocinha era virgem - num exemplo clássico de machismo e preconceito, o requisito arcaico era condição para uma futura rainha. Reza a lenda que a rainha-mãe, Isabel Ângela Margarida Bowes-Lyon, avó do rei, dizia que ele deveria se unir a uma moça da família Spencer. Lembrando que o então príncipe já havia se relacionado antes com a irmã mais velha de Diana, Lady Sarah Spencer.

O casamento do século

Charles e Lady Diana casaram-se em 29 de julho de 1981, um ano após se conhecerem e começarem a namorar, num matrimônio considerado como o maior do século passado, na igreja de St. Paul; 750 milhões de pessoas assistiram à cerimônia ao redor do mundo.

O então príncipe e princesa de Gales tiveram dois filhos, o príncipe William, nascido em 1982, e o príncipe Harry, nascido em 1984. Em público, os dois tentavam manter a aparência do casamento de "conto de fadas", mas entre quatro paredes o romance começava a desandar. De acordo com a biografia autorizada de Charles, ele começou um caso com Camilla Parker em 1986, em um escândalo de traição que abalou a monarquia britânica.

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Lady Di e príncipe Charles (Foto: Reuters)

A vilã do povo

Em 1989, ao longo de três anos de infidelidade matrimonial, Diana ignorou qualquer norma de etiqueta da família real e resolveu confrontar a amante do marido em uma festa. Na discussão, a carismática e queridinha do povo Lady Di disse saber do envolvimento amoroso entre eles. A história, porém, só se tornou pública em junho de 1992, quando o livro de Andrew Morton, "Diana: Her True Story", foi lançado, chocando o mundo.

Diante do caso extraconjugal, surgiram dúvidas se o príncipe Charles poderia ser rei caso se divorciasse e casasse novamente. Havia restrições conservadoras da família real à época: ele não teria permissão para um segundo matrimônio na Igreja britânica. Entretanto, em dezembro de 1992, o primeiro-ministro John Major anunciou que Charles e Diana se separaram oficialmente. Camilla só o fizera três anos depois, em 1995.

Em 1993, a transcrição de uma conversa telefônica sugestiva e secreta entre Charles e Camilla, que havia ocorrido em 1989, quando ambos eram casados, foi publicada. Na ligação, o atual monarca britânico dizia "querer ser o absorvente íntimo interno da amante", para se viver dentro dela, o que destruiu de fato e em definitivo a reputação de ambos.

O caso "Tampongate" (escândalo do absorvente, na tradução livre) é considerado um dos maiores escândalos da história da realeza. Manchete de jornais no mundo inteiro, o caso foi explorado com muitos detalhes sórdidos. Junto com um livro sobre o sofrimento da princesa traída e infeliz, a história prejudicou imensamente a imagem pública de Charles, que nunca se recuperou completamente.

Em janeiro de 1995, Camilla e Andrew Parker Bowles também anunciaram o divórcio. Em novembro daquele mesmo ano, Diana participou de uma entrevista na TV. Ao ser questionada se Camilla havia sido um dos fatores que causou o colapso do casamento dela com Charles, a ex-princesa ironizoiu: "havia três de nós neste casamento, então estava um pouco cheio", afirmou.

A morte trágica de Lady Di

Nas primeiras horas de 31 de agosto de 1997, Diana faleceu no hospital Salpêtrière de Paris, França, após sofrer um acidente de carro enquanto fugia de um paparazzo em um túnel rodoviário, à beira do rio Sena, na mesma cidade. Devido à esmagadora manifestação de pesar por ela, Charles resolveu assumir em público o relacionamento com Camilla.

Charles levou anos para assumir que realmente teve uma amante durante o período de casado. E precisou contratar uma assessoria para tentar melhorar sua imagem de herdeiro de uma instituição que custa fortunas aos cofres públicos - e cuja serventia já era questionada nos anos 1990. Basta dizer que, no auge das polêmicas sobre o caso extraconjugal, foi defendido publicamente que, quando a rainha morresse, ele deveria passar sua vez na linha de sucessão para William.

Pior que a situação de Charles, só a de Camilla. O público não engolia a amante, que foi atacada pelos tabloides, perseguida pelos paparazzi e criticada por quase todo mundo. "Foi horrível. Era uma época muito ruim e eu não colocaria meu pior inimigo no meu lugar. Eu não teria sobrevivido sem a minha família", já disse Camilla sobre o “Tampongate”.

Casamento no civil

Em 1998, um ano após a morte de Lady Dy, Charles iniciou o processo para legitimar o relacionamento com Camilla e confirmou em uma reportagem que sua então namorada conheceu o príncipe William, o que fez com que os jornais especulassem que ela também conheceria o príncipe Harry em breve. Apesar disso, a rainha Elizabeth não aprovava o relacionamento anteriormente adúltero e se recusou a participar de uma festa privada de 50 anos de Charles porque Camilla estaria lá.

Em 1999, dois anos após a morte de Diana, Charles e Camilla fizeram a primeira aparição pública oficial. O processo de "assumir" a amada já estava sendo planejado nos bastidores desde o fiasco do divórcio com Diana. Em 2005, formalizaram a união, depois de 34 anos de um "namoro" de idas e vindas, um pedido de casamento de joelhos dele e um anel de noivado que pertenceu à Rainha-Mãe, a avó que Charles adorava.

No dia da cerimônia, em Windsor, manifestantes apareceram com fotos de Diana e caricaturas mostrando Camilla como um cavalo, mas o casal teve o apoio da rainha Elizabeth. Foi a primeira vez que um membro da Família Real se casou apenas no civil.

O último desejo da Rainha

A aprovação da soberana, que até a década de 1970 sequer podia estar na presença de uma pessoa divorciada (!), contou muito para que Camilla, pouco a pouco, fosse conquistando seu espaço na monarquia e entre os súditos. No Jubileu de Platina, em 2022, meses antes de sua morte, a rainha fez questão de dizer, em um comunicado oficial, que gostaria que todos apoiassem a nora no futuro e garantiu que ela tivesse papel de destaque no reinado do filho.

"Quando, na plenitude do tempo, meu filho Charles se tornar rei, sei que vocês darão a ele e à sua esposa Camilla o mesmo apoio que têm dado a mim; e é o meu sincero desejo que, quando a hora chegar, Camilla seja conhecida como rainha consorte enquanto continua seu serviço leal", disse a monarca, deixando explícita qual era sua vontade.