Sucesso absoluto entre os turistas que visitam Londres, as tradicionais cabines telefônicas vermelhas são cada vez menos usadas pela população para chamadas telefônicas, embora continuem espalhadas pelas ruas da cidade sede das Olimpíadas. Mesmo sendo um dos itens mais fotografados da capital inglesa, nas horas vagas, os famosos orelhões são usados como depósitos de lixo, pontos de divulgação de prostituição, ou urinóis, o que faz com que muitos tenham cheiros insuportáveis do lado de dentro.
De acordo com a BT Telecom, empresa responsável pelos telefones públicos, o número de usuários que utilizam esses serviços caiu mais de 80% nos últimos cinco anos, o que fez com que os custos para manter o equipamento em funcionamento aumentassem consideravelmente no período - a companhia não divulga quanto sai essa conta. Estima-se que apenas 11 mil das 51 mil cabines espalhadas pelo Reino Unido ainda sejam do famoso modelo, originalmente chamado de K6, criado na década de 1930.
Para tentar "salvar" o ícone inglês, a companhia lançou, em 2008, a campanha "adote um quiosque", que basicamente pede ajuda à população para honrar a "herança nacional" que as "red booths" representam. O projeto funciona como uma espécie de "vaquinha": o cidadão paga uma libra (R$ 3,16) para se registrar no site da companhia e escolhe uma cabine para adotar. Depois, a pessoa (ou empresa) deve se comprometer a pagar mensalmente uma quantia, que é revertida para bancar os custos da manutenção, explica a empresa, em seu site oficial.
Além disso, lotes dessas cabines começaram a ser comercializados de lá para cá, por cerca de R$ 9.500, cada uma. O dinheiro também é revertido para cuidar das "sobreviventes" que continuam na ativa, mas milhares delas estão com os dias contados, já que a BT pretende fazer novas "limpas" no país. E há também empresas e artistas que fizeram da restauração das cabines o carro-chefe de seus negócios, encontrado facilmente em uma busca pela internet.
O fato é que, com a popularização da telefonia móvel, a maioria das pessoas só recorre aos orelhões em casos de emergência - os londrinos praticamente não desgrudam dos telefones celulares. Em uma das ruas mais movimentadas de Camden Town, uma das áreas mais populares entre moradores e turistas, em 30 minutos, apenas uma pessoa usou a cabine para telefonar - no mesmo período, um mendigo entrou em busca de comida e cerca de outras 30 pessoas pararam para tirar fotos.
"Acabou a bateria do meu celular, por isso usei o telefone público. Mas não entrava em uma dessas há anos, nem sabia mais como usar", admitiu a inglesa Alexa, única flagrada utilizando a K6 para o que ela foi criada.
Cabine vermelha é cartão postal de Londres
Apesar aparentemente fadadas à extinção, o sucesso entre os turistas garante às vermelhinhas um lugar cativo nas ruas londrinas, mesmo que em menor número ou com nova roupagem. Para comemorar o Jubileu de Diamante da Rainha Elizabeth II, cerca de 100 unidades ganharam caras novas nas mãos de artistas locais, em uma espécie de "Phone Parade" - em referência à "Cow Parade", aquelas vaquinhas coloridas que decoram São Paulo periodicamente.
Outra estratégia para garantir a sobrevida das "red booths" é dar a elas novas funções. No vilagero de Westbury-sub-Mendip, a carcaça de uma K6 foi usada para dar origem à "menor livraria do mundo" - o local é usado como ponto de troca gratuito de livros e DVDs, e virou ponto turístico. Ideias como essa são bem vistas pela companhia telefônica britânica, que incentiva outras pessoas a fazerem o mesmo, em seu site oficial: "e você, o que fará com a sua cabine?"