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A redescoberta de Larry Young

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A passagem do organista Larry Young pelo céu do jazz foi meteórica. Morreu de pneumonia aos 37 anos, em 1978, no apogeu de uma brilhante carreira, deixando uma rastro luminoso registrado em cinco discos da Blue Note, dentre os quais os antológicos Into somethin'(1961, com Sam Rivers, Grant Green e Elvin Jones) e Unity (1965, com Joe Henderson, Woody Shaw e Elvin Jones). Foi membro-fundador do trio Lifetime (1969-71), na onda da fusão jazz-rock, ao lado do baterista Tony Williams e do guitarrista John McLaughlin. Integrou a tripulação de Miles Davis em duas faixas de Bitches Brew (Columbia, 1969-70), o célebre álbum duplo da fase “elétrica” do legendário trompetista.

No comando do Hammond B-3 – aquele mini-órgão de dois teclados e uma pedaleira inventado na década de 1930 e “reinventado” por Jimmy “The Incredible” Smith nos anos 50-60 – Larry Young chegou a ser chamado de “o Coltrane do órgão”, em face da tendência modal do seu fraseado. Às vezes, trocava o B-3 pelo piano, e não escondia a admiração pela música assimétrica de Thelonious Monk.

Em 1964, o jovem Young mandou-se para Paris, onde ficou mais de um ano, tocando quase sempre no Chat Qui Pêche, Rue de la Huchette, frequentado então por jazzmen americanos de prestígio que tinham emigrado para a França (Bud Powell, Kenny Clarke, Nathan Davis) ou que por lá passavam (Dexter Gordon, Eric Dolphy).

Pois foi naquela época que o tecladista-compositor foi gravado - em estúdio e em apresentações ao vivo no Chat Qui Pêche e na boate La Locomotive - pela ORTF (Office de Radiodiffusion-Télévision Française), que tinha uma programação jazzística muito especial. E a novidade é que, mais de 50 anos depois, a Resonance Records – especialista em revelar raridades ocultas – vem de lançar Larry Young in Paris/The ORTF recordings.

A luxuosa edição da caixa de dois CDs (cerca de US$ 50) tem, além das liner notes, ensaios e entrevistas com John McLaughlin, Dr. Lonnie Smith, Nathan Davis, André Francis, o produtor Zev Feldman, Larry Young III e Woody Shaw III. Mas as 10 faixas podem ser adquiridas, é claro, em iTunes.

Em quatro delas ouve-se o quarteto do ás do Hammond B-3 com Nathan Davis (sax tenor), Woody Shaw (trompete), Billy Brooks ou Franco Manzecchi (bateria): Trane of thought (6m45), de Nathan; Black Nile (13m55), de Wayne Shorter; Beyond all limits (7m35) e Zoltan (20m), a mais longa de todas, de Woody (Vale registrar que o grande trompetista Woody Shaw tinha, então, 20 anos; e que, como Larry Young, teria também vida curta, morrendo antes de chegar aos 45 anos).

Esse quarteto torna-se septeto – com a adição de Sonny Grey (trompete), Jean-Claude Fohrenbach (sax tenor) e Jack Dieval (piano) – em La valse grise (16m 30) e Discothèque (10m40), temas de Dieval, e Talkin' about J.C. (14m50), peça do organista. Em trio, Young interpreta, também de sua lavra, Luny Tune (4m35) e Larry's blues (6m) - nesta última tocando piano - mais Mean to me (4m10).

O produtor Zev Feldman, apelidado de “o detetive do jazz”, responsável pelos inéditos registros de Larry Young in Paris, assim comentou o novo achado: “Larry Young pode ser tido como um dos grandes unsung heroes dessa música. Isso é algo muito pessoal, e quero despertar uma nova geração de fãs. Jimmy Smith, contemporâneo de Young, foi o pioneiro que tirou o órgão Hammond das igrejas, mas Larry Young o levou para o mundo todo! Espero que este projeto nos permita voltar no tempo, e celebrar o legado dese artista não admirado como devia”.

(Samples generosos das faixas do CD Larry Young in Paris/ The ORTF recordings podem ser ouvidos em: www.juno.co.uk/miniflashplayer/SF594981-01-02-05.mp3).

INTERNATIONAL JAZZ DAY

Hoje (30/4), sob os auspícios da Unesco, comemora-se o 5º Dia Internacional do Jazz, com concertos e exposições mundo afora. Mas a principal celebração terá ocorrido nesta sexta-feira (29), em Washington, na Casa Branca, patrocinada pelo presidente Barack Obama e pela “Primeira-Dama” Michelle.

Da programação do “All-Star Concert at the White House” consta uma lista de renomados músicos de jazz, dentre os quais os seguintes (por ordem alfabética dos sobrenomes): Joey Alexander, Terence Blanchard, Dee Dee Bridgewater, Chick Corea, Aretha Franklin, Robert Glasper, Herbie Hancock, Al Jarreau, Diana Krall, Christian McBride, Pat Metheny, Marcus Miller, Danilo Pérez, David Sánchez, Wayne Shorter, Esperanza Spaulding e Chucho Valdés.

O concerto vai ser retransmitido pela Unesco (www.unesco.org/new/en/jazz-day) neste sábado (30/4), às 22h (hora de Brasília).