Em novembro de 2008, o nome de Jon Irabagon surgiu com destaque nas publicações dedicadas ao jazz. O saxofonista de ascendência filipina, baseado no bairro de Queens, Nova York, tinha então 29 anos, e vencera a 21ª Thelonious Monk Competition- o mais importante concurso internacional aberto a jovens talentos, a cada ano dedicado a um instrumento habitual no jazz. Naquela ocasião, ele derrotara 11 semifinalistas, perante um júri formado por cinco mestres do saxofone: Wayne Shorter, Jimmy Heath, Greg Osby, Jane Ira Bloom e David Sanchez.
Irabagon – que já era sideman do subversivo combo Mostly Other People Do the Killing (MOPDTK), liderado pelo baixista Moppa Elliott – consolidou o seu prestígio como integrante do quinteto do eminente trompetista Dave Douglas (álbuns Be still, 2012, e Time travel, 2013, ambos do selo Greenleaf). Em 2013, foi o sax tenor mais votado na categoria risig star(“estrela em ascensão”) no referendo anual dos críticos da revista Downbeat.
Neste ano que chega ao fim, Jon Irabagon lançou, como líder e compositor, na sua própria etiqueta Irabbagast, o CD Behind the sky.
Trata-se de uma sessão de estúdio de abril de 2014 – de conceito bem mais inside, mais straight, do que o do MOPDTK - na qual o saxofonista comanda uma quarteto integrado por músicos com os quais tem muita intimidade: o notável pianista venezuelano Luis Perdomo, formado e radicado em Nova York; o baixista Yasushi Nakamura, nascido em Tóquio, mas egresso do Berklee College e da Juilliard School of Music; o baterista Rudy Royston. O quarteto vira quinteto em três das 11 faixas do disco, com a participação do ilustre convidado Dave Douglas.
A ilustração da capa do álbum é a foto de um homem solitário caminhando numa paisagem de montanhas geladas e céu muito limpo, o que dá a ideia – reforçada pelo título “Atrás do céu” - de que se trata de uma seleção de peças meditativas, naquele estilo camerístico etéreo, típico da gravadora ECM de Manfred Eicher.
No entanto, nesta coleção de 11 peças assinadas pelo próprio Irabagon, de durações que variam entre 5m45 e 8m15, prevalecem os tempos médios e mais acelerados e a linguagem neo bop. Desde as duas primeiras faixas, One wish (7m25) e The cost of modern living (6m), o sax tenor do líder impõe-se, robusto, decidido e sedutor. A eloquência do piano de Perdomo – que não esconde a influência de McCoy Tyner – é logo destacada num solo de mais de dois minutos em One wish.
A participação de Dave Douglas – no trompete ou no flugelhorn – torna o disco ainda mais relevante em Still water (7m40),Obelisk (5m55) e Eternal Springs (7m20).
A única balada propriamente dita do CD tem o título de Lost ship at the edge of the sea (5m45), e é interpretada em duo, sem rota previsível, por Irabagon (no sax soprano) e o pianista Perdomo. O líder-compositor também prefere o sax soprano em Still water e em Sprites (8m15).
O crítico Thomas Conrad, na review de Behind the sky para a revista JazzTimes (edição deste mês), ressaltou muito bem: “A qualidade mais notável de Irabagon, mais ainda do que seus chops (habilidade) mortais, mais ainda do que seu abundante sortimento de ideias surpreendentes, é a sua paixão”.
(A faixa One wish pode ser ouvida em httpss://soundcloud.com/jon-irabagon/01-one-wish)