Na reedição produzida pela Blue Note das sessões gravadas pelo gigante do jazz Lester Young (1909-59) para a etiqueta Alladin, na década de 1940, há quatro faixas em que o saxofonista tenor lidera um quinteto integrado por Joe Albany (piano), Irving Ashby (guitarra), Red Callender (baixo) e Chico Hamilton (bateria).
Esta sessão, que teve lugar em Los Angeles, em agosto de 1946, é o primeiro registro fonográfico relevante do pianista Joseph Albani, então com 22 anos. Nascido em Atlantic City (New Jersey), Joe Albany passou em Los Angeles grande parte da sua vida, que perdeu em Nova York, aos 63 anos, em 1988, depois de uma carreira acidentada, de mais baixos do que altos, viciado que era em heroína.
No entanto, ele deixou sua marca na história do jazz como um dos mais instigantes pianistas dos primeiros tempos dobebop, influenciado por Bud Powell (1924-66), mas com toque e enfoque muito pessoais.
Da esparsa discografia de Albany, The right combination (Riverside, 1957) é o álbum cult por excelência. Trata-se de uma gravação feita no living room de um amigo, engenheiro de som, em clima bem íntimo, na companhia do sax tenor Warne Marsh – outro músico também cultuado só pelos experts – e do baixista Bob Whitlock.
Nos anos 70, Albany ficou uns tempos na Europa. Em 1973, no clube Montmartre, Copenhague, gravou ao vivo o também referencial Birdtown birds (Steeplechase). De volta aos Estados Unidos, fez outros dois álbuns significativos: Bird lives(Storyville, 1979), em trio com Roy Haynes (bateria) e Art Davis (baixo); Portrait of an artist (Elektra, 1982), com Charlie Persip (bateria), George Duvivier (baixo) e Al Gafa (guitarra).
Joe Albany voltou à cena, no ano passado, num filme premiado no Sundance Festival, intitulado Low Down, que merece ser visto pelos jazzófilos, e pode ser adquirido nas lojas virtuais.
O filme, de 1h55m, foi dirigido por Jeff Preiss, que, em 1987, atuara como diretor de fotografia do documentário Let's get lost, de Bruce Weber, sobre Chet Baker (1929-88) - o trompetista-vocalista ídolo dos amantes do cool jazz, cuja vida foi também ceifada em decorrência de abuso de drogas.
Low Down baseou-se no livro de igual título escrito por Amy-Jo, a filha de Joe Albany, também coautora do roteiro do filme, que narra o dramático relacionamento de ambos, num período de dois anos (1974-76).
Quando o filme começa, o pai separado e a então garota de 13 anos estão sobrevivendo numa pensão barata de Hollywood, frequentada por viciados, prostitutas e artistas sem emprego fixo, num ambiente que faz lembrar um conto de Bukowski. Amy-Jo – vivida na tela por Elle Fanning – procura ver e cultuar no pai apenas o seu heroi, apesar das constantes ausências de Albany e da sua personalidade ao mesmo tempo criativa e autodestrutiva. A interpretação do pianista pelo ator John Hawkes é excepcional, até no dedilhar das notas e dos arpejos no teclado. A veterana Glenn Close (Atração fatal, 1987, de Adrian Lyne) faz o papel da avó-mãe de Amy-Jo.
A vida e os tempos de Joe Albany já tinham sido focalizados num documentário de 1980, A jazz life, de uma hora de duração, de autoria de Carole Langer. O pianista toca, e fala sobre os grandes músicos com os quais conviveu – inclusive Charlie Parker e Billie Holiday, que também tiveram suas mortes antecipadas pelo abuso de drogas.
(O trailer do filme Low Down pode ser acessado em www.youtube.com/watch?v=ikulShUobwI,
O documentário A jazz life está, na íntegra, em https://www.jazzonthetube.com/videos/joe-albany/a-jazz-life.html).