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Espanha celebra primeiro julgamento sobre bebês roubados no franquismo

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Um médico octogenário será o primeiro na Espanha a sentar-se no banco dos réus nesta terça-feira (26), em Madri, por um caso referente à prática de roubo de bebês, que afetou milhares de famílias durante a ditadura franquista (1939-1975).

As crianças eram declaradas mortas logo ao nascer e pouco depois eram confiadas a famílias adotivas, sem que seus pais biológicos soubessem de nada.

Nesse primeiro caso, será julgado o doutor Eduardo Vela, de 85 anos, que trabalhava na clínica San Ramón de Madri. O médico "presenteou", em junho de 1969, Inés Pérez com uma menina, que a registrou como sua filha biológica na certidão de nascimento, segundo o auto judicial consultado pela AFP.

A menina em questão, Inés Madrigal, agora com 49 anos, conseguiu levar o doutor Vela aos tribunais. Ela conta à AFP que, com 18 anos, ficou sabendo que era adotada, em uma conversa com sua mãe.

Mais tarde, em 2010, lendo na imprensa um artigo sobre "os bebês roubados" no franquismo, descobriu que a clínica onde nasceu, fechada em 1982, era um dos centros do tráfico de crianças nos anos 1960 e 1970.

Esse tráfico, iniciado depois da Guerra Civil espanhola (1936-1939), envolveu milhares de crianças, segundo associações que militam para que todos os casos sejam solucionados.

Por fim, descobriu que sua certidão de nascimento, em que constava a assinatura de Vela, era falsificada. "Foi uma bofetada muito forte...", recorda.

- Julgamento histórico -

Vela é o primeiro suspeito de roubos de bebês na Espanha a sentar-se no banco dos réus. As acusações que pesam sobre ele são de detenção ilegal, falsificação de documento público, suposição de parto e adoção ilegal.

Segundo a mãe adotiva de Inés Madrigal, já falecida, o dr. Vela pediu que ela simulasse uma gravidez e, depois, do nascimento, somente o consultasse caso a menina ficasse doente para que ninguém tomasse conhecimento de seu caso.

Segundo as associações, ao menos 2.000 denúncias de fatos similares foram apresentadas aos tribunais, sem que nenhuma chegasse ao final.

Os casos estão arquivados, já que os tribunais afirmam que não há provas suficientes, ou que os fatos prescreveram, explica Soledad Luque, presidente da associação. "Todas as crianças roubadas também são meus filhos", afirma.

A professora de fonética está em busca de seu irmão gêmeo, desaparecido em 1969 em uma maternidade de Madri em circunstâncias estranhas. Como em muitos outros casos, os médicos disseram a seus pais que o menino estava morto, mas ser apresentar provas.

- Prática de muitos anos -

Estes roubos de crianças começaram com a ditadura de Franco. O objetivo era punir os partidários da II República (1931-1936) liquidada pelo general golpista, acusados de transmitir "o gene vermelho do marxismo", acrescenta Duque.

O fenômeno logo atingiria as crianças nascidas fora do casamento, ou famílias pobres ou muito numerosas. Foram adotadas clandestinamente por casais estéreis ou ligadas ao regime.

Esse tráfico perdurou após a morte do ditador, em 1975, explica Duque. A prática foi mantida, assinala ela, por razões econômicas e durou até pelo menos 1987, quando se adotou uma lei que em seu preâmbulo criticava "o odioso tráfico de crianças, denunciado nos meios de comunicação".

"Se ele (o dr. Vela) se apresentar e realmente depor e contar tudo que sabe, pode abrir as portas para outros casos, outros julgamentos", acrescentou.

Esta mesma motivação levou Inés Madrigal a ir adiante para que não apenas ela se beneficiasse da justiça, mas que ajudasse muitas outras pessoas na mesma situação.

"Esse será meu maior êxito", acrescenta Madrigal, resignada por não saber quem foi sua mãe biológica.

"Vou seguir em frente mesmo que Eduardo Vela não diga por que falsificou meu nascimento e que não me conte toda a história e diga em que circunstâncias ele me separou dos braços de minha mãe biológica", conclui.

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