O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e seu principal adversário, Muharrem Ince, mantinham neste sábado (23) em Istambul seus últimos comícios na véspera de eleições legislativas e presidenciais que se anunciam disputadas, após uma campanha marcada por fortes choques entre os dois candidatos.
Essas eleições antecipadas convocadas por Erdogan, com as quais quer se manter no cargo por um novo mandato e com maioria parlamentar, são cruciais. Com o novo poder começará a reger a nova Constituição com as novas prerrogativas que reforçam o poder presidencial após a reforma adotada no ano passado.
Muharrem Ince, candidato do Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), foi a surpresa da campanha. Orador carismático conseguiu usar os códigos habituais do presidente em fim de mandato para animar a multidão.
Depois de dois grandes comícios de Ince em Izmir e em Ancara nos últimos dois dias, milhares foram neste sábado a um último ato na parte asiática de Istambul.
Ince reivindicou que "cinco milhões" de pessoas participaram de um comício em Istambul, embora tenha sido impossível confirmar essa cifra imediatamente.
- Duelo de rivais -
Ince pintou um futuro sombrio da Turquia se Erdogan vencer a eleição, assegurando que a moeda continuará sendo fraca, que os preços aumentarão e que o futuro dos 3,5 milhões de refugiados sírios ficará sem solução.
"Mas se Ince ganhar, (...) serão 80 milhões de pessoas que ganharão", disse o candidato que se gabou de realizar 107 comícios nos últimos 50 dias.
Erdogan, por sua vez, optou por uma sucessão de comícios em diferentes bairros de Istambul, ao invés de um comício maciço.
"Se Deus quiser, amanhã à noite celebraremos juntos", declarou. Em seus discursos criticou seu adversário, que teria afirmado que vigilaria o comitê eleitoral (YSK) para se assegurar de que não houvesse fraudes.
"Muharrem disse que dormirá em frente ao YSK. Isso significa que entendeu que perderá", declarou.
"Estamos em um Estado de direito", acrescentou, assegurando que todas as medidas necessárias foram tomadas para assegurar o bom desenvolvimento das eleições.
O chefe de Estado agitou em abril o calendário político ao anunciar o adiantamento para 24 de junho das eleições originalmente marcadas para 3 de novembro de 2019.
A decisão provavelmente foi motivada pelo medo da crise econômica que parece atingir o país com uma enorme queda na lira turca, a inflação de dois dígitos e um déficit significativo na balança de conta corrente.
Embora o atual presidente em fim de mandato pareça ser o favorito da eleição presidencial, muitos observadores acreditam que não vencerá no primeiro turno e que a sua formação, o Partido de Justiça e Desenvolvimento (AKP), pode perder a maioria no Parlamento.
O presidente turco teve que enfrentar na breve campanha eleitoral uma união inesperada de partidos da oposição e um adversário, Muharrem Ince, capaz de ofuscá-lo.
Ince, de 54 anos, deputado do CHP há 16 anos, conseguiu mobilizar uma oposição farta de sucessivas vitórias eleitorais de Erdogan.