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China pode ser motivo para cancelamento de encontro entre Trump e Kim

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Quase três meses depois de surpreender o mundo ao anunciar que se encontraria com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quebrou todas as expectativas para o encontro histórico entre os dirigentes das duas nações, que estava previsto para 12 de junho em Cingapura. Em carta ao norte-coreano, Trump anunciou o cancelamento da cúpula com base na “hostilidade” do discurso de Pyongyang nos últimos dias. Em resposta, a Coreia do Norte considerou “lamentável” a decisão dos EUA e disse estar aberta ao diálogo com os americanos. O anúncio do cancelamento foi feito poucas horas depois do regime comunista cumprir a promessa da destruição de sua planta de testes nucleares diante de jornalistas estrangeiros. 

Além de justificar o motivo da desistência, Trump jogou gasolina no fogo e ameaçou Kim, enfatizando o poderio nuclear dos EUA, e ressaltou que as sanções e a “pressão máxima” serão mantidas. O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, declarou ao Senado americano que a cúpula foi adiada porque tinha poucas chances de costurar um resultado positivo, uma vez que a Coreia do Norte não teria respondido às demandas dos EUA. O dirigente sul-coreano, Moon Jae-in, fez apelos para que os esforços em torno da “paz permanente” sejam mantidos. O vice-chanceler da Coreia do Norte, Kim Kye Gwan, reiterou a disposição do país de “se sentar frente a frente” com os EUA. 

Segundo a doutoranda em economia política internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Alana Camoça, apesar do otimismo construído em torno da reunião, as negociações eram frágeis. “É muito provável que haja um movimento da Coreia do Sul com Moon Jae-in para tentar restabelecer o diálogo entre EUA e Coreia do Norte, mas a história nos mostra que esse encontro tem grande dificuldade de se consolidar”, disse a especialista, que não descarta a possibilidade da reunião ocorrer no futuro. No entanto, Camoça ressalta: “Uma reunião não significa tudo. É preciso ver se promessas serão concretizadas através de ações”. 

O secretário-geral da ONU, António Guterres, demonstrou “profunda preocupação” diante do cancelamento do encontro, e clamou para que a negociação seja mantida entre os países para garantir a desnuclearização da Coreia do Norte. 

A destruição do arsenal nuclear parecia próxima da realidade, em especial depois do desmantelamento do centro de testes nucleares de Punggye-ri “É bem possível que não tenhamos a desnuclearização se concretizando. O poder nuclear norte-coreano faz parte de sua identidade nacional. Não sabemos ainda o que a Coreia do Norte entende por desnuclearização”, afirma Camoça. 

Antes de cancelar a reunião, Trump chegou a insinuar que Kim mudou seu comportamento depois de um encontro com Xi Jinping na China em 8 de maio. Para a acadêmica, há fundamento na lógica do americano. “É curioso que a reunião entre as Coreias tenha sido cancelada depois do encontro entre Kim e Xi. Isso mostra indícios de que existe um debate entre a Coreia do Norte e a China a respeito de como eles desejam atuar no sistema internacional e nesta questão. A Coreia do Norte funciona como um importante aliado chinês e uma ‘zona tampão’ à presença norte-americana na península. É um dos motivos que torna tão complicado pensar na paz na península”, conclui Camoça. 

* Com supervisão de Denis Kuck