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Crise política inédita na Alemanha coloca Merkel sob pressão

Pela primeira vez, país não conseguiu formar um governo nacional

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Após o fracasso inédito na formação de um governo de coalizão na Alemanha, o país vive uma crise política inesperada - que virou um grande teste para a chanceler Angela Merkel.

Para evitar um cenário ainda mais caótico, o presidente do país, Frank-Walter Steinmeier, fez um apelo para que os partidos "dialoguem" e assumam "suas responsabilidades" a fim de evitar a convocação de novas eleições.

O mandatário tem o poder de dissolver o Parlamento, caso seja necessário, mas optou por conversar com os líderes de todos os partidos - com exceção da extrema-direita e dos radicais de esquerda - para tentar encontrar uma solução para o país.

A chanceler, líder do União Democrata-Cristã (CDU), descartou a possibilidade de ter um governo de minoria após conversar com Steinmeier nesta segunda-feira (20). Mas não deve fechar a porta para continuar o diálogo. Já nesta terça (21), o mandatário conversará com os líderes dos Verdes e do Partido Liberal Democrático (FDP), que estavam nas primeiras negociações que fracassaram. O chefe dos liberais, Christian Lindner, foi quem anunciou a decisão chocante de deixar as tratativas por acreditar que era "melhor não ter acordo do que um governo ruim".

A conversa mais importante, no entanto, será com o líder do Partido Social-Democrata (SPD), Martin Schulz, que se nega a voltar a fazer parte do governo. De acordo com o professor de Negociação e Resolução de Conflitos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Yann Duzert, as conversas com a chamada "coalizão Jamaica" tiveram um impasse em dois pontos fundamentais: imigração e uso do carvão.

"Um problema das conversas é a questão da imigração, onde os Verdes estão prontos para fazer algumas concessões, entre as quais, alongar a lista dos países seguros, que não são fomento do terrorismo, e multiplicar os lugares de hospedagem para pessoas que pedem asilo e assim controlar melhor a presença delas. Em troca, os ecologistas pedem para renunciar à proposta de 200 mil refugiados por ano e, sobretudo, ao reagrupamento familiar", explica Duzert.

A lei que endureceu a regra do reagrupamento de imigrantes, que aumenta consideravelmente o número de estrangeiros no país, foi aprovada pela Alemanha em 2016. E, enquanto o CDU/CSU quer prorrogar a medida, os Verdes são contrários.

Segundo o professor, outro ponto problemático das conversas é a questão ambiental, já que a "coalizão gostaria de parar o motor à explosão em 2030 e, em troca, fechar todas as centrais termoelétricas de carvão". "Só que o CDU tem muito poder na região da Renânia do Norte-Vestfália e aí, politicamente, é muito complicado para eles fazerem concessão nessa questão do carvão. Então, tem um jogo político para postergar o consumo de carvão, e os Verdes são completamente contra", acrescenta.

"Então, as negociações da coalizão estão sendo altamente complexas, com interesses cruzados, para não dizer antagônicos.

Muitos já dizem que se não conseguir formar essa coalizão, precisará de uma nova eleição", explica Duzert.

A última opção, analisa o especialista da FGV, seria voltar à parceria com o SPD, mesmo com as declarações de Schulz de não ter interesse em ser parte novamente do governo.

"A última alternativa seria uma reviravolta, com o CDU ir com o SPD, que perdeu as eleições e que não quis mais fazer parte para tentar se renovar e retomar um pouco de força. Então, seria o único jeito, talvez, de não ter que fazer a coalizão com os Verdes ou os liberais. Precisamos ver se Merkel consegue fazer algo 'fora da caixa' para se reunir com seu velho aliado", finaliza Duzert.