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Políticos falam da morte de Riina e pedem luta contra máfia

Para autoridades, morte de 'chefe dos chefes' não muda cenário

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Diversas autoridades e políticos italianos se manifestaram sobre a morte do mafioso Salvatore "Totò" Riina, histórico líder da Cosa Nostra, e pediram uma reforço no combate à máfia que ainda existe no país.

"O Estado deve marcar sua própria diferença e distância da máfia em todas as ocasiões e fazer aquilo que a máfia não faz contra aqueles que caíram em suas garras, manifestando piedade por aqueles que não souberam o que era isso. Não significa, no entanto, subavaliar o perigo que ainda hoje a máfia representa: morre o protagonista de uma temporada, mas a temporada de hoje, talvez menos rumorosa e sanguinária, não é menos perigosa", disse o ministro da Justiça, Andrea Orlando.

De acordo com Orlando, acrescentou ainda que a "máfia sabe mudar e a impressão de que, de alguma maneira, essa morte feche um capítulo, não deve nos induzir a baixar a guarda".

Já o presidente do Senado, Pietro Grasso, usou as redes sociais para se manifestar sobre a morte do "chefe dos chefes".

"A piedade perante à morte de um homem não nos faz esquecer o que ele cometeu em vida, a dor causada e o sangue derramado. Ele vai levar consigo muitos mistérios que seriam fundamentais para encontrar a verdade sobre as alianças, tramas de poder, cúmplices internos e externos à máfia. Mas nós, todos nós, não podemos parar de buscá-la", escreveu.

A fala fez referência aos inúmeros relatos de interferência de políticos nos atentados e nas fraudes cometidas pela Cosa Nostra, que geram até hoje um processo chamado de "Máfia-Estado" e que suspeita que autoridades estejam envolvidas nas mortes de juízes e políticos rivais.

Em um evento público, horas depois, Grasso voltou a falar sobre o tema e alertou que a morte de Riina, assim como a de seu "companheiro" histórico, Bernardo Provenzano, "causará novos problemas no interior da Cosa Nostra para a sucessão porque, enquanto um chefe está vivo, mesmo que na prisão, não é substituído".

O senador do partido Força Itália, de Silvio Berlusconi, Maurizio Gasparri, usou o Twitter para falar sobre a morte do mafioso. "Riina encontrará também no outro mundo uma condenação severa com 'penas que não terminam'. Com Riina, morre um criminoso feroz, mas infelizmente não morre a máfia. Foi um assassino e vergonha da Itália. Mantemos a guarda alta", escreveu.

Quem também se manifestou foi a presidente da Comissão Parlamentar Antimáfia, Rosy Bindi, que lembrou que Riina jamais se arrependeu dos inúmeros homicídios cometidos.

"Totò Riina é o chefe indiscutível e sanguinário da Cosa Nostra dos atentados. Aquela máfia já foi derrotada antes de sua morte, graças ao duro empenho das instituições e o sacrifício de tantos homens corajosos e justos. Não podemos esquecer daquela temporada dramática, marcada pelo delírio de um homem impiedoso, que jamais se arrependeu dos seus crimes e nunca colaborou com a justiça", disse Bindy.

Segundo a senadora, é necessário "buscar a verdade" sobre quem "encomendou" os ataques. "O fim de Riina não é o fim da máfia siciliana, que permanece como um sistema criminoso de altíssima periculosidade", destacou.

O vice-presidente da Câmara dos Deputados, Luigi di Maio, do Movimento Cinco Estrelas, afirmou que a morte do mafioso "não encerrou nosso acerto de contas com o passado". "As máfias ainda estão fortes, elas infiltraram a economia privada e os entes públicos. O Estado precisa resistir e aquele senhor estava na prisão em um regime duro - e é assim que aqueles como ele devem ficar", destacou Di Maio.

- Procuradoria: Entre os que se manifestaram hoje sobre a morte do "mais sanguinário" dos líderes da máfia, está o ex-procurador antimáfia da Itália Antonio Ingroia, que atuou em diversos casos envolvendo Riina.

"Poderão dar um suspiro de alívio os tantos potentes que, em todos esses anos, sempre temeram que poderiam ser desmascarados pelas verdades incomunicáveis sobre as negociações dos atentados de 1992 e 1993. Primeiro Provenzano e agora Riina morreram sem falar, levando para a tumba os terríveis segredos que tinham conhecimento", disse Ingroia.

Ele acrescentou ainda que a morte do mafioso "cobre com uma cortina de silêncios os malfazeres de uma inteira classe dirigente que atuou em conluio com a máfia".

"Agora, abre-se a corrida para a sucessão do 'chefe dos chefes'.

Porque, mesmo que existisse o 41 bis [lei italiana mais dura, aplicada aos chefões mafiosos], ele sempre permaneceu como o chefe formal da Cosa Nostra em todos esses anos de detenção", destacou.

Riina estava preso desde 1993, quando foi capturado após mais de 20 anos de fuga, e cumpria 26 condenações de prisão perpétua por inúmeros homicídios e atentados na Itália.

Já o procurador nacional antimáfia e antiterrorismo, Franco Roberti, afirmou que Riina "morreu como chefe" e que agora será necessário "ver com muita atenção os reflexos que a sua morte terá sobre a Cosa Nostra, para entender quem assumirá seu lugar".