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'Clarín': Argentina aposta em guinada “populista” para ganhar tempo

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Matéria publicada nesta terça-feira (29) pelo Clarín conta que existem três leituras possíveis da guinada que o governo Macri deu nos últimos dias: acalmar as águas com os movimentos sociais, que na verdade são movimentos políticos que se apresentam como sociais, tentar reanimar o consumo e, fundamentalmente, ganhar tempo pensando que o futuro será melhor. O Indec (IBGE argentina) informou: a atividade econômica desabou 3,7% em setembro e já apresenta, bem medida, uma queda de 2,4% desde janeiro. Esse dado tem o valor político de não ser mais ocultado, mas sua contundência sobre o desempenho ruim da economia é eloquente. Diante desse panorama, a negociação política passou para o primeiro plano. A oposição, de todos os tipos, tem faro para detectar a hora certa e apertou para tirar proveito pensando nas próximas eleições.

A reportagem do jornal argentino analisa que aproveitando a ocasião, o PJ (Partido Justicialista), o maior da Argentina, bloqueou a reforma política de Macri. Fez isso usando argumentos técnicos, que o governismo se obstinou em ignorar apesar de eles terem sido apresentados amplamente. Na verdade, porém, a defesa do sistema eleitoral tradicional significa também uma defesa de outros métodos que nada têm a ver com a transparência do ato eleitoral. Neste caso, optar pela cédula única de voto teria sido uma saída que poderia ter agradado vários políticos. A discussão do Orçamento 2017 foi apresentada como uma mostra de racionalidade. Como essa aparência se compatibiliza com o novo cenário que terá que se nutrir dos recursos que todos discutiram e acordaram? O governo se apressou a esclarecer que os 30 bilhões de pesos, em três anos, destinados à emergência social virão de outras remessas. Ainda não se sabe quem perdeu nessa briga. 

O noticiário diz que o déficit fiscal é uma variável coberta com empréstimos externos, mas esse recurso, já se sabe, não pode ser usado ilimitadamente. Macri quis ouvir a opinião do ex-ministro da Economia Roberto Lavagna sobre a situação econômica, como o colunista Julio Blanck revelou no Clarín. Pelas declarações críticas de Lavagna, atual membro do partido Frente Renovador, não houve muita empatia com as posições do presidente. Além desse detalhe, é evidente que Macri está preocupado porque a conjuntura consome sua energia, mas na política argentina o que manda é o curto prazo.

O Clarín aponta que o governo tenta fazer a lição de casa – bônus de fim de ano, acerto com os sindicalistas sobre planos de saúde – mas ainda não colhe os frutos que permitam brecar a ofensiva desse setor. Se essa negociação permitiu isolar os setores minoritários que apostam na saída prematura do governo, isso se verá em dezembro. Em termos políticos, o que deveria seriamente preocupar a base partidária do governo Macri ‘Cambiemos’ (Mudemos) é o descontentamento da classe média que votou em Macri no primeiro e no segundo turno. É aí que o governo terá que trabalhar para melhorar as perspectivas.

 É prematuro, claro, tirar conclusões mais ou menos firmes sobre o futuro comportamento dos eleitores nas eleições legislativas de 2017. Mas, nas medições da temperatura atual, há pesquisas que mostram que na Província de Buenos Aires, a maior do País, os possíveis candidatos do governo estão sofrendo. Curiosamente, também se registra uma baixa nas preferências por Cristina Kirchner. A agitação na base governista é um indício de que a polêmica interna está apenas começando, finaliza o Clarín.