ASSINE
search button

'Le Monde': Cuba e Castro, uma história de esperança e desespero

Editorial do jornal francês questiona herança de Fidel e diz que morre uma lenda mundial

Compartilhar

Neste sábado (26) o jornal Le Monde publicou um editorial sobre o líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, falecido na noite desta sexta-feira (25) em Havana aos 90 anos. 

O texto diz que "não se pode mais entender o impacto da revolução de Castro na pequena ilha do Caribe. No ano de 1959, quando o líder guerrilheiro "barbudo" assumiu o poder em Havana, o socialismo tal como consagrado pela URSS estaria preso em uma tirania burocrática.

"A revolução cubana é uma democracia humanista", disse Castro. Por dois anos, ele hesitou antes de saltar para os braços de Moscovo. Os historiadores ainda discutem: É culpa da agressividade de Washington, ou "Fidel" já havia decidido estabelecer um regime comunista em Cuba?

> > Le Monde Cuba et Castro, une histoire d’espoir et de désespérance

O homem que um dia disse que seria “absolvido” pela história morreu nesta sexta-feira, descreve Le Monde, acrescentando que ele foi como uma das figuras mais emblemáticas do último século. Responsável pela morte de milhares de pessoas em julgamentos sumários, pela fuga de milhões para o exterior e pela penúria dos que permaneceram no país, Fidel Castro saiu da linha de frente da política cubana ao transferir a presidência para o irmão, Raúl, em 2006. Mas permaneceu assombrando o povo e preservando sua tenebrosa herança.

Le Monde destaca que a saída de Fidel não significou uma abertura do país para a economia de mercado. Pelo contrário, a ilha seguiu emperrada, e melhorar de vida continuou a ser um ato tão subversivo quanto dar uma opinião sobre a política nacional. Se internamente as dificuldades não dão trégua, um sopro de esperança veio do inimigo externo, os Estados Unidos, que decidiu reatar relações diplomáticas com a ilha no apagar das luzes de 2014. Raúl, no entanto, fez questão de dizer que a aproximação não significará ‘tirar Cuba do rumo’, provando que Obama pode tentar a sua parte, mas alterações significativas dependem da saída de cena dos ditadores.

Uma lenda mundial

O presidente francês François Hollande expressou neste sábado (26) suas condolências a Raúl Castro, irmão de Fidel e seu sucessor, e ao "povo cubano", afirmando que a França "sempre contestou o embargo imposto pelos Estados Unidos a Cuba."

"O comandante-chefe da Revolução cubana morreu às 22h29 desta noite", afirmou Raúl Castro, irmão de Fidel e seu sucessor no poder desde 2006, em declaração oficial na televisão nacional cubana. Raul terminou o anúncio da morte de Fidel citando o famoso jargão "Até a vitória, sempre!" ("Hasta la victoria, siempre"), símbolo do “Comandante” Castro e conhecido no mundo inteiro.

O governo cubano declarou luto oficial de nove dias na ilha. A morte de Fidel Castro acontece apenas dois anos após o anúncio histórico da reaproximação entre Cuba e os Estados Unidos. Raúl Castro anunciou que o corpo de Fidel será cremado ainda neste sábado, "segundo sua vontade". As cinzas de Fidel Castro percorrerão o país numa caravana de quatro dias, segundo fontes oficiais. O funeral do ex-líder cubano acontecerá no próximo dia 4 de dezembro em Santiago de Cuba.

O presidente francês, François Hollande, afirmou na manhã deste sábado (26), por meio de um comunicado oficial, que "Fidel Castro foi uma figura do século 20. Ele encarnou a revolução cubana, tanto nas esperanças que ela suscitou, quanto nas desilusões que ela provocou", declarou. 

"Ele soube representar para os cubanos o orgulho da rejeição à dominação externa", afirmou Hollande.