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'Le Monde': A grande questão entre xiitas e sunitas

Entenda como estas duas grandes famílias do Islã se conectam, diferenciam e se opõem

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Matéria publicada nesta sexta-feira (8) no Le Monde, analisa que o rompimento das relações diplomáticas da Arábia Saudita com o Irã, acendeu a questão sectária entre xiitas e sunitas no Oriente Médio. As crescentes tensões entre as duas potências rivais, rapidamente se transformou em um conflito sectário entre sunitas e xiitas. Para entender melhor, aqui está um resumo de como estas duas grandes famílias do Islã se conectam, diferenciam e se opõem. 

Em termos de lei, ambos os grupos islâmicos seguem a Sharia, mas alguns Estados têm interpretações diferentes sobre as punições. Fundado por Maomé (570-632) no século 7, o Islamismo foi dividido predominantemente entre xiitas e sunitas após a morte do líder religioso, quando foi iniciada uma disputa sobre quem ocuparia a posição de principal liderança da comunidade islâmica mundial. Mas apesar de esses grupos corresponderem a vertentes distintas da religião, eles ainda compartilham de crenças e práticas fundamentalistas, como a fé no Alcorão e a regência da Sharia, código de leis do islamismo. 

Os xiitas surgiram após o assassinato do quarto sucessor de Maomé, o califa Ali (601-661), também primo e genro do profeta. Como Maomé não indicou um sucessor, os califas – chefes de Estado – assumiram a liderança da comunidade muçulmana. Depois da controversa posse de Ali, porém, uma parte dos muçulmanos – os autodenominados "shiat Ali", ou "partidários de Ali", em tradução livre – passou a defender que a única liderança legítima para o Islã deveria vir da linhagem direta de Maomé. Em meio à violência e rede de intrigas que dominou o curto reinado de Ali, o assassinato do califa rendeu uma série de outras tragédias entre os herdeiros de Maomé. Seus netos, Hassan e Hussein, foram mortos em diferentes circunstâncias: Hassan teria sido envenenado por Muawiyah, o primeiro califa da dinastia Umayyad, e Hussein foi vítima de uma conspiração em uma batalha. Esses eventos deram origem ao conceito xiita do martírio e rituais de luto.

Já os sunitas, termo que deriva da palavra Sunna – documento sagrado que narra as experiências de Maomé em vida –, assumiram uma visão mais ortodóxica e pragmática do Islã após a morte do profeta. Diferentemente dos xiitas, eles reconhecem a liderança dos primeiros califas que assumiram a liderança da comunidade islâmica após 632, e não apenas Ali, genro e primo do profeta. A seita defende ainda que a religião e o Estado devem ser uma coisa só e acreditam que os quatro califas que sucederam Maomé lideraram a comunidade legitimamente e seguiram governando o mundo árabe até o fim do Império Otomano, depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). 

Em termos de lei, ambas as seitas seguem a Sharia, mas com interpretações diferentes. De acordo com um relatório do Council of Foreign Relations, cada país tenta conciliar os costumes locais com o Islã, o que diferencia o peso que cada uma aplica à forma como a sharia é interpretada. Quando o assunto é casamento ou divórcio, as leis de ambas as seitas são bem parecidas, mas diferem expressivamente sobre as leis criminais. 

No Irã, que é xiita, a pena capital mais aplicada é a forca. Já na Arábia Saudita, sunita, as sentenças variam. Por apostasia – abandono da fé – por exemplo, o condenado é decapitado com uma espada, enquanto, por adultério, a pena é a morte por apedrejamento.

Geralmente, os sunitas são mais abertos em termos religiosos e políticos do que os xiitas. "Igrejas xiitas no Brasil são feitas somente para descendentes de árabes. Um brasileiro não pode se converter e ser bem recebido numa mesquita xiita. 

Os terroristas do Estado Islâmico, que se definem como grupo sunita, não seguem nenhuma vertente conhecida do Islã, mas uma corrente nova que aplica as leis da Sharia e do Alcorão conforme a visão do líder e fundador do EI, Abu Bakr al-baghdadi.