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Jornais italianos revelam bastidores da eleição de Bergoglio

Arcebispo argentino teria recebido 90 votos impulsionado pelo "efeito Ratzinger"

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A imprensa italiana, que indicou sem sucesso diversos nomes que poderiam ocupar o lugar do papa emérito Bento XVI, apresentou nesta sexta-feira (15), os bastidores da votação que levou ao papado o arcebispo argentino Jorge Mario Bergoglio, o Francisco.

No Corriere della Sera, a vaticanista Antonietta Calabrò afirmou que na última etapa do conclave Bergoglio teria levado cerca de 90 dos 115 votos. Antonietta disse ainda que os votos em Bergoglio seriam resultado de um acordo entre os homens da Cúria, citando, especificamente, o decano do Colégio dos Cardeais, Angelo Sodano (que não participou do conclave) e os cardeais Giovanni Battista Re e Tarcisio Bertone, além dos cardeais americanos, para que houvesse, "finalmente, o papa das Américas".

O artigo relata também que Bertone, o poderoso camerlengo (administrador dos bens da Igreja e designado a assumir interinamente o comando da Igreja Católica no caso de abdicação ou morte do papa), teria "retirado o seu apoio a Scherer após críticas dele ao cardeal Re nas Congregações Gerais", mostrando que o brasileiro não entrou no conclave como eventual candidato da Cúria.

‘La Stampa’ relembra conclave de 2005

Andrea Tornielli, um dos principais vaticanistas do jornal La Stampa, contou que Bergoglio evitava a Cúria Romana, que vinha a Roma "o mínimo necessário" e que não tinha participado, nas duas semanas antes do início do conclave, de qualquer reunião para discutir sua eventual candidatura.

"Como pôde acontecer, então", pergunta o especialista, "de ele receber, em apenas cinco votações, bem mais dos que os 77 necessários para ser eleito?".

Para o representante do La Stampa, o fato de Bergoglio ter sido o principal rival de Joseph Ratzinger no conclave de 2005, informação revelada pelo diário de um cardeal vazado para a imprensa na época, pode ter sido mais uma desvantagem do que uma ajuda.

Porém, depois disso, a "autoridade" do arcebispo de Buenos Aires passou a aumentar, "por exemplo, durante os trabalhos da reunião do CELAM de Aparecida do Norte (Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, em 2007) e durante o Sínodo dos Bispos (em 2012, no Vaticano)".

“Efeito Ratzinger”

A "sincera" e breve participação de Bergoglio na Congregação do Colégio dos Cardeais, uma semana antes do conclave, em que "falou sobre o rosto da misericórdia de Deus", teria "particularmente impressionado os cardeais". Além disso, no instante em que os jornais focavam seus holofotes no italiano Angelo Scola, no canadense Marc Ouellet e no brasileiro Odilo Scherer, cardeais de diferentes continentes, como África e Ásia e ainda alguns ligados à Cúria italiana, "já tinham decidido votar nele".

O nome do argentino surgia com consistência na primeira votação, na terça-feira. A partir daí, quando apareceu o nome de Angelo Scola, o candidato que vinha sendo apontado como favorito pela mídia local, não proporcionava "a consistência esperada", Bergoglio foi beneficiado pelo que o jornalista chamou de "efeito Ratzinger".

Como no conclave de 2005, a cada rodada, o cardeal argentino foi levando os votos daqueles que viam que seu candidato estava fora do páreo. "Ele levou os votos que estavam indo para Ouellet, Scherer e, finalmente, Scola", diz o artigo.