Paris - Entre os “papáveis” europeus, o cardeal italiano Angelo Scola, 71 anos, é visto como o preferido do papa Bento XVI. O sinal teria sido dado em 2011, quando Joseph Ratzinger promoveu Scola para o comando da diocese de Milão, uma das mais influentes da igreja católica – o cargo já alçou a papa dois arcebispos no século XX, Paulo VI e Pio XI. Antes disso, ele já era patriarca de Veneza, outro dos postos mais prestigiados do catolicismo.
Não é de agora que o sorridente arcebispo tem alta a sua taxa de “papabilidade” – como os vaticanistas, os estudiosos da cúpula da igreja, chamam as chances de cada candidato a futuro papa. Desde 2005, no Conclave para a sucessão de João Paulo II, Scola era um dos favoritos. Agora, pela proximidade com Bento XVI, seria uma escolha natural se os cardeais que participarão da votação optarem por um caminho de continuidade do legado do atual papa.
Mas se engana, entretanto, quem supõe que Scola é obrigatoriamente um religioso conservador, como Ratzinger. Se nas questões relacionadas à família e à bioética os dois homens se aproximam, em outros aspectos, como o gosto pronunciado pelas questões sociais e o engajamento contra a pobreza, eles são diferentes.
Dono de múltiplas facetas, o italiano desde cedo devora livros de filosofia, teologia, sociologia e ciências sociais. Apaixonado pela política, se tornou um militante socialista e, no Vaticano, é conhecido pela abertura ao diálogo.
De origem humilde, como o pontífice, o arcebispo de Milão é fã das redes sociais e esbanja carisma. Filho de uma mãe bastante devota e um pai caminhoneiro, o intelectual Angelo Scola, titular de dois doutorados, participa de um centro de pesquisas e, não satisfeito, fundou um think thank, Oasis, destinado a refletir sobre a aproximação entre a igreja Católica do Islã. Defensor de uma sociedade onde as religiões convivem em mais harmonia, não resiste a se exprimir em contrário quando algum de seus colegas emite comentários com ares de islamofobia. Por ser italiano, poderia ter mais facilidade a modernizar a cúria. Por outro lado, o fato de já ter passado dos 70 anos pode ser o grande ponto fraco da sua candidatura, após a renúncia histórica de Bento XVI ter sido motivada, pelo menos oficialmente, por razões de saúde.
Christoph Schönborn
O cardeal-arcebispo austríaco Christoph Schönborn, ao contrário, tem uma idade considerada ideal: 67 anos, que lhe conferem ao mesmo tempo experiência e longos anos de pontificado pela frente. A dedicação profunda aos estudos também o aproxima do atual papa, chamado de “pai intelectual” do austríaco.
Como Ratzinger, Schönborn não chama a atenção por suas ideias reformistas, mas conquistou inimigos na cúria ao criticar o silêncio da Igreja diante dos escândalos de pedofilia envolvendo padres católicos. Antes de Bento XVI, já era apreciado por João Paulo II, que o confiou a tarefa de coordenar a redação do Catecismo da Igreja Católica, em 1992, apesar de ser próximo da igreja ortodoxa.
A nacionalidade, entretanto, poderia ser um entrave à escolha de Schönborn, depois de um papa polonês e outro alemão. Além disso, a igreja austríaca sofre há anos com perda de devotos, problema que tenta remediar com posturas contestadoras e progressistas em relação aos dogmas do Vaticano, como a nomeação de mulheres para cargos tradicionalmente ocupados por homens.
Peter Erdö
Aos 61 anos, o arcebispo de Budapeste, Peter Ergö, 60 anos, é um dos mais jovens cardeais do Vaticano, mas isso não o impede de defender um catolicismo mais conservador. Como presidente da Conferência Episcopal da Europa, Erdö prega que, apesar das pressões, a Igreja revitalize e dissemine os seus dogmas tradicionais.
Poliglota, o húngaro fala sete línguas e, como Scola, possui dois doutorados, em Teologia e Direito Canônico. A habilidade com os idiomas é um instrumento valioso nas suas atividades como apóstolo de evangelização na Europa. Foi ordenado cardeal em 2003, por João Paulo II, e dois anos depois participou da conclave que elegeu Bento XVI. Citado por especialistas no Vaticano como um dos possíveis nomes a suceder Joseph Ratzinger, Erdö seria a “zebra” do conclave que acontecerá em março.