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Monarquia espanhola em risco

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O último episódio de corrupção envolvendo a família real espanhola coloca em xeque a monarquia já desacreditada no país. Com a economia em recessão há cinco anos, 60% dos jovens desempregados e uma série de episódios vexaminosos que envolvem até o rei Juan Carlos, a população começa a questionar se a Espanha ainda precisa da Coroa.

Iñaki Urdangarin, genro do rei Juan Carlos e seu ex-sócio Diego Torres, são acusados de desviar dinheiro público ao utilizar o Instituto Nóos, uma fundação sem fins lucrativos da qual participavam, para conseguir contratos milionários com os governos das Baleares e de Valencia, sem licitação. 

Para piorar, no último sábado (16) durante depoimento ao tribunal que julga o caso, Diego Torres declarou que a princesa Cristina de Bourbon e seu assessor tinham participação ativa na tomada de decisões da instituição. A defesa do acusado entregou ao juiz documentos e e-mais para sustentar as afirmações.

Com o desemprego em níveis dramáticos (26%, sendo que entre os jovens chega a 60%) é difícil para a população engolir que um jovem casado com a filha de um rei, que além de ter o privilégio de receber o salário que os monarcas ganham e gozar de toda a influência que possui, se envolva num caso de corrupção e desvio de verbas públicas. Urdangarin exercia ainda papel de conselheiro para a Telefônica Latino América e recebia cerca de R$ 4 milhões anualmente pelo cargo na companhia. Por conta dos escândalos, em outubro de 2012 ele deixou a companhia.

As atitutes do rei Juan Carlos e sua relação com personagens "estranhos" são motivos de comentários por parte da imprensa espanhola. Um de seus amigos "íntimos", Manolo Prado, então indicado pelo rei como embaixador da Coroa espanhola, tem seu nome envolvido em crimes de corrupção envolvendo uma autoridade iraniana.

Outro episódio desastrado aconteceu em abril do ano passado. Aos 74 anos, Juan Carlos  - que participa de uma organização protetora dos animais mas não abre mão de manter seus hobbies -, saiu para caçar elefantes numa viagem que deveria ter sido mantida em sigilo. No entanto, por conta de um tropeço - o rei sofreu uma queda, quebrando o quadril em três lugares - os detalhes da viagem começaram a se espalhar e causaram indignação na população espanhola. Apesar de não bancada por dinheiro público, os comentários dizem que custou mais do que o salário anual de um espanhol comum.

A infeliz caçada foi seguida por uma semana tumultuada na qual seu neto de 14 anos, Felipe Juan Froilán, atirou acidentalmente em seu próprio pé enquanto caçava com seu pai no norte da Espanha. Todos estes 'imprevistos' mancharam a credibilidade da família real, principalmente porque ocorreram poucos meses depois de Urdangarin ter sido acusado de desviar verbas públicas.

Os jovens espanhóis estão cada vez mais desacreditados na política nacional e repetem durante os protestos: "Os partidos políticos não nos representam". Uma pesquisa recente para o jornal "El País" mostrou que 96% dos espanhóis afirmam que a corrupção está amplamente disseminada no comando do país; 77% desaprovam o trabalho de Mariano Rajoy à frente do governo; 85% têm pouco ou nenhuma confiança nele; e 80% dos entrevistados acreditam que os líderes do Partido Popular denunciados deveriam renunciar.