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A vida privada de Putin, um segredo de Estado na Rússia 

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MOSCOU - O ex-agente da KGB Vladimir Putin, atualmente primeiro-ministro e candidato à Presidência da Rússia, fez de sua vida privada um segredo de Estado, tão intenso que um jornal foi temporariamente fechado por falar de seu suposto romance com uma atleta olímpica russa.

Sua esposa Lyudmila raramente aparece em público e suas duas filhas são invisíveis.

Em abril de 2008, o jornal Moskovski Korrespondent foi fechado por alguns dias por levantar rumores de uma possível relação de Putin com a ginasta Alina Kabaeva, uma campeã olímpica com a metade de sua idade.

Putin desmentiu os rumores advertindo os que "se intrometem na vida privada dos demais com seu nariz mórbido e seus fantasmas eróticos".

Desde então, Lyudmila praticamente não foi vista mais em público. Não votou com seu marido nas legislativas de dezembro e este foi sozinho à missa de Natal, em janeiro, diferentemente do presidente Dimitri Medvedev, que estava acompanhado de sua esposa.

Ainda menos se sabe sobre as duas filhas do primeiro-ministro, que quer voltar ao Kremlin para um terceiro mandato depois das presidenciais de 4 de março. As últimas fotos de Maria, de 26 anos, e Katerina, 25, são de sua infância.

Perguntado sobre essa questão, o porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, explicou em outubro que é preciso "respeitar a escolha pessoal" do primeiro-ministro. "Ele é o chefe da família e toma as decisões que considera necessárias", argumentou.

"Putin não quer falar disso e os diretores dos meios de comunicação importantes foram informados. Nenhum jornalista pode falar desse assunto delicado", esclarece à AFP o antigo assessor de Putin, Gleb Pavlovski.

"Há dez anos, não expunha suas filhas por razões de segurança, mas se sabia alguma coisa sobre elas. Hoje, dá uma nova visão de sua personalidade, de um homem sozinho, casado com o Estado", acrescenta.

O assunto tabu foi levantado em uma grande manifestação da oposição contra Putin em Moscou em fevereiro pelo crítico musical Artemi Troitski, que declarou diante de dezenas de milhares de manifestantes que o país deve ter informações sobre a família de seu líder.

"Faz nove anos que suas filhas estudam na Universidade de São Petersburgo, mas ninguém nunca as viu. A esposa do candidato aparece tão pouco em público que se diz que está reclusa em um monastério. A isso se somam rumores sobre jovens amigas e filhos secretos", escreveu em seu blog que denuncia o "Barba azul do Kremlin".

"Não acontece nada parecido na Coreia do Norte ou na África Central", garante Troitski.

Com uma ousadia pouco habitual, o pequeno teatr.doc de Moscou apresenta, a três semanas das eleições, uma peça satírica intitulada BerluPutin, em que Alina Kabaeva se envolve com um heroi cuja esposa está presa em um convento.

Para a socióloga Olga Kryshtanovskaia, a questão da transparência da vida privada de seu líder apenas diz respeito aos "pró-ocidentais que representam menos de 10% da população".

"Em seu todo, a sociedade é muito conservadora, com uma atitude patriarcal perante a mulher. O homem tem um papel especial e não deve compartilhar o poder com sua esposa", afirma.

A forte presença de Raisa, a esposa de Mikail Gorbachov, que não escondia seu amor por sua esposa elegante e culta, foi uma exceção na história do país e irritava muito os russos, relembra a socióloga.

Ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, onde uma história sobre relações sexuais com uma estagiária esteve a ponto de custar a presidência de Bill Clinton, "a sociedade russa não quer saber a verdade", aponta Kryshtanovskaia.

"Ao mesmo tempo, as pessoas se animam com os rumores que fazem de Putin um sedutor com jovens e belas amantes e filhos", conclui.