A opositora de Mianmar, Aung San Suu Kyi, lançou oficialmente nesta quarta-feira
a sua campanha para ocupar uma cadeira no Parlamento. As eleições parciais serão
daqui a dois meses e, para as potências ocidentais, é uma prova da sinceridade
das reformas do novo governo.
A presidente da Liga Nacional para a Democracia (LND) apresentou nesta quarta-feira sua candidatura para as eleições do dia 1º de abril na circunscrição de Kawhmu, perto de Yangun, uma das áreas devastadas em 2008 pelo ciclone Nargis que deixou cerca de 138 mil mortos.
"Aung San Suu Kyi é a primeira da LND a se registrar hoje. Ela se candidatará à Câmara Baixa", disse Win Htein, líder do partido onde a Prêmio Nobel da Paz fez toda a sua carreira política.
É a primeira vez que a ícone da oposição se candidata.
Nas eleições de 1990, quando a LND humilhou o regime militar ao ganhar 392 cadeiras das 485 disputadas, Suu Kyi já estava presa. Este resultado, contudo, nunca foi respeitado.
Aung San Suu Kyi foi libertada de sua prisão domiciliar uma semana depois das eleições de novembro de 2010, quando a população foi convocada para designar, pela primeira vez em 20 anos, a Assembleia Nacional e Regional, dos quais 25% das vagas estão reservadas aos militares ativos.
A junta militar, que estava no poder, criou um partido especialmente para essas eleições e obteve uma vitória esmagadora. Mas o processo foi denunciado pelo Ocidente como um disfarce e por suspeitas de fraude.
Depois de quase meio século no poder, a junta se dissolveu em março e transferiu seus poderes para um governo "civil" controlado por ex-militares.
Este novo governo liderado pelo presidente Thein Sein realizou nos últimos meses reformas importantes no país.
Centenas de presos políticos foram libertados e a volta para a arena política de Suu Kyi, que passou a maior parte de sua vida sob custódia, foi enfim liberada.
A LND, dissolvida pela junta em maio de 2010 por ter anunciado o boicote às eleições de novembro deste ano, pôde voltar a se registrar oficialmente.
A formação decidiu apresentar candidatos nestas eleições parciais para renovar os 48 assentos vagos nas duas câmaras do Parlamento e nas assembleias regionais. Os assentos foram deixados por representantes nomeados ministros.
As potências ocidentais, que saudaram as reformas, mas mantiveram alguma cautela, pediram a Mianmar que organize as eleições de acordo com as normas democráticas internacionais. Uma das figuras mais importantes do novo governo civil prometeu isso.
"Eu garanto que as eleições serão livres e justas", disse na segunda-feira Shwe Mann, presidente da Câmara Baixa do Parlamento e ex-número três da junta, em entrevista à AFP.
E "se Suu Kyi vencer as eleições de abril, teremos a oportunidade de discutir, eu espero", acrescentou.