Jornal do Brasil
PEQUIM - Cerca de 13 milhões de abortos são realizados a cada ano na China, em parte devido à desinformação entre os jovens a respeito de métodos contraceptivos e doenças sexualmente transmissíveis.
De acordo com o jornal estatal China Daily, citando um levantamento feito por um hospital do Exército em Xangai, menos de um em cada três usuários de um serviço de consultas telefônicas sabe como evitar uma gravidez, e apenas um em cada cinco tinham informações sobre doenças venéreas, informou o jornal. De acordo com médicos e pesquisadores entrevistados pelo jornal, se os abortos não declarados e os induzidos por medicações também pudessem ser contabilizados, o número seria substancialmente mais alto.
O sexo não é mais considerado tabu entre os jovens hoje, e eles acreditam que podem aprender tudo o que precisam através da internet. Mas isso não significa que tenham desenvolvido um entendimento ou uma atitude adequada perante isso avaliou ao jornal o ginecologista Yu Dongyan, do Hospital do Exército.
Sun Xiaohong, do departamento de educação do órgão de planejamento familiar de Xangai, disse que é difícil promover a educação sexual nas escolas porque alguns professores e pais acham que isso encorajaria os adolescentes a serem sexualmente ativos.
Internet
No início do mês, o governo chinês começou a vedar o acesso a sites médicos e de pesquisa na internet que tenham conteúdo sexual, como parte de um esforço do governo contra a pornografia online.
A taxa de aborto na China cerca de 24 para cada 1 mil mulheres entre os 15 e 44 anos é menor do que a metade da taxa registrada na Rússia, país com a maior proporção de abortos do mundo, registrando 53,7 procedimentos para cada 1 mil mulheres, de acordo com estatísticas das Nações Unidas. A cada ano, cerca de 2 milhões de abortos são feitos na Rússia, que tem uma população de 142 milhões, comparado a 1,3 bilhão na China.
Mas o aumento no número de abortos na China é significativo. Em 2003, a Organização Mundial de Saúde contabilizou 9 milhões de abortos no país, e um total de 42 milhões em todo o mundo.
Política
A preferência cultural por filhos homens na China, somado à política oficial do governo chinês de, geralmente, autorizar apenas um filho por casal, resulta na prática de abortos seletivos por gênero e consequentemente, uma geração iminente composta por um número muito maior de homens do que de mulheres, de acordo com um artigo recente do British Medical Journal. Pesquisadores descobriram que existem hoje 32 milhões de meninos a mais do que meninas com menos de 20 anos na China um desequilíbrio que deve aumentar nos próximos 20 anos, segundo os pesquisadores.
O aborto é legal na China desde 1953, embora o aborto seletivo por gênero tenha sido banido em 1994. A China também foi o primeiro país a aprovar o uso da mifepristona, composto que induz o aborto e que, na década de 1990, já estava amplamente disponível nas farmácias e no mercado negro do país.
Até a década de 90, os médicos perguntavam o estado civil das pacientes em clínicas um procedimento ligado ao sistema de planejamento familiar que limitava casais urbanos a um só filho apenas. Agora, dados do governo mostram que quase dois terços das mulheres que realizam abortos têm de 20 a 29 anos, e a maioria é solteira. A informação sobre controle de natalidade em geral é passada apenas a jovens casais.
Algumas solteiras também buscam o aborto porque, pela lei atual, elas não poderiam receber um hukou cartão de registro familiar para seus filhos. Sem esse documento, torna-se extremamente difícil obter acesso a educação, saúde e outros serviços no país.