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Após 6 meses, popularidade cai e Obama deve endurecer o tom

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Portal Terra

SÃO PAULO - No dia 21 janeiro, Barack Obama vivia o seu primeiro dia como presidente dos Estados Unidos. Era hora de transformar o sonho - pregado durante a campanha - em realidade. Exatos seis meses depois, e frente aos enormes desafios do governo americano, a popularidade do primeiro líder negro da maior potência mundial tem os primeiros indícios de queda, apesar de ter obtido avanços significativos. Sinal de que a opinião pública talvez não tenha paciência para esperar a resolução de problemas nascidos em outras administrações.

Nos próximos seis meses, Obama deve continuar se movimentando para cumprir algumas das principais promessas de campanha, como a retirada das tropas do Iraque e a reforma dos sistemas imobiliário e de saúde. Para isso, é possível que a sua retórica, aquele que se tornou famosa no mundo inteiro, fique mais endurecida.

- Obama iniciou o governo com uma retórica diferente da implementada pelo (George W.) Bush. No entanto, em função dos problemas da economia e da política de segurança do governo anterior, ele está encontrando dificuldades em mantê-la - afirma a professora de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) Maria Izabel Mallmann.

Por mais que grande parte das atuais insatisfações não seja culpa de Obama, é ele quem está sendo cobrado, diz ela. - O que devemos observar nos próximos meses é um redirecionamento do discurso de Obama, que deve ficar mais duro, parecido com o de Bush - diz Maria Izabel, enfatizando que essa é a forma de obter resultados mais significativos nas frentes do Oriente Médio e da Ásia.

Mariz Izabel acredita que todos os desafios (tanto internos quanto externos) dos Estados Unidos estão, de certa forma, interligados, o que pode tornar a tarefa de Obama ainda mais difícil. - Aquela visão de uma potência com capacidade de se impor ao mundo porque é coesa internamente não existe mais. Quando aparecem investigações internas que também interessam a forças externas, surge mais uma frente de fragilização do poderio americano - analisa. Ela cita como exemplo a transferência dos esforços democratas no Congresso pela reforma da saúde para as investigações sobre as irregularidades da política de segurança do governo George W. Bush.

Em relação à política externa, principalmente em relação à ofensiva contra os talibãs no Afeganistão, a analista acredita que o sucesso vai ser relativo. - Os Estados Unidos devem enfrentar uma resistência parecida com a encontrada no Iraque. Não se trata de simplesmente recuperar o tempo perdido desde 2003, quando começou a campanha contra Saddam Hussein - e os esforços no Afeganistão foram deixados de lado. Esses movimentos (extremistas) estão enraizados naquelas sociedades. Por isso é difícil os americanos se retirarem dos dois lugares sem sequelas - afirma. Apesar disso, a professora da PUC-RS considera que Obama tomou a decisão certa ao voltar a frente de guerra para o Afeganistão.

O pesquisador do Laboratório do Tempo Presente, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Daniel Santiago Chaves também vê a mudança de foco do Iraque para as montanhas afegãs como uma decisão acertada, apesar de não acreditar que o discurso de Obama mude muito nos próximos mses. Segundo ele, o sucesso da ofensiva contra o terrorismo depende de dois pontos. O primeiro já foi assimilado pelo atual presidente: perceber a luta dos Estados Unidos de uma forma diferente da de Bush.

- Os Estados Unidos devem parar de chamar essas ações de guerra contra o terror e concentrar os esforços em localizar quais são os inimigos e quais são as medidas necessárias para combatê-los - afirma. O outro ponto, no entanto, não depende apenas do chefe do executivo. - Uma coisa é o Obama entender como as relações devem ser conduzidas, outra é fazer o maquinário da política externa americana funcionar nesse sentido. Por isso o presidente deve encontrar muita fricção interna para resolver questões delicadas como essa - disse. O mesmo cenário deve pautar as relações com a América Latina nos próximo seis meses, segundo o analista. - Por mais que o Obama tenha vontade de negociar, que tenha uma percepção diferenciada do Bush, ele vai bater de frente com outros interesses dentro do próprio governo - explicou. Já em relação à economia, Chaves vê os Estados Unidos saindo da crise nesse mesmo período.

Para isso, Obama deve se apoiar em quatro eixos fundamentais: emprego, tributação e revisão dos sistemas de saúde de imobiliário. - Isso será feito a partir do conceito defendido por Obama de uma lógica sustentável, de uma economia pautada por uma regulação 'verde'. Ou seja, novos empregos criam competitividade na economia, mas também solidez - acredita.