REUTERS
WASHINGTON - Segundo pesquisas, os democratas norte-americanos caminham para conquistar feitos históricos nas eleições legislativas da próxima terça-feira, bem como para encarar desafios enormes depois disso, desafios a respeito de questões que vão da guerra ao mercado financeiro.
Devido principalmente à imensa impopularidade do atual presidente dos EUA, George W. Bush, e à pior crise econômica do mundo desde a Grande Depressão de 1929, o Partido Democrata pode ampliar seu controle sobre o Senado e a Câmara dos Representantes (deputados), atingindo seus maiores níveis em décadas.
Os democratas podem formar um bloco majoritário no Senado grande o suficiente até mesmo para impedir os republicanos de barrar o trâmite de projetos de lei com manobras procedimentais.
E o Partido Democrata talvez precise desse tipo de privilégio para cumprir as promessas feitas pelo candidato dele à Presidência dos EUA, Barack Obama, que, segundo as pesquisas, encaminha-se para derrotar seu rival do Partido Republicano, John McCain.
- Os democratas terão um período breve para celebrar. Depois, precisarão começar a trabalhar rapidamente - afirmou Paul Light, do Centro para o Estudo do Congresso na Universidade Nova York.
Segundo o deputado Chris Van Hollen, presidente da comissão da campanha democrata para a Câmara dos Representantes, 'haverá muita expectativa'.
- Vamos avançar a toda velocidade, mas temos de administrar as expectativas e explicar que não podemos fazer tudo da noite para o dia - afirmou o deputado.
Os democratas controlam o Congresso há dois anos. No entanto, quando tentaram levar adiante muitos de seus projetos, como o aumento de gastos com a saúde pública ou a retirada de soldados norte-americanos do Iraque, viram-se frustrados pelo veto de Bush ou por manobras procedimentais realizadas pelo senadores republicanos.
Mesmo se ampliarem seu controle sobre o Congresso e se ocuparem a Casa Branca, os democratas vão se deparar com restrições orçamentárias sem precedentes, o que limitará seu espaço de manobra.
- Os problemas são enormes e há muitas coisas que Obama e os democratas podem fazer - disse Andrew Taylor, professor de ciências políticas na Universidade Estadual da Carolina do Norte. 'Mas não há muito dinheiro disponível.'
Entre as promessas de campanha feitas pelos democratas incluem-se tornar os EUA independentes quanto a suas fontes de energia, estimular a economia, reduzir os impostos para a classe média, cancelar os benefícios fiscais concedidos aos mais ricos, dar início à retirada dos soldados norte-americanos do Iraque e aumentar o contingente militar no Afeganistão.
Como fatores que dificultarão esses esforços contam-se um déficit federal recorde, o plano de 700 bilhões de dólares aprovado recentemente pelo governo para resgatar o mercado e a crescente ameaça de uma recessão econômica.
Os democratas, portanto, precisarão unir suas alas mais esquerdistas, moderadas e mesmo conservadoras, particularmente na questão fiscal e a respeito de qualquer grande programa de gastos.
Há ainda diferenças a serem resolvidas entre os membros do partido sobre questões como a energética - alguns defendem ampliar a extração de petróleo em plataformas marítimas; outros discordam dessa alternativa.
Os democratas devem tornar mais rígida a regulamentação federal sobre o setor financeiro dos EUA e aprovar leis vetadas por Bush e que prevêem a ampliação da pesquisa com células-tronco e um programa de atendimento médico para crianças custeado pelo governo federal.
- Se os democratas conquistarem uma ampla maioria na Câmara e no Senado e se Obama vencer, então terão um mandato para realizar mudanças - afirmou Ethan Siegal, do The Washington Exchange, uma empresa que acompanha o funcionamento do Congresso.
Os democratas conquistaram o controle das duas casas em 2006 principalmente por causa da impopular guerra de Bush no Iraque e de casos de corrupção. Os republicanos perderam seis cadeiras no Senado e 30 na Câmara dos Representantes.
Neste ano, como os republicanos vêm sendo responsabilizados pela crise econômica, os democratas têm boas chances de conquistar mais nove cadeiras no Senado, o que lhes daria uma bancada de 60 senadores, o número necessário de votos para acabar com as manobras procedimentais de bloqueio. A última vez em que o partido contou com uma bancada desse tamanho aconteceu 30 anos atrás.