Camila Arêas, Jornal do Brasil
RIO - Berço da civilização, terra da Babilônia e do Jardim de Éden, detentor dos mais importantes sítios arqueológicos e lugares sagrados do islã, com 4 mil anos de tradição, o Iraque tenta recuperar sua História para alcançar um futuro.
A ocupação americana, que durante a invasão em 2003 destruiu grande parte deste patrimônio mundial, é uma ilustração que ganha contornos de passado. Com a retirada total das tropas agendadas para 2011, Bagdá respira e se organiza frente à meta de tornar-se novamente um paraíso turístico.
Com o reforço das tropas contendo grande parte da violência nos últimos meses, e a nova economia flutuando em petrodólares, o governo iraquiano está seguro de que chegou a hora de uma ação concertada para atrair turistas sob o slogan turismo, não terrorismo .
O Iraque foi o império mais poderoso do mundo de 800 a 900 a.C, orgulha-se Hamood al Yakoubi, do Departamento de Turismo:
A Babilônia e as ruínas de Nineveh são citadas na Bíblia, os pântanos do Sul são fascinantes. O potencial está dado. Se a segurança melhorar, é natural que o país reviva seu setor de turismo.
O Ministério do Turismo já declarou que qualquer pessoa, muçulmana ou não, pode tirar um visto em qualquer embaixada iraquiana. E planeja multiplicar suas oficinas pelo mundo nos próximos meses.
O número de peregrinos que hoje viaja a Najaf e Kerbala ultrapassa todos os turistas dos últimos 28 anos, observa McGuire Gibson, professor de arqueologia mesopotâmica da Universidade de Chicago.
Se houver paz, esse número vai crescer rapidamente. E como os iraquianos já sabem como administrar a indústria do turismo, estarão aptos a acomodá-los com novos hotéis ou a reforma dos atuais.
Hotéis como o Palestine onde dezenas de jornalistas que se hospedaram para cobrir a guerra foram feridos quando um tanque americano abriu fogo contra o edifício e o Rashid que durante a a ditadura de Saddam Hussein adornava uma ilustração de George Bush no chão para que os visitantes pisassem em seu rosto estão sendo renovados. Segundo as autoridades, serão substituídos em breve por hotéis sete estrelas de até 23 andares.
Gibson ressalta que o maior desafio aos iraquianos será substituir a equipe treinada no setor turístico:
A maioria dos empregados das maiores redes hoteleiras eram iraquianos cristãos, que deixaram o país em massa nas guerras. O Canal Hotel, construído nos anos 70 para treinar iraquianos, foi tomado pela ONU e bombardeado pelos EUA. Outra infra-estrutura de treinamento terá de ser construída. Claro que se poderá usar mão de obra estrangeira, mas os iraquianos se ressentirão de não ter recebido a oportunidade de reerguer o país.
Delegações iraquianas estão sendo enviadas ao exterior para estudar a indústria turística em países com histórico de guerra. A Irlanda do Norte, berço do grupo separatista IRA, foi o primeiro destino escolhido. Autoridades de Basra visitaram as cidades que assistiram ao boom de visitantes desde que o IRA declarou cessar-fogo. Em setembro, outra delegação retorna ao Norte para aprender mais sobre o processo pós-conflito com Martin McGuinness, negociador do Sinn Féin (braço político do IRA) e hoje vice-ministro chefe da Irlanda do Norte.