Jornal do Brasil
MOSCOU - O enfrentamento armado entre a Rússia e a Geórgia, combinado ao impacto de um incêndio de um gasoduto na Turquia, jogou luz sobre a fragilidade do Cáucaso como zona de trânsito de energia. A região é altamente valorizada pela União Européia como forma de reduzir sua dependência do petróleo e gás russos. Atualmente, a principal rota que leva a energia do Mar Cáspio ao Ocidente sem passar por território russo é através da Geórgia.
O analista Dieter Helm, da Universidade de Oxford, não descarta a hipótese de um corte no abastecimento energético:
A Rússia tem uma estratégia muito clara e preferiria que o gás para a Europa passasse por seu país e não via países independentes.
A UE, cuja demanda energética depende em 25% da Rússia, financia a construção do gasoduto Nabucco, que deve entrar em operação em 2013 e transportar gás do Mar Cáspio à Europa por meio da Turquia.
Cerca de 850 mil barris de petróleo por dia pararam de atravessar o gasoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan semana passada, depois da explosão reivindicada pelo separatista Partido dos Trabalhadores do Curdistão.
Horas depois de a Rússia bombardear a Geórgia, navios cargueiros foram vetados de trafegar pelo Mar Negro, sumindo dos portos de Poti e Batumi, normalmente usados para exportar petróleo à região. No início de agosto, as exportações locais somaram 1,3 milhões de barris diários. Semana passada, a marca caiu para 350 mil barris, de acordo com autoridades e exportadores.
Helm avalia que o atual conflito sublinha a necessidade de os governos assumirem o controle das riquezas energéticas da região.
Para a Europa, a lição está clara. Nabucco e projetos a ele relacionados não podem ser deixados inteiramente às companhias privadas. Os recursos do Cáspio precisam da proteção dos governos.
Expansão militar
O grupo de análise militar britânico Jane's alertou nesta segunda-feira para o fato de que a guerra no Cáucaso corre o risco de se expandir à medida que Moscou busque destruir ainda mais as capacidades militares da Geórgia, aumentando seu foco na direção de Abkhásia, outra região no centro dos conflitos separatistas.
Uma operação militar russa em Abkhásia para expulsar as forças georgianas do desfiladeiro de Kodori parece provável assinalou Matthew Clements, editor da revista para Europa e Ásia. Atualmente a Rússia está expulsando o Exército georgiano de Kodori Gore, que é a porta de acesso a Abkhásia vindo do Leste, e depois poderia provocar uma resposta militar das tropas da Geórgia posicionadas no Sul desta localidade.
Cresce o consenso entre os analistas de que o conflito se torne um enfrentamento Oriente-Ocidente porque, ainda que a Geórgia não disponha de recursos próprios de hidrocarbonetos, é a desembocadura do petróleo do Mar Cáspio.