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Em Xangai, Lula defende moeda única do BRICS, questiona uso do dólar e diz que FMI 'asfixia países'

Presidente acredita que o NDB pode ser a alternativa ao FMI, uma vez que ao emprestar dinheiro, o fundo "acha que pode administrar a economia dos países". Mandatário também questionou uso do dólar: "Por que não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda? Quem é que decidiu que era o dólar?"

Por JB INTERNACIONAL
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Publicado em 13/04/2023 às 10:37

Alterado em 13/04/2023 às 11:09

Lula e comitiva em Xangai Ricardo Stuckert

Nesta quinta-feira (13), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da cerimônia de posse da nova presidência do Novo Banco do Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco do Brics, que passou a ser chefiado por Dilma Rousseff.

Ao longo de seu discurso, Lula indagou por que o Brics precisa do dólar, e defendeu uma moeda própria para o bloco, uma vez que pode trazer uma situação mais tranquila para os países.

"Por que não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda? Quem é que decidiu que era o dólar? Nós precisamos ter uma moeda que transforme os países numa situação um pouco mais tranquila, porque hoje um país precisa correr atrás de dólar para exportar", afirmou o presidente.

 

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Lula discursa na China (Foto: Ricardo Stuckert)

 

Lula ainda reafirmou a pergunta, do "por que o Brics não pode ter uma moeda que possa financiar a relação comercial entre Brasil e China, entre o Brasil e os outros países?"- perguntou. "Eu acho que o século XXI pode nos ajudar, quem sabe, a fazer as coisas [de maneiras] diferentes", complementou.

Entretanto, o mandatário admitiu que "é difícil, porque tem gente mal acostumada", mas também é necessário não apressar a mudança, voltando-se para Dilma e sugerindo que ela aprenda com a "paciência" da China, publica a "Folha de S. Paulo".

"O Banco do Brics representa muito para quem sonha com um novo mundo, para quem tem consciência da necessidade de desenvolvimento e que, portanto, precisa de dinheiro para fazer os investimentos", acrescentou.

Lula acredita que o NDB pode ser uma alternativa ao Fundo Monetário Internacional (FMI), visto que, quando o FMI empresta dinheiro a países em desenvolvimento, "se sente no direito de mandar, de administrar a conta do país".

"Não cabe ficar asfixiando as economias como estão fazendo agora com a Argentina, o FMI. Nenhum governante pode trabalhar com uma faca na garganta porque está devendo. Os bancos têm que ter paciência e, se for preciso, renovar os acordos. O FMI ou qualquer outro banco, quando empresta para um país do Terceiro Mundo, as pessoas se sentem no direito de mandar, de administrar a conta do país. Como se os países virassem reféns daquele que emprestou dinheiro", afirmou.

O presidente também criticou os obstáculos à ampliação do poder das economias emergentes no FMI e no Banco Mundial, e defendeu a expansão do número de integrantes do NDB, afirmando que Dilma dará impulso à mudança.

Dilma endossou o discurso de Lula e disse que pretende ampliar o recurso às moedas dos próprios integrantes também para os investimentos a serem aprovados.

"Buscaremos financiar nossos projetos em moedas locais, privilegiando os mercados domésticos", disse Dilma, acrescentando que vai buscar "construir alternativas financeiras robustas".

Ao mesmo tempo, Lula afirmou que que o NBD pode ser "o grande banco do Sul Global".

Após a posse, o presidente e sua comitiva de congressistas seguiram para fábrica da Huawei, onde foram recebidos por representantes da empresa e testaram alguns produtos da marca.

A Huawei Technologies, considerada pelos Estados Unidos um risco à segurança, é uma empresa privada que se vê no centro das disputas sino-americanas. A decisão de Lula de visitar a gigante chinesa atendeu a um convite feito pela empresa, que está presente no Brasil há mais de 20 anos.

A agenda do petista à China tem gerado incômodo junto a diplomatas americanos, segundo relatos feitos à CNN.

Vale lembrar que em 2021, a administração Biden, representada pela visita do conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, a Brasília, disse ao então governo Bolsonaro que o Brasil poderia ser parceiro global da OTAN se abandonasse a tecnologia 5G da Huawei, conforme noticiado. (com Sputnik Brasil)