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Ditador egípcio por quase 30 anos, Mubarak morre aos 91

Reuters -
Mubarak
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Um dos ditadores mais emblemáticos do mundo árabe, o egípcio Hosni Mubarak morreu nesta terça-feira (25), aos 91 anos, informou a televisão estatal do país. Ele comandou o Egito por quase 30 anos e só caiu após protestos em massa contra o regime, em 2011, no que viria a ser a Primavera Árabe.

No ano seguinte, Mubarak foi condenado à prisão perpétua pela morte de manifestantes durante a onda de protestos. Cumpriu boa parte da pena em um hospital militar, até que em 2017 uma corte de apelações revogou a sentença. Assim, foi solto e passou os últimos anos em casa.

Desde sua renúncia, o estado de saúde de Mubarak era objeto de especulações e informações contraditórias que citavam depressão, câncer ou problemas cardíacos.

O ex-ditador foi hospitalizado diversas vezes desde que abandonou o poder. Ele havia sido submetido a uma cirurgia fazia algumas semanas.

DE PILOTO A DITADOR

Filho de um funcionário público, Mohammed Hosni El Sayed Mubarak nasceu em uma vila no delta do rio Nilo em 4 de maio de 1928, quando o Egito ainda estava sob supervisão do Reino Unido, que controlava o canal de Suez.

Detalhes sobre o início de sua vida são pouco conhecidos. Ele se formou como piloto em 1950 e depois passou mais de dois anos na União Soviética, treinando como disparar bombas a partir do ar.

Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, ataques israelenses destruíram boa parte da Força Aérea do Egito. Mubarak foi, então, nomeado chefe da academia da Aeronáutica, tendo como missão recuperar o que havia sido perdido e, assim, poder revidar.

Tornou-se chefe da Força Aérea em 1972 e, no ano seguinte, comandou ataques a Israel durante a Guerra do Yom Kippur. O Egito perdeu a guerra, mas conseguiu obter o controle do Canal de Suez nas negociações após o conflito.

Em 1975, ascendeu à vice-presidência do país, sob comando de Anwar Sadat. Seis anos mais tarde, em 1981, o presidente foi morto a tiros por ativistas islâmicos contrários às negociações feitas com Israel. Sadat estava em um desfile militar. Mubarak, ao lado dele na cerimônia, sobreviveu.

O então vice conseguiu controlar a situação caótica após o assassinato e passou a chefiar o Egito de modo autoritário. Nos anos 1980, enviou o Exército para reprimir motins contra o regime. Também retomou as relações com outros países árabes que criticavam o Egito pela forma como o país se relacionava com Israel.

Com apoio financeiro dos EUA, não voltou a atacar Israel, e Mubarak atuou como mediador entre israelenses e palestinos durante muitos anos.

Em 1989, o Egito foi readmitido na Liga Árabe. Suas ações, no entanto, irritaram muitos líderes no Oriente Médio. Depois que extremistas do Hamas tomaram o controle da faixa de Gaza, que fica na fronteira com o Egito, em 2007, Mubarak apoiou o bloqueio israelense ao território.

Ataques de radicais islâmicos no Egito, inclusive em áreas turísticas, tornaram-se justificativas para manter um Estado autoritário. Mubarak também sobreviveu a várias tentativas de assassinato. Em 1995, por exemplo, atiradores dispararam contra seu carro em uma visita à Etiópia.

A QUEDA

Sua última década no poder teve momentos de crescimento econômico, motivadas por reformas supervisionadas por seu filho Gamal. No entanto, a corrupção fez com que boa parte da riqueza gerada ficasse com a elite próxima ao governo, aos militares e ao partido NDP.

Em 2010, o NDP tentou exigir 90% das cadeiras do Parlamento, de modo a expulsar a Irmandade Muçulmana da Casa. Esse ato gerou revolta na população que, estimulada pela revolta ocorrida semanas antes na Tunísia, foi para as ruas.

Em seguida, generais retiraram o apoio ao governo. Os Estados Unidos e outros governos ocidentais também ficaram do lado dos manifestantes. Isolado, renunciou ao cargo e, em seguida, foi preso.

Seu julgamento começou em agosto de 2011. Ele foi apresentado à corte em uma maca e dentro de uma jaula. No ano seguinte, foi condenado à prisão perpétua e enviado para uma detenção no Cairo.

Em junho de 2012, condenado à prisão perpétua, foi enviado para uma detenção no Cairo e mais tarde transferido a um hospital militar.

Naquele ano, Mohamed Mursi, ligado à Irmandade Muçulmana, foi eleito presidente do Egito, mas acabou derrubado pelos militares no ano seguinte. Desde então, o país é liderado pelo general Abdel Fattah al-Sisi.

Sob o novo regime ditatorial, as condenações de Mubarak foram revistas. Libertado em 2017, passou a morar nos arredores do Cairo, em um bairro próximo ao palácio presidencial que ocupou durante quase 30 anos.

REPERCUSSÃO

O regime de Sisi decretou três dias de luto devido à morte de Mubarak e divulgou um comunicado no qual chama o ex-ditador de "líder militar e herói de guerra".

No entanto, o anúncio de sua morte, feito pela TV estatal, foi sucedido de críticas. Segundo a emissora, faltou "visão mais abrangente" a Mubarak por ter criado cidades no deserto e gastado com estradas mal planejadas as quais era obrigado a reparar depois.

Para Timothy Kaldas, analista do Tahrir Institute for Middle East Policy, a cobertura oficial tentou destacar a corrupção sob Mubarak para enfraquecer o sentimento de nostalgia entre muitos egípcios em relação a seu período no poder.

No plano externo, o chanceler dos Emirados Árabes Unidos, Anwar Gargash, afirmou que o mundo árabe perdeu um estadista. O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, expressou "profundo pesar" pela morte de Mubarak, a quem chamou de "meu amigo pessoal" e "líder que conduziu sua nação para a paz e a segurança".

O ex-ditador era aliado de Israel, pois manteve o acordo de paz firmado por seu antecessor, Anwar Sadat. Além disso, perseguia a Irmandade Muçulmana, cuja ascensão era temida pelos israelenses.

O EGITO SOB MUBARAK

4.mai.1928 - Mohamed Hosni Mubarak nasce em uma família de agricultores do delta do Nilo

1950 - Forma-se na Academia Militar e se integra à Força Aérea

1972 - Torna-se comandante da Aeronáutica

1975 - O presidente Anuar Sadat o indica como seu vice

6.out.1981 - Sadat morre em um atentado a tiros num desfile militar; ao lado dele, Mubarak sobrevive, assume o poder e reimpõe o estado de emergência, restringindo atividades políticas e a liberdade de expressão

2005 - Após meses de protestos, um referendo aprova emenda à Constituição que derruba o limite de candidaturas nas eleições presidenciais

nov. 2010 - Oposição denuncia fraude em eleição parlamentar; Irmandade Muçulmana, que tinha um quinto das cadeiras, não obtém nenhum assento

jan.2011 - Após protestos derrubarem o ditador Ben Ali, na Tunísia, atos contra Mubarak tomam as ruas do Cairo, no que viria a ser a Primavera Árabe

11.fev.2011 - Pressionado pelas ruas, Mubarak anuncia sua renúncia e transfere o poder para um conselho do Exército

ago.2011 - Deitado em uma maca e dentro de uma jaula, ex-ditador vai a júri, acusado de corrupção e de ordenar a morte de manifestantes

mai.2012 - Forças Armadas encerram o estado de emergência, que perdurou por toda a era Mubarak

jun.2012 - Tribunal condena Mubarak à prisão perpétua

mar.2017 - Após várias idas e vindas no Judiciário, a mais alta corte de apelações do Egito absolve Mubarak, que cumpria pena em um hospital militar

25.fev.20 - Mubarak morre aos 91 anos (FolhaPressSNG)

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